terça-feira, 12 de julho de 2011

O sabiá do Almirante


O Almirante gostava muito de ir ao cinema na sessão de oito às dez. Era um Almirante reformado e mui­to respeitado na redondeza por ser bravo que só bode no escuro. Naquela noite, quando se preparava para ir pro ci­nema, a empregada veio correndo lá de dentro, apavorada:

— Patrão, tem um homem no quintal.

Era ladrão. Pobre ladrãozinho. O Almirante pegou o 45, que tinha guardado na mesinha de cabeceira e saiu bufando para o quintal. Lá estava o mulato magricela, en­colhido contra o muro, muito mais apavorado que a do­méstica acima referida. O Almirante encurralou-o e deu o comando com sua voz retumbante:

— Se mexer leva bala, seu safado.

O ladrão tratou de respirar mais menos, sempre na encolha. E o Almirante mandou brasa:

— Isto que está apon­tado para você é um 45. Seu eu atirar te faço um furo no peito, seu ordinário. Agora mexe aí para ver só se eu não te mando pro inferno.

O ladrão estava com uma das mãos para trás e o Al­mirante desconfiou:

- Não tente puxar sua arma, que sua cabeça vai pe­los ares.

- Não é arma não — respondeu o ladrão com voz tímida: — É o sabiá.

- Ah... um ladrão de passarinho, hem? — vociferou o Almirante.

E, de fato, o Almirante tinha um sabiá que era o seu orgulho. Passarinho cantador estava ali. Elogiadíssimo pelos amigos e vizinhos. Era um gozo ouvir o bichinho quando dava seus recitais diários.

Vendo que o outro era um covarde o Almirante re­solveu humilhá-lo:

- Pois tu vais botar o sabiá na gaiola outra vez, vaga­bundo. Vai botar o sabiá lá, vai me pedir desculpas por tentar roubá-lo e depois vai me jurar por Deus que nunca mais passa pela porta da minha casa. Aliás, vai jurar que nunca mais passa por esta rua. Tá ouvindo?

O ladrão tava. Sempre de cabeça baixa e meio enco­lhido, recolocou o sabiá na gaiola. Jurou por Deus que nunca mais passava pela rua e até pelo bairro. O Almirante enfiou-lhe o 45 nas costelas e obrigou-o a pedir descul­pas a ele e à empregada. Depois ameaçou mais uma vez:

- Agora suma-se, mas lembre-se sempre que esta arma é 45. Eu explodo essa sua cabeça se o vir passando perto da minha casa outra vez. Cai fora.

O ladrão não esperou segunda ordem. Pulou o muro como um raio e sumiu.

O Almirante, satisfeito consigo mesmo, guardou a arma e foi pro cinema. Quando voltou, o sabiá tinha desaparecido.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Liberdade Liberdade!


Andando nu pelo apartamento já gozava a sen­sação de liberdade tantas vezes  sonhada. Entrou no ba­nheiro e meteu a mão dentro da banheira, sentindo a tem­peratura da água. Estava tépida, acariciante como espuma de sabonete em anúncio de televisão.

Fechou as torneiras e foi se enfiando na banheira devagarinho, prolongando o prazer. A água, por causa daquela lei de Arquimedes que muitos pensam chamar-se "Eureka", começou a transbor­dar e a molhar o chão.

Dane-se! Que tudo se molhasse à vontade; estava sozinho em sua casa, podia fazer o que quisesse.

Puxa vida! Solteiro outra vez!

Sorriu satisfeito e ficou olhando o próprio umbigo.

Onde estaria aquela chata agora? Bem... não teve tem­po de ir muito longe. Provavelmente na casa da mãe, aquela velha cretina. Laurinha, nas brigas que tiveram ao lon­go daqueles seis anos de casamento, sempre ia para a casa da mãe.

Pouco importava para onde tinha ido. Ah... esta ti­nha sido a briga definitiva. Enfim, só! O homem, quando casa, tem duas alegrias: na primeira noite, em companhia da mulher, quando murmura carinhoso "enfim, sós!", e na primeira noite depois que a mulher se mandou, quan­do murmura aliviado "enfim, só!".

Achou o pensamento um bocado filosófico e voltou a se interessar pelo umbigo, testemunha muda, constante e próxima de sua vida conjugai:

— Quanta chateação, hem, compadre? — perguntou ele ao umbigo, falando alto, assustando-se com o som da própria voz. Epa, assim, não! Falando sozinho iam pensar para que era maluco. Ora, mas não havia mais ninguém ali para achar qualquer coisa a seu respeito. Se houvesse alguém já tinha dado o teco. E lembrou-se que nunca demorava assim no banho como estava demorando agora, porque a voz esganiçada de Laurinha viria lá do corredor, pra chatear:

— Vai ficar morando no banheiro, vai?

De repente começou a fazer planos. Laurinha tinha se mandado de vez — isto era ponto pacífico. Arrumaria o apartamento a seu modo. Contrataria um mordomo; sem­pre achou o detalhe bacanérrimo. Um cara que cuidasse de suas roupas, seus compromissos sociais, que nem na­quele filme do Jack Lemmon, que o mordomo se interes­sa até pela comida que o patrão comia.

O umbigo estava estufado, olha só... andava comen­do demais. Também, com aquela vida chata que estava levando, emagrecer pra quê? Mas contrataria um cara pri­meiro time, desses que se orgulham de servir um patrão alinhado, como ele. Em primeiro lugar, mandaria fazer uns ternos novos, organizaria um barzinho na varanda, cheio de bossinhas, para receber os amigos. Os amigos e as amigas. Garotas bem desinibidas, indo à cozinha pre­parar canapés. Ia ser o máximo.

Saiu do banho e imaginou-se sendo enrolado, pela solicitude do mordomo, numa tremenda toalha felpuda de cores berrantes. Atravessou o corredor molhando o tapete. Azar o dele... e entrou no quarto. A cama poderia ser a mesma, com outro espaldar de cabeceira, madeira trabalhada, antigão... móvel antigão. O armário de Lauri­nha saindo dali, ia ficar espaço para uma escrivaninha legalzinha, com muitos objetos masculinos espalhados: ca­chimbo, binóculo, essas bossas.

Acabou de se enxugar e atirou a toalha em cima da cama. Num reflexo condicionado, já ia apanhar a toalha e pendurar, como fazia sempre, mas conteve-se. Precisava ir se acostumando a ser servido. Breve teria empregados para fazer as coisas chatas que Laurinha o obrigava a fa­zer.

Essa noite jantaria fora: num desses restaurantes so­fisticados. Talvez depois desse uma esticada pelos bares, flertar com uma grã-fina qualquer. Quem sabe, trazê-la até ali para... claro, era preciso começar vida nova. A vida que ele merecia.

Caminhou sorrindo para a sala e estava servindo um drinque, assobiando "These foolish things", quando a cam­painha tocou. Outra coisa que iria mudar: aquela campai­nha estridente, antipática, por uma dessas que fazem "bim bom".

Acabou de servir a bebida e fechou a garrafa de cris­tal. A campainha tocou outra vez. Caminhou tranqüilo para ver quem era. Laurinha, com voz choramingosa, de olhar baixo e toda encolhidinha, perguntou:

- Posso entrar, Neném?

É... quem nasce pra cavalo vai morrer pastando. Que entrasse logo. E pensou: - Pelo menos, durante as próxi­mas 24 horas, ela não será tão chata.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Diário de Muzema

Muzema é um bairrozinho pequeno e pacato, ali pelas bandas da Barra da Tijuca. Pertence à jurisdi­ção da 32ª Delegacia Distrital e nunca dá bronca. Ou melhor, minto... não dava bronca porque esta que deu agora foi fogo.
Diz que o delegado da 32ª estava em sua mesa de soneca tirando uma pestana, feliz com o sos­sego, quando um bando de perto de 200 pessoas invadiu a delegacia, carregando no ar um coitado, baixote e magrinho, com a cara mais amassada que pára-choque de ônibus de subúrbio. E a turba fazia um barulho de acordar prontidão.

O delegado, que era o Levi, deu um pulo da cadeira e berrou:

— Chamem a Polícia!!! — mas aí percebeu que ele mesmo é que era a Polícia e perguntou que diabo era aqui­lo. Logo todo mundo começou a berrar ao mesmo tem­po, o que obrigou o Dr. Levi a berrar mais alto ainda, or­denando:

— Um de cada vez, pombas!

Aí um dos que carregavam o pequenino, ordenou que os companheiros pusessem "aquele rato" no chão (a expressão é lá do cara) e começou a explicar:

— Nós somos moradores do bairro de Muzema, dou­tor Delegado.

— Sim. E esse pequenino aí?

— Pois é, doutor. Nós somos todos de lá e esse creti­no aí também é. Imagine o senhor que ele tem um cader­no grosso, que ele chama de "Meu Diário", onde escreve as maiores sujeiras sobre a gente.

— Como é que é? — estranhou o delegado.

Começou todo mundo a berrar outra vez e, enquan­to um guarda dava um copo de água para o diarista arre­bentado, o delegado viu-se outra vez a berrar mais alto:

— Calem-se! Um só de cada vez!

Foi aí que deram a palavra pro dono do caderno:

— É o seguinte, doutor: eu tenho um diário. Ando muito lá pela Muzema e ninguém nunca repara em mim. Assim eu posso ver o que os outros fazem sem ser impor­tunado. Mas acontece que eu não sou fofoqueiro. Eu vejo cada coisa de arrepiar. Ainda ontem eu vi a mulher daque­le ali (e apontou para um sujeito do grupo) num escurinho da praça, abraçada com aquele lá (e apontou um ou­tro sujeito no canto da delegacia, que, ao ser apontado, encolheu-se todo).

Esta informação bastou para que o assinalado mari­do partisse pra cima do encolhido e o tumulto se genera­lizasse. Coitado do delegado, já estava quase rouco, quan­do conseguiu reimplantar a ordem na 32a DD.

— Prossiga! — disse pro pequenino.

O pequenino pigarreou e prosseguiu:

— Como eu dizia, eu tenho o meu diário e anoto nele tudo que vejo. Não faço fofoca com ninguém. Tudo que está escrito é verídico.

— Como é o seu nome? Onde você mora?

— Edson Soares. Moro lá mesmo na Muzema. Lote "A", casa 18.

O Delegado Levi pediu o diário e folheou algumas páginas. Havia coisas mais ou menos assim, escritas nele. "Dona Jurema, do lote "B", casa 75, estava saindo de ma­drugada da casa 67 do mesmo lote, onde mora o Sebastião, que tem um cacho com ela há muito tempo". Ou então: "Lilico continua fingindo que é noivo da filha de Dona Júlia, mas se aquilo é noivado eu sou girafa. Como eles mandam brasa, atrás do muro da casa dela".

O Delegado Levi tossiu, embaraçado, e quis saber como é que os personagens daquele diário tinham desco­berto o que estava escrito ali. O pequenino foi sincero:

— Eu dei azar, doutor. Eu esqueci o diário num banco da pracinha e fui jantar. Quando eu voltei estava todo mundo em volta desse garoto aí (e apontou um garoto sorridente, que se divertia com o bafafá), e o miserável do garoto lendo em voz alta:"... o seu Osooo... Osório. Não: Osório. O seu Osório quando sai pra o trai... tralba... para o trabalho, devia levar a muuu... a mu­lher dele. Ela é muito assada... assada não... muito assanhada".

— Eu achei o diário dele — falou o garoto, mas calou-se logo ao levar um cascudo de um gordão que devia ser, na certa, o seu Osório.

Já ia saindo onda outra vez. O pessoal do bairro paca­to estava mesmo disposto a beber o sangue de Edson So­ares, o historiador da localidade. Sanada, todavia, mais esta tentativa o Delegado Levi perguntou ao dono do diário:

— O senhor também é poeta?

— Mais ou menos, né?

— Eu pergunto — esclareceu o delegado — porque este versinho aqui está interessante, e leu no diário: "Para o José Azevedo / O futebol não cola / Pois se for cabecear / Na certa ele fura a bola".

Pimba... mais uma bolacha premiou a cara do poeta. Ninguém conseguia segurar José Azevedo, residente na Muzema, Lote "J", casa 77. O pau roncou solto e só quan­do chegou reforço é que o delegado conseguiu botar em cana uns quatro ou cinco, inclusive o biógrafo muzemense. O resto mandou embora, aconselhando:

— Vocês ve­jam se não dão margem ao artista de se expandir tanto, em seu futuro diário, tá?

O pessoal prometeu.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Aos tímidos o que é dos tímidos

Tímido que ele era. Um desses sujeitos assim cujo complexo de inferioridade é tamanho que, ao se olhar no espelho, sente-se mal ao deparar sua própria imagem, por considerá-la superior ao original.

Tem uns caras que, francamente: eu — por exemplo — conheci um que o pes­soal chegou a apelidar de Zé Complexo. Um dia ele me confessou que, muitas vezes, quando saía de casa, tinha ímpetos de deixar o elevador pra lá e descer pela lixeira. Acabou morrendo por timidez, numa véspera de Natal.

Foi assim: a família tinha engordado um peru para a ceia natalina, e ele ficou encarregado de matar o peru. Na véspera da coisa, e dia do peru, levou-o lá prós fundos e começou a dar cachaça para o condenado, e foi lhe dan­do aquela tristeza e, então, pra ver se levantava o moral, começou a beber junto com o peru, e foi bebendo e foi piorando, baixou nele uma neura bárbara, até que consi­derou as circunstâncias, olhou para o peru mais uma vez, o peru olhou para ele com aquele olhar de peru encachaçado, que é pior que olhar de deputado nordestino. En­fim, para encurtar o caso: acabou considerando que o peru merecia mais que ele e se suicidou, deixando o peru sozi­nho lá no quintal, no maior pileque.

Mas não era desse cara que eu queria falar não. Esse morreu, deixa pra lá. O tímido desta história tinha as suas mumunhas, tanto assim que chegou a arrumar uma namorada. Não era nenhum estouro de mulher, mas também não era como aquela que o gato cheirou e cobriu de areia. Na verdade a namorada deste tímido que eu estava falando, e depois passei pro outro que morreu, levava um certo jeito. Pernudinha, nem baixa nem alta, nem magra nem gorda. Engraçadinha, sabe como é?

Pois não é que apareceu um desses bacanos de cabelão, pele tostada no moderno estilo "Castelinho", folgado às pampas, e cismou com a pequena do tímido?

Como, minha senhora? A pequena do tímido é que deu bola pro bonitão?

Nada disso, madama, nada disso. Embora eu não po­nha a mão no fogo por mulher, porque eu não quero ficar com o apelido de maneta, posso garantir à senhora, que a pequena do tímido tinha fama de batata. Tanto isto é ver­dade que foi ela quem inventou o plano.

Quando o namorado descobriu que havia cabrito na sua horta, ficou numa fossa tártara. Dava até pena ver: perto da dele a fossa de qualquer um parecia apartamento de cobertura. Ainda bem não tinha morado no assunto, ficou logo achando que perderia a parada, porque o ou­tro era mais forte, mais freqüentador do "Le Bateau", sa­bia dançar o surf muito bem, e mais diversas outras papa­gaiadas que hoje em dia as mulheres consideram predica­dos masculinos.

Aí a pequena dele ficou tão chateada que lhe deu uma bronca:

- Toma uma atitude, Lelé! (O nome dele era Leovigildo, mas ela chamava de Lelé.) Contrata aí um desses latagões a serviço da bolacha e manda dar uma surra nes­se atrevido!

Tá certo, a pequena era um pouco chave-de-cadeia, mas essa atitude dela provava que, entre o bacanão e o Lelé, ela era mais o Lelé. Foi, aliás, o que o Lelé deduziu, dedução esta que o levou a procurar Primo Altamirando.

Ora, o Mirinho vocês conhecem e, se não conhecem, per­guntem na Polícia, que lá eles sabem. Procurou Mirinho e propôs o negócio: dez "cabrais" ou dois "tiradentes" — a escolher — para dar um corretivo no cara.

Mirinho achou o negócio legal e saiu em campo. Não demorou muito, encontrou o perseguido badalando num balcão de sorveteria, fazendo presepada no meio das menininhas. Chamou-o num canto, como quem vai pro ba­nheiro, e, agarrando o braço dele, colocou-o a par da con­juntura. O cara foi ficando branco que nem parecia freguês de sol do "Castelinho", começou a gaguejar, e o Pri­mo viu logo que aquela transação podia render mais. Sol­tou o braço do cara e meteu a proposta:

— Faz o seguinte. Manda 20 mil aí que eu transfiro o negócio pra outra firma.

O bonitão nem quis ouvir mais nada. Filho de pai rico e coisa e tal, meteu a mão no bolso e pagou à vista. Com 30 mil em caixa, o abominável parente resolveu ti­rar licença-prêmio e foi gastar o lucro.

Deu-se que, ontem, estava ele parado numa esquina, paquerando o ambiente, quando o tímido apareceu de braço com a pequena. Ao passar por ele, fez um gesto largo, sorriu, piscou um olho e berrou:

— Olha! Aquele nosso negócio; perfeito, velhinho! A firma concorrente entrou pelo cano.

Mirinho olhou pra ele, lembrou-se dos 20 mil que o outro lhe confiara e suspendeu a licença. Caminhou em sua direção e tacou-lhe um bofetão em si bemol que o coita­do saiu catando cavaco e foi cair sentado no meio-fio.

Tá certo! O fim desta história é meio chato. Mas, é como me explicou Mirinho: onde já se viu tímido bancar o expansivo só porque tá com mulher?
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.