domingo, 3 de julho de 2011

Mensagens subliminares - II

Você já deve ter ouvido falar sobre mensagens subliminares, tem uma noção ou talvez nem saiba o que é, mas ainda existem pessoas que fazem muita confusão sobre este assunto.

Mensagem Subliminar não é necessariamente coisa do demo, satânica ou muito menos uma espécie de "macumba gráfica" para conseguir coisas ou controlar as pessoas. Pelo menos ela não funciona desse jeito.

O princípio de tudo está em nosso subconsciente, que registra fielmente tudo em nossa vida, o que vemos, sentimos, pensamos, sonhamos, ouvimos, falamos... Tudo.

Antes, vamos a uma breve explicação do que é Mensagem Subliminar:

"As Mensagens Subliminares são usadas quase que sempre para fins publicitários, e resumem-se na tentativa de passar uma informação ou idéia para um grupo de pessoas, de uma maneira abaixo do nível do consciente."

Melhor explicando, a mensagem, quando passada abaixo do nível consciente, passa a ser aceita pela pessoa que a recebe pois não encontra resistência ou oposição, que é criada por nós apenas quando estamos no estado consciente. Um exemplo disso é o sono. Quando sonhamos, deixamos nosso estado consciente e aceitamos tudo como se fosse real, sem oferecer resistência ou oposição.

É assim que a mensagem subliminar funciona. Posso dar um exemplo: Você, quando jovem, soube que existia o sexo e logo viu que era uma coisa boa. E assim ficou no seu subconsciente, sexo é uma coisa boa. OK, mas logo vieram te dizer que era para esquecer isso, que sexo era uma coisa feia. Simplesmente "enterraram" (bloquearam) a informação anterior de que sexo era uma coisa boa. E esse bloqueio ficou no seu inconsciente, uma espécie de co-piloto.

Sendo assim, a mensagem subliminar ultrapassa essas barreiras do consciente e do inconsciente e vai direto à informação de que ela necessita (no caso, de que sexo é uma coisa boa), que se encontra no nosso subconsciente, que tudo registra fielmente, não obtendo resistência ou oposição.

A mensagem subliminar pode ser inserida em vários meios: vídeos, músicas, figuras e até em textos.

No caso dos vídeos, o que geralmente se encontra é a inserção de subliminares em apenas alguns quadros, sem que quem esteja vendo perceba a mensagem no tempo normal do vídeo (propaganda televisiva, filme, etc.), fazendo com que a mensagem inserida seja "gravada" pelo nosso subconsciente. O que acontece é que quando se grava um vídeo, as imagens são divididas em quadros e, pelo o que eu sei, por segundo, existem cerca de 30 quadros. Sendo assim, se colocarem uma mensagem do tipo "use tal produto" ou "você quer tal coisa", logo essa mensagem será lida pelo seu subconsciente e você irá agir de acordo com o que a mensagem pede como se você mesmo estivesse querendo aquele produto por decisão própria.

Nas músicas, posso citar três formas de como se usam subliminares: uma é conhecida por backward masking, em que se grava uma fala e se coloca na música, mas invertida. Você não entenderia nada se ouvisse mas seu subconsciente sim. A segunda é bem interessante: existem freqüências inaudíveis ao ouvido humano, como aquelas que só os cães, por exemplo, que possuem a audição mais apurada que a nossa, podem ouvir. Então, coloca-se algo nessa faixa de freqüência da música e você certamente não vai ouvir, menos seu subconsciente, que registra tudo fielmente. A terceira é a mais sem graça delas: simplesmente colocam uma fala dum jeito tão rápido que você também não iria nem perceber Mas seu subconsciente... sim.

Subliminar nos textos é bem fácil. Veja:

Votei no fulano devido à sua plataforma
de governo. Educação, saúde e cadeia pra ladrão.

Não entendeu? Vou te explicar: viu as palavras em negrito? Elas é que são a subliminar. Em um texto simples, falando bem de um tal fulano, simplesmente disse que ele é ladrão. Parece besteira, mas seu subconsciente assimila as palavras fulano e ladrão facilmente, nesse caso, pois estão em negrito. Isso também poderia aparecer de uma outra maneira, como em um discurso em que se dá ênfase às palavras em negrito dessa frase.

Exemplos

Alguns desses exemplos nem mesmo são mensagem subliminar. Podem apenas se tratar de mais uma forma de expressão de Arte, uma mensagem subliminar não-intencional ou um mero engano.... Mesmo assim, com eles, você entenderá de maneira bem fácil como a mensagem subliminar pode ser inserida e feita.

As armadilhas das Artes

Muitos dizem que existem mensagens subliminares em pinturas, mas isso não é totalmente verdade. Existe a mensagem subliminar sim mas, como a Arte procura maneiras e maneiras de se expressar, seria mais certo dizer que é mais uma maneira que o artista encontrou para expressar sua arte e não uma forma que o artista encontrou para influenciar as pessoas sem encontrar resistência, que é o caso das mensagens subliminares.

Neste primeiro caso, mostro um pintura que parece simples, mas ela esconde algo mais.




Também não consegui identificar o que tinha a mais da primeira vez que vi. Se você também não conseguiu, veja a figura abaixo.




Pois é. É a silhueta de Napoleão. Não é necessariamente uma mensagem subliminar, mas não deixa de ser um exemplo de como ela pode aparecer.

Agora, aqui você vai ver como um pintor conseguiu colocar uma caveira em sua pintura sem que ela fosse perceptível à primeira vista. A estória que eu lembro ter lido dessa pintura era de que o pintor queria mostrar que um reinado da época estava por acabar ou coisa desse tipo. Aí está a caveira:




E aqui está essa caveira na pintura:




Essa pintura, pelo o que eu me lembro, é uma pintura de Salvador D'ali, se é esse o nome. Nele dá pra ver um rosto mas ele é formado pelo o que seria duas freiras; os olhos são o rosto dessas freiras. Pode-se ver também outras imagens ocultas, como um rapaz ajoelhado no canto inferior esquerdo da pintura.




Poderíamos chamar essa pintura de O casal e o bebê. Mas... Bebê? Que bebê? Também demorei para perceber a "mensagem subliminar" nessa pintura quando a vi pela primeira vez, mas vou te dizer: o bebê está representado subliminarmente através da árvore e seus galhos. Perfeito, eu diria. Note a idéia que a pintura passa, junto dessa "mensagem subliminar": o casal está junto e abraçado, mostrando união e companheirismo, olhando o que seria seu futuro, um belo e tranqüilo horizonte. E quem faz parte desse belo e tranqüilo horizonte? O bebê que está por vir.




Enganos, enganos...

Essa mensagem subliminar foi uma das últimas que eu peguei na net e, pelo o que eu li, os suecos olharam para a moeda de dois Euros e disseram: Ei! Qual é?! Nosso país nessa moeda tá parecendo um pênis! Isso é uma mensagem subliminar! Blá, blá, blá...

Eles tinham razão, mas não muito. A figura de um pênis é muito usada em mensagens subliminares, mas não foi esse o caso. Poderíamos dizer que essa foi uma mensagem subliminar não-intencional pois, mesmo parecendo um pênis, quem o fez não tinha a intenção de colocá-lo como mensagem subliminar ou talvez isso nem passou pela(s) cabeça(s) dessa(s) pessoa(s).




E está aí o mapa da Europa com os países que adotaram o Euro (os mesmos que estão na moeda) em destaque para comprovar isso. E não é que a Suécia parece mesmo um pênis?




Cuidado!

Muita mensagem subliminar pode estar por aí e você, mesmo já entretido no assunto, pode nem suspeitar dela. Por exemplo, programas de televisão. Nunca nem ouvi falar em alguma mensagem subliminar em algum programa de TV, mas isso não quer dizer que não pode haver alguma. Como exemplo, mostro imagens de um telejornal de uma televisão Espanhola, a TVE. Nesse caso, é um telejornal, um programa destinado a informar as pessoas mas, imagina se, em uma notícia importante como as eleições para presidente, num fundo onde aparecem e desaparecem palavras como notícias, eleições, esporte, política, economia, mundo, etc., apareçam palavras menores (mais difíceis de se ler) como vote, candidato tal, tal número, etc. Pode parecer difícil de se acontecer, mas não é impossível, não é?

No caso das figuras abaixo, não posso dizer se há alguma mensagem subliminar pois não tenho nenhuma informação sobre elas. Coloquei mais para servir de exemplo de como as mensagens subliminares podem ser aplicadas.




Aprenda

Quer fazer sua própria mensagem subliminar? Aqui está um exemplo bastante simples para você aprender. Não é exatamente mensagem subliminar pois dá pra perceber fácil a diferença de cores nas palavras, mas imagina se todas fossem de uma só cor, as palavras filho da puta, porco e mau caráter estariam escondidas, só apareceriam para o seu zeloso subconsciente, fazendo com que você associasse estas expressões sem questioná-las.




Latricério

Tinha um linguajar difícil, o Latricério. Já de nome era ruinzinho, que Latricério não é lá nomenclatura muito desejada. E era aí que começavam os seus erros.

Foi porteiro lá do prédio durante muito tempo. Era prestativo e bom sujeito, mas sempre com o grave defeito de pensar que sabia e entendia de tudo. Aliás, acabou despedido por isso mesmo.

Um dia enguiçou a descarga do vaso sanitário de um apartamento e ele achou que sabia endireitar. O síndico do prédio já ia chamar um bombeiro, quando Latricério apareceu dizendo que deixassem por sua conta. Dizem que o dono do banheiro protestou, na lembrança talvez de outros malfadados consertos feitos pelo serviçal porteiro. Mas o síndico acalmou-o com esta desculpa excelente:

- Deixe ele consertar, afinal são quase xarás e lá se entendem.

Dono da permissão, o nosso amigo - até hoje ninguém sabe explicar por quê - fez um rápido exame no aparelho em pane e desceu aos fundos do edifício, avisando antes que o defeito era "nos cano de orige".

Lá embaixo, começou a mexer na caixa do gás e, às tantas, quase provoca uma tremenda explosão. Passado o susto e a certeza de mais esse desserviço, a paciência do síndico atingiu o seu limite máximo e o porteiro foi despedido.

Latricério arrumou sua trouxa e partiu para nunca mais, deixando tristezas para duas pessoas: para a empregada do 801, que era sua namorada, e para mim, que via nele uma grande persongagem.

Lembro-me que, mesmo tendo sido, por diversas vezes, vítima de suas habilidades, lamentei o ocorrido, dando todo o meu apoio ao Latricério e afirmando-lhe que fora precipitação do síndico. Na hora da despedida, passei-lhe às mãos uma estampa do American Bank Note no valor de quinhentos cruzeiros, oferecendo ainda, como prêmio de consolação, uma horrenda gravata, cheia de coqueiros dourados, virgem de uso, pois nela não tocara desde o meu aniversário, dia em que o Bill - o americano do 602 - a trouxera como lembrança da data.

Mas, como ficou dito acima, Latricério tinha um linguajar difícil, e é preciso explicar por quê. Falava tudo errado, misturando palavras, trocando-lhes o sentido e empregando os mais estranhos termos para definir as coisas mais elementares. Afora as expressões atribuídas a todos os "malfalantes", como "compromisso de cafiaspirina", "vento encarnado", "libras estrelinhas", etc., tinha erros só seus.

No dia em que estiveram lá no prédio, por exemplo, uns avaliadores da firma a quem o proprietário ia hipotecar o imóvel, o porteiro, depois de acompanhá-los na vistoria, veio contar a novidade:

- Magine, doutor! Eles viero avalsá as impoteca!

É claro que, no princípio, não foi fácil compreender as coisas que ele dizia mas com o tempo, acabei me acostumando. Por isso não estranhei quando os ladrões entraram no apartamento de Dona Vera, então sob sua guarda, e ele veio me dizer, intrigado:

- Não compreendo como eles entraro. Pois as portas tava tudo "aritmeticamente" fechadas.

Tentar emendar-lhe os erros era em pura perda. O melhor era deixar como estava. Com sua maneira de falar, afinal, conseguira tornar-se uma das figuras mais populares do quarteirão e eu, longe de corrigir-lhe as besteiras, às vezes falava como ele até, para melhor me fazer entender.

Foi assim no dia em que, com a devida licença do proprietário, mandei derrubar uma parede e inaugurei uma nova janela, com jardineira por fora, onde pretendia plantar uns gerânios. Estava eu a admirar a obra, quando surgiu o Latricério para louvá-la.

- Ainda não está completa - disse eu - falta colocar umas persianas pelo lado de fora.

Ele deu logo o seu palpite:

- Não adianta, doutor. Aí bate muito sol e vai morrê tudo.

Percebi que jamais soubera o que vinha a ser persiana e tratei de explicar à sua moda:

- Não diga tolice, persiana é um negócio parecido com venezuela.

- Ah, bem, venezuela - repetiu.

E acrescentou:

- Pensei que fosse "arguma pranta".
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

A casa demolida

Seriam ao todo umas trinta fotografias. Já nem me lembrava mais delas, e talvez que ficassem para sempre ali, perdidas entre papéis inúteis que sabe lá Deus por que guardamos.

Encontrá-las foi, sem dúvida, pior e, se algum dia imaginasse que havia de passar pelo momento que passei, não teria batido fotografia nenhuma. Na hora, porém, achara uma boa idéia tirar os retratos, única maneira — pensei — de conservar na lembrança os cantos queridos daquela casa onde nasci e vivi os primeiros vinte e quatro felizes anos de minha vida.

Como se precisássemos de máquina fotográfica para guardar na memória as coisas que nos são caras!

Foi nas vésperas de sair, antes de retirarem os móveis, que me entregara à tarefa de fotografar tudo aquilo, tal como era até então. Gastei alguns filmes, que, mais tarde revelados, ficaram esquecidos, durante anos, na gaveta cheia de papéis, cartas, recibos e outras inutilidades.

Esta era a escada, que rangia no quinto degrau, e que era preciso pular para não acordar Mamãe. Precaução, aliás, de pouca valia, porque ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau e não se recolhesse, convencido que chegava sem fazer barulho.

A idéia de fotografar este canto do jardim deveu-se — é claro — ao banco de madeira, cúmplice de tantos colóquios amorosos, geralmente inocentes, que eram inocentes as meninas daquele tempo. Ao fundo, quase encostado ao muro do vizinho, a acácia que floria todos os anos e que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental". As flores, quando vinham, eram tantas, que não havia motivo de ciúmes, quando alguns galhos amarelos pendiam para o outro lado do muro. Mesmo assim, ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança.

Isto aqui era a sala de jantar. A mesa grande, antiga, ficava bem ao centro, rodeada por seis cadeiras, havendo ainda mais duas sobressalentes, ao lado de cada janela, para o caso de aparecerem visitas. Quando vinham os primos recorria-se à cozinha, suas cadeiras toscas, seus bancos... tantos eram os primos!

Nas paredes, além dos pratos chineses — orgulho do velho — a indefectível "Ceia do Senhor", em reprodução pequena e discreta, e um quadro de autor desconhecido. Tão desconhecido que sua obra desde o dia da mudança está enrolada num lençol velho, guardada num armário, túmulo do pintor desconhecido.

Além das três fotografias — da escada, do jardim e da sala de jantar — existem ainda uma de cada quarto, duas da cozinha, outra do escritório de Papai. O resto é tudo do quintal. São quinze ao todo e, embora pareçam muitas, não chegam a cumprir sua missão, que, afinal, era retratar os lugares gratos à recordação.

O quintal era grande, muito grande, e maior que ele os momentos vividos ali pelo menino que hoje olha estas fotos emocionado. Cada recanto lembrava um brinquedo, um episódio. Ah Poeta, perdoe o plágio, mas resistir quem há-de? Gemia em cada canto uma tristeza, chorava em cada canto uma saudade. Agora, se ainda morasse na casa, talvez que tudo estivesse modificado na aparência, não mais que na aparência, porque, na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo.

Rasgo as fotografias. De que vale sofrer por um passado que demoliram com a casa? Pedra por pedra, tijolo por tijolo, telha por telha, tudo se desmanchou. A saudade é inquebrantável, mas as fotografias eu também posso desmanchar. Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa.

Olha, Manuel Bandeira: a casa demoliram, mas o menino ainda existe.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: Texto extraído do livro "A casa demolida", Editora do Autor — Rio de Janeiro, 1963, pág. 09.