segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Leônidas, o Diamante Negro

Tão elástico que recebeu o apelido de Homem Borracha, tão raro que passou a ser conhecido como Diamante Negro. Naqueles anos 30 e 40, ninguém era tão famoso como Leônidas da Silva, o maior centroavante de todos os tempos. Reuniu as principais virtudes que fariam a sua fama: o drible de corpo, a ginga com a bola, o deslocamento rápido, a invenção. Apesar de considerado o pai da bicicleta, sempre fez questão de dar o crédito de inventor a Petronilho de Brito.

Leônidas da Silva nasceu em São Cristóvão, Rio de Janeiro, em 6/9/1913, filho de Dona Maria e do Sr. Manoel Nunes da Silva. Na infância era torcedor do Fluminense, encantado que foi com o grande time tricolor tricampeão carioca em 1917/1918/1919. Começou sua carreira em 1923 no infantil do São Cristovão do Rio. Em 1929 passou a jogar pelo Sirio Libanês F.C., e no mesmo ano disputou o Campeonato da Liga Brasileira pelo Sul América F.C. sagrando-se campeão. Ainda em 1929 foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, onde estreou fazendo dois gols.

Em 1931 passou a atuar pelo Bonsucesso F.C. onde ficou até o final de 1932, tendo sido convocado diversas vezes para a Seleção Carioca, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais em 1931, além de ser o maior artilheiro da história do Bonsucesso. Nesse clube, também jogou basquete, tendo conquistado campeonato desta modalidade esportiva.

Em 1933 foi jogar pelo Peñarol do Uruguai onde ajudou o clube a conquistar o vice-campeonato. No ano seguinte retornou ao Brasil para jogar pelo Vasco da Gama, o qual ajudou a ganhar o campeonato carioca de 1934.

A sua primeira competição importante com a camisa da seleção foi a Copa do Mundo, em 1934, na Itália. O Brasil fez uma péssima campanha, perdendo logo na estréia e sendo eliminado, mas Leônidas marcou o único gol do Brasil na competição.

Botafogo, Campeão de 1935 -  Em pé: Carvalho Leite, Álvaro, Martin, André, Leônidas da Silva, Russinho, Patesko e Moura Costa; agachados: Octacílio, Alberto, Nariz, Canali e Afonso.

Em 1935 mudou novamente de clube, indo atuar no Botafogo, onde conquistou o bicampeonato carioca, e em 1939, pelo Flamengo chegou ao tricampeonato estadual, por 3 equipes diferentes. No Flamengo consolidou sua imagem como ídolo nacional e ajudou a combater o preconceito, sendo um dos primeiros jogadores negros a jogar pelo clube.

Em 1938, foi artilheiro da Copa do Mundo com oito gols, incluindo três marcados contra a Polônia. O Brasil conseguiu a sua melhor participação em mundiais até então, ficando com a terceira colocação. Posteriormente, Lêonidas foi escolhido o melhor jogador do mundial.


Em 1942 transferiu-se para São Paulo e atuou no São Paulo Futebol Clube por onde passou dificuldades financeiras devido ao atraso de pagamentos do clube diante da falência. Foi cinco vezes campeão paulista, tornando-se um dos maiores ídolos da história do São Paulo, sendo homenageado no museu do clube com uma réplica de uma bicicleta que ele executou.

Durante a década de 1940, devido a Segunda Guerra Mundial, os mundiais que seriam realizados em 1942 e 1946 foram cancelados, prejudicando enormemente jogadores como Leônidas, que não tiveram a oportunidade de se tornar conhecidos e reconhecidos mundialmente.

Depois de abandonar os gramados, em 1951, ainda continuou ligado ao esporte. Foi dirigente do São Paulo, logo depois virou comentarista esportivo, sendo considerado por muitos um comentarista direto, duro e polêmico. Chegou a ganhar sete Troféus Roquette Pinto. Sua carreira de radialista teve que ser interrompida em 1974 devido a doença do Mal de Alzheimer. Durante trinta anos ele viveu em uma casa para tratamento de idosos em São Paulo até morrer, em 24 de janeiro de 2004, por causa de complicações relacionadas à doença.

Graças ao trabalho de pessoas esforçadas o legado do "Diamante Negro" jamais será esquecido, mesmo o Brasil sendo considerado uma país que não dá atenção aos ídolos do passado. Foi lançada uma biografia do atleta e sua vida vai ser transformada em filme. Tudo para que os amantes do futebol não esqueçam desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Alguns acham que isso ainda é pouco, já que Leônidas foi um dos maiores ídolos do Brasil, até o aparecimento de Pelé, no final dos anos 50. Alguns consideram Leônidas melhor que Pelé, porém é algo que ficará incerto, visto que os jogos ainda não eram televisionados na época em que Leônidas atuava como jogador.

Leônidas, atuando pelo São Paulo, em uma de suas "bicicletas" - Pacaembu, anos 1940.

A "bicicleta"

Leônidas recebeu o crédito por ter inventado a "bicicleta". Ele mesmo se autoproclamava o inventor da plástica jogada. Alguns afirmam ter sido criada por um outro jogador brasileiro, Petronilho de Brito, e que Leônidas apenas a teria aperfeiçoado.

A primeira vez que Leônidas executou essa jogada foi em 24 de abril de 1932, em uma partida entre "Bonsucesso" e "Carioca", com vitória do Bonsucesso por 5 X 2. Já pelo Flamengo, realizou a jogada somente uma vez, em 1939 contra o Independiente, da Argentina, que ficou muito famosa na época.

Pelo São Paulo ele realizou a jogada em duas oportunidades, a primeira em 14 de junho de 1942, contra o Palestra Itália, na derrota por 2 X 1. E a mais famosa de todas, em 13 de novembro de 1948, contra o Juventus, na goleada por 8 X 0. A jogada ficou imortalizada pela mais famosa foto do jogador.

Na Copa do Mundo de 1938 ele também realizou a jogada, para espanto dos torcedores, e o gol foi anulado pelo juiz que desconhecia a técnica.

Diamante Negro

O apelido de "Diamante Negro" foi dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, maravilhado pela habilidade do brasileiro. Já o apelido de "Homem-Borracha", também dado pelo mesmo jornalista, foi devido a sua elasticidade.

Anos mais tarde a empresa Lacta homenageou-o, criando o chocolate "Diamante Negro", vendido até hoje. A empresa só pagou dois contos de réis à época (o equivalente a R$ 112 mil, aproximadamente), sendo que Leônidas nunca mais cobrou nada pelo uso da marca.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.

Tim, o Peão

Tim é considerado um dos maiores dribladores que o futebol brasileiro já produziu. O reconhecimento faz justiça apenas parcialmente ao grande jogador. Afinal, era um craque complelo. Meio-campista inteligente, comandava a estratégia da equipe, dava passes imprevisíveis e parecia constantemente na área para marcar. Sua capacidade de ordenar a equipe em campo fez com que a imprensa argentina o chamasse de El Peón (O Peão), pois conduzia o time como "um peão conduz a manada".

Elba de Pádua Lima, o Tim, nasceu em 20/02/1916, numa fazenda que pertencia ao município de Rifaina, São Paulo. Ele era filho do ferroviário Vargas Lima e de Tereza Granato. Quando criança, sua família chamava-o carionhosamente de Ti. Em 1923, aos sete anos, Elba perdeu o pai. A partir daí, passou a ser criado pela mãe na Vila Tibério, tradicional bairro de Ribeirão Preto, onde ele descobriria o talento que tinha para jogar futebol. Foi nas peladas pelas ruas dessa cidade, que Elba despertou seus dons futebolisticos. Foi nessa época também que o apelido de família, Ti, virou Tim.

Em 1931, aos 15 anos, após ganhar destaque nos infantis do Botafogo, passou para a equipe profissional. No profissional do Pantera, com seu bom futebol, Tim desbancou o maior craque do time até então, o atacante Piquetote, se tornando, assim, ídolo da torcida botafoguense.

Em 1934, aos 18 anos, foi vendido para a Portuguesa Santista, pela quantia de 500 mil Réis, onde sua carreira viria a deslanchar. Com o bom futebol apresentado nesse clube, Tim alcançou em 1935 a Seleção Paulista de Futebol, onde conquistou o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1936, chegou a Seleção Brasileira, participando do grupo que foi ao Campeonato Sul-americano de 1936. Quando retornou ao Brasil, após o Sul-Americano, decidiu ficar perto da família, e voltou a defender o Botafogo de Ribeirão Preto. Mas ele ficaria pouco tempo no time ribeirão pretano, cerca de 4 meses.

Ainda em 1936, transferiu-se para o Fluminense, quando lhe foi ofertado vinte mil contos de Réis e mais um conto mensal. No Flu viveria o auge de sua carreira. Sua primeira glória no tricolor carioca, foi integrar o time tricampeão estadual em 1936, 1937 e 1938.

Tim disputou a Copa do Mundo de 1938 na França. Após, voltou ao Rio de Janeiro para ser bicampeão do Campeonato Carioca em 1940 e 1941. Ainda pelo Fluminense, este meia-apoiador, fez 71 gols em 226 partidas.

Em 1942 foi disputar a Copa América pela Seleção Brasileira em Buenos Aires, e voltou com o prestígio redobrado, por suas grandes atuações, que levaram os argentinos a o apelidarem de "El Peón", por "conduzir o time brasileiro como um peão (peón) conduz a sua manada". Naquela Copa América o Brasil terminou em 3º Lugar.

Em 1944 aposentou-se da Seleção Brasileira, deixando sua vaga para Jair da Rosa Pinto. No mesmo ano transferiu-se para o São Paulo, onde jogaria até 1947, ano em que transferiu-se para o Botafogo do Rio de Janeiro. Ainda nesse ano, foi jogar e treinar, ao mesmo tempo, a equipe do Olaria. A ocupação do cargo de técnico-jogador do time carioca durou até 1948, quando Tim foi ocupar o mesmo cargo no Botafogo de Ribeirão Preto, ficando no clube de 1948 até 1950.

Tim, como técnico do Vasco da Gama, orientando o jogador Dé.

Encerrou sua carreira como jogador em 1950, na Colômbia, então o Eldorado do futebol sul-americano. Tornou-se em seguida técnico, posição que confirmou sua fama como um dos grandes estrategistas do futebol brasileirom treinando o Bangu, depois o Fluminense, Vasco, Flamengo, Coritiba, Botafogo, San Lorenzo (ARG), São José/SP e Inter de Limeira/SP.

Em 1982, assumiu a Seleção Peruana de Futebol, quando esta não vivia um bom momento. Tim, porém, reorganizou a equipe, e conseguiu fazer com que o time se classificasse para a Copa de 1982. Nesta copa, o Peru, nos três jogos que fez, conseguiu dois empates, contra Camarões (0x0) e Itália (1x1), mas acabou derrotada pela Polônia (5x1).

Tim víria a falecer em 7 de julho de 1984, na cidade do Rio de Janeiro.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.

Fenícios no Brasil

Segundo alguns historiadores, no século XII a.C., os fenícios atingiram o litoral do continente americano. O historiador brasileiro Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1858 – 1931), nascido em Manaus-AM, em seu trabalho “Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica, Especialmente do Brasil” (RJ – 1930), cita muitas palavras indígenas de origem fenícia e hebraica, pois alguns dos tripulantes de embarcações fenícias que chegaram ao litoral permaneciam nessas regiões e constituíam clãs, daí a diversidade de línguas e costumes de várias nações indo-americanas, principalmente depois da conquista da Fenícia por Alexandre, o Grande, e depois as dominações grega e romana.   

Em se tratando de língua, é interessante analisar nos idiomas Quíchua, Chibika, Aimará, Guarani, Tupi... vocábulos aramaicos e mesmo árabes antigos, que são encontrados em todos aqueles idiomas, sendo o Quíchua e o Tupi os mais próximos do aramaico e do árabe.

Encontram-se também em vários lugares do Brasil inscrições fenícias gravadas em rocha, como por exemplo, as da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro.

Na Ilha de Marajó, foram encontradas pedras trabalhadas com inscrições aramaicas, cuja existência é datada de antes da Era Cristã. Estas se encontram no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Existem também os tipos de portos – “muralhas” – que os fenícios construíram, como as que se encontram em Batrun, Líbano: no Aquiri-AM e em Alcobaça-BA.

Inscrição fenícia na Pedra da Gávea. Tradução abaio

“Tyro, Phenícia, Badezir primogênito de Jethabaal.”

“Somos filhos de Caná, de Saida, a cidade do rei. O comércio nos trouxe a esta distante praia, uma terra de montanhas. Sacrificamos um jovem aos deuses e deusas exaltados no ano de 19 de Hiram, nosso poderoso rei. Embarcamos em Ezion-Geber, no mar Vermelho, e viajamos com 10 navios. Permanecemos no mar juntos por dois anos, em volta da terra pertencente a Ham (África), mas fomos separados por uma tempestade, nos afastamos de nossos companheiros e, assim, aportamos aqui: 12 homens e 3 mulheres. Numa nova praia que eu, o almirante, controlo. Mas auspiciosamente passam os exaltados deuses e deusas intercederem em nosso favor.”

Fonte: Extraído do livro “Líbano – Guia Turístico e Cultural” de Roberto Khatlab

Fenícios e celtas na América

As primeiras navegações confirmadas à América foram às dos vikings - mas séculos antes deles içarem suas velas, já circulavam no Velho Mundo lendas sobre grandes terras desconhecidas do outro lado do Atlântico.  Contam historiadores antigos que o primeiro povo a procurar esse continente remoto foram os fenícios - os maiores navegadores da Antigüidade, antepassados dos libaneses.

Na obra Bibliotheca Historica, escrita no século I a.C., o romano Diodorus Siculus conta que o capitão fenício Himilcon singrou o "Oceano Ocidental" por volta de 500 a.C. e chegou a uma "grande terra, fértil e de clima delicioso". A descoberta foi mantida em segredo para evitar que outros povos explorassem o lugar - revelar sua localização era crime punido com a morte.

No início da Idade Média, começaram a circular rumores de que o misterioso país do ocidente era uma espécie de paraíso terreno, imagem do Éden descrito na Bíblia. Entre os celtas da Irlanda, a terra encantada ganhou o nome de Hy Brazil. A palavra céltica Brazil tem origens incertas, mas alguns acreditam que derive do termo fenício "barzil", que significava "ferro" - sabe-se que fenícios e celtas comerciaram na Antigüidade e podem ter trocado vocábulos além de mercadorias. Outros tradutores acham que Brazil vem do celta "bress", raiz da palavra inglesa "bless" - abençoar.

A história oficial, como se sabe, conta que nosso país foi batizado em homenagem ao "pau-brasil", a madeira "da cor da brasa" que abundava no litoral do Nordeste e cuja casca dava uma tintura vermelha, usada para tingir as vestes mais luxuosas de Lisboa. Essa versão esquece, claro, que a palavra Brasil é mais antiga que existência da própria língua portuguesa, cujos documentos mais antigos só surgiriam no século IX.

Um descobridor alternativo das Américas pode ter sido um religioso celta em busca do paraíso terrestre: A Navegação de São Brandão, obra escrita na Irlanda por volta do ano 900, conta a história de um monge irlandês que em 556 teria partido pelas águas do Atlântico em um currach - pequeno barco de madeira, coberto de peles e usado por pescadores. Reza a lenda que São Brandão, com uma pequena tripulação de monges-marinheiros, encontrou a fabulosa terra de Hy Brazil, "cheia de bosques e grandes rios recheados de peixes", e voltou à Irlanda para contar a história.

Nenhuma evidência arqueológica confirma que fenícios ou celtas tenham estado no Novo Mundo - mas a chance, segundo alguns pesquisadores, não é de desprezar. "Mesmo na falta de provas definitivas, é ingênuo negar a possibilidade de que povos antigos tenham navegado à América", diz Luiz Galdino, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que pesquisa as descobertas alternativas do Novo Mundo há mais de 30 anos.

Galdino aponta para a corrente Sul-Equatorial como o caminho mais provável para exploradores antigos. "Os fenícios tinham navios capazes de carregar mais mantimentos que as caravelas portuguesas. Sabemos que eles navegaram pela costa da África até o século IV a.C. - e, se um de seus barcos tivesse entrado por acaso na corrente Sul-Equatorial, iria diretamente para as praias de Pernambuco", diz Galdino, que planeja lançar um livro sobre "as descobertas do Brasil".

"O mesmo caminho pode ter sido seguido por celtas, romanos, árabes. O Brasil e as Américas foram descobertos várias vezes ao longo dos séculos".

Fonte: Os Descobridores do Novo Mundo - História - Passeioweb

Razões de ordem técnica

A moça viajou no ônibus em que viajava este que ora batuca, intimorato e altivo, as teclas macias de sua Remington semi-portátil, todas recentemente azeitadas para novas campanhas.

Não somos de viajar nesses incômodos coletivos. Stanislaw é uma vítima contumaz de táxi e não teria se rebaixado a freguês da Copanorte se não estivesse de caixa baixa. Estávamos mais por baixo do que calcinha de nylon.

Mas — dizíamos — a moça entrou e era o que se poderia desejar em matéria de mulher de qualidade superior. Tanto era, que houve como que um minuto de silêncio respeitoso, no coletivo. Aliás, minuto de silêncio respeitoso, não. Seria mais justo dizer minuto de silêncio para que todos os coleguinhas de viagem pensassem em besteira.

Depois — pouco a pouco — todos nos acostumaríamos à sua presença. Naquele momento, ela ainda fazia mais sucesso que Vicente Celestino em Barra do Piraí. Todos queriam lhe ceder o lugar. Um velhote, mais ou menos sem dignidade, levantou-se do banco e quis ser cavalheiro. Ela recusou com a altivez das que têm noivo.

O velhote desistiu e sentou. Havia um bonitão no ônibus. Como, minha senhora? Se o bonitão éramos nós? Não, senhora, era outro. A senhora desculpe. Havia dois bonitões; nós e o outro. Foi o outro que se levantou e disse, com voz de locutor da Rádio Nacional (programação matinal):

— Queira sentar, senhorinha.

O senhorinha soou falso como borderô de companhia de revistas musicais. Mas todos esperamos o êxito do bacano. Não foi bem sucedido, porém. Ela sorriu agradecida e respondeu:

— Não se incomode.

Era difícil a gente não se incomodar com aquele monumento ali na nossa frente, balançando no corredor do ônibus. Depois, foi saindo gente e os que estavam em pé iam sentando. Mas, antes, ofereciam a vez à bonitona. Ela sorria, agradecia e continuava em pé.

Chegou o momento, porém, em que o número de lugares era maior que o número de passageiros. Mesmo assim, ela ficou firme, viajando de pé.

Foi aí que, com aquela timidez que é o nosso maior sucesso com mulher, pigarreamos legal e perguntamos à distinta:

— Você não quer sentar? E ela respondeu:

— Não. E nós:

— Por quê?

E ela:

— Furúnculo.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

O homem da pasta preta

Sobraçando uma enorme pasta preta o homem chegou-se para perto da nossa mesa e esperou que levantássemos a cabeça. Fingimos não dar pela sua presença, mas a situação foi ficando meio velhaca e fomos obrigados a perguntar se desejava alguma coisa. Ora se.

Bastou dar a deixa para ele explicar que era um emissário do saber, da cultura, da ilustração. Representante dos mais famosos editores, o homem de indisfarçável sotaque espanhol pôs-se a oferecer livros e mais livros, tudo a preços de ocasião, com descontos formidáveis, com facilidades de pagamento.

— O senhor precisa aproveitar el momento que es oportuno. Las livrarias fazem um desconto especial ahora.

Para ganhar tempo, perguntamos por que as livrarias estão fazendo desconto especial agora. Ele, muito naturalmente, explicou:

— Junho!

Não sabemos porque Balzac é mais barato em junho e jamais saberemos, pois o homem não é de dar tempo para pensar. Ali estava, sobre a mesa, toda a Comédia Humana, mais barata à vista, com um pequeno acréscimo para as tais suaves prestações mensais.

Ficou absolutamente bestificado quando soube que Balzac não interessava. E o Anatole France de bolso, também não? Mas isso era desconcertante! Um cavalheiro com a nossa cultura, com a nossa posição social... E perguntou:

— O amigo, naturalmente, tiene su posición dentro do café-society?

— Jogamos na defesa.

Ele achou a resposta de um fino humor. Grande espírito. E aproveitou para sapecar Eça de Queiroz inteiramente revisto pelo filho do próprio. Inclusive — garantiu — com notas muito oportunas. Explicamos que já tínhamos o Eça lá em casa. O Eça, o Ramalho, o Camilo, o Fialho, o Antero. Em matéria de literatura portuguesa, lá em casa vamos bem.

Subiu a Península Ibérica e abriu um folheto que demonstrava e provava que nunca, em nenhum país do mundo, se fez — numa só edição — um apanhado tão completo da obra de Cervantes. Já impacientes, declaramos:

— Cervantes dá azia!

Não sabemos se azia em espanhol é diferente. O fato é que não entendeu. Fechou o folheto e abriu outro. Este elucidava os interessados numa coleção enciclopédica. Eram vinte volumes que condensavam curiosidades matemáticas, as chamadas maravilhas da natureza e outros alicerces do saber. O homem que lesse com atenção a obra toda poderia fazer um figurão, respondendo perguntas nos programas de televisão.

Um a um, fomos recusando poetas e prosadores, biógrafos e historiadores, gramáticos, metafísicos, astrônomos e astrólogos. Da fina-flor da literatura, passou a meros catálogos. O senhor tem disco? É amante da pesca?

— Quem nos dera ter amante!

Nem sequer sorriu. Gosta de fotografias? Quer aprender a desenhar? Deseja ser mecânico de rádio em 20 lições? A arte da decoração.

O nosso corpo. O mar que nos cerca. A vida no subsolo. No mundo das bactérias. A culinária de todo o mundo.

Nesta última oferta apelamos para o ofendido. Imediatamente pediu desculpas. Realmente, um homem do nosso trato não iria cozinhar nunca. Por fim, esgotado o estoque, sentindo que não venderia coisa nenhuma, apelou pra ignorância. Olhou para os lados certificou-se de que estávamos a sós e segredou:

— Tengo aqui umas coisas mui lindas. Para leitura íntima.

E mostrou um livro com uma mulher nua na capa. Nem assim...

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Um homem e seu complexo

Era um homem. Era um desses homens que não resistem à pergunta: "Você é um homem ou um rato?"

Dizemos que era dos que não resistem porque, sem dúvida, quando inquirido, não saberia o que responder. E isto é mais doloroso porque sua dúvida não era a de que não pudesse ser um homem, e sim a de que talvez não chegasse a ser um rato.

Sim, companheiros, o homem era um poço de complexos, figurinha capaz de dar dor de cabeça em aspirina, tipo que se considerava tão inferior que tinha vergonha de assinar o próprio nome.

E para isto também tinha uma explicação viável: chamava-se Eugênio e era incapaz — na sua infinita modéstia — de considerar o próprio "Eu", quanto mais ser simplesmente um "Gênio".

Vai daí, Eugênio ficou sendo Z. Não era Ze, com "Z" e "E", mais um acento (ou assento? Botamos os dois, Osvaldo, para que você escolha o certo). Eugênio assinava só a letra "Z" na certeza de que esta é que lhe servia, por ser a última do alfabeto.

Tantos eram os complexos de "Z" que, lá um dia, alguém lhe deu dinheiro para consultar um psicanalista. Morem no detalhe de alguém lhe dar dinheiro. Tudo porque "Z" não andava com cruzeiros no bolso, convencido de que, se assim o fizesse, desvalorizaria ainda mais a nossa moeda.

Mas — como ficou dito — pagaram a consulta e "Z" foi ao psicanalista. O médico mandou que ele deitasse naquele divã regulamentar e o paciente deu a primeira prova de seu estado de espírito ao responder que se consultaria de pé, pois não se sentia com direito de ficar deitado, enquanto o outro trabalhava.

O psicanalista achou aquilo muito estranho, percebeu que estava diante de um caso de complexo de inferioridade incurável e deu umas pílulas. Mas deu sem nenhuma esperança porque "Z" era tão sincero em seus complexos que chegou a confessar que só se sentia bem numa lata de lixo, ocasião em que pagou a consulta e se atirou pela lixeira do edifício, com um sorriso de superioridade.

Mas mesmo o lixo tem seu valor, embora a Limpeza Pública não saiba. "Z" foi piorando de tal forma que acabou achando que nem como lixo prestava. E — um dia — deu-se o trágico e amargo fim: seu complexo chegou ao máximo.

Ia sair de casa e, para colocar a gravata, foi até o espelho.

Qual não foi a sua surpresa? Chegou diante do espelho... olhou... e não viu mais ninguém.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

O milagre

Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato do milagre.

É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo — sofredor, coitadinho, e pronto a acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação — passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagre a sua esperança.

Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranqüilo, amigo da gente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico, financiador dos necessitados e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com os poderosos. Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um apostolado.

Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o deixara. Era um quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias assim a cama do personagem chama-se catre), uma cadeira, um armário tosco, alguns livros. O quarto do vigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já que a Prefeitura local não tinha verba para erguer sua estátua.

E foi quando um dia... ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos fundos da venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava acender uma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa.

— Milagre!!! — quiseram todos.

E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se ajoelhou do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em casa, depois do pedido — conta-se — a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.

— Milagre!!! — repetiram todos. E o grito de "Milagre!!!" reboou por sobre montes e rios, vales e florestas, indo soar no ouvi¬do de outras gentes, de outros povoados. E logo começaram as romarias.

Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali plantado, junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até deputados, para oficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora em que o bondoso sacerdote costumava acender sua vela... a vela se acendia e começavam as orações. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres, civis e militares caíam de joelhos, pedindo.

Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doenças curadas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa, depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre e ficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.

O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era, e ainda existe, atrás da venda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos na venda e pedimos ao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que nos servisse uma cerveja. O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava latas de goiabada numa prateleira:

— Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!

Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião. Milagre era apelido.

— E por quê? — perguntamos.
— Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Fausto, a Maravilha Negra

Foi Fausto que viveu uma das mais brilhantes e trágicas histórias do futebol brasileiro. Começou a carreira no Bangu, mas seu futebol logo chamou a atenção do Vasco. Possuía um domínio de bola elegante, fazia passes precisos e exercia um comando incontestável, qualidades que o tornaram um dos maiores meio-campistas de todos os tempos, tanto que, na Copa de 1930, passou a ser chamado de Maravilha Negra. Toda sua carreira, entretanto, foi marcada por constantes problemas de saúde e pela revolta contra o preconceito e a pobreza, mostrada em campo através de seguidas expulsões.

Fausto (Fausto dos Santos), futebolista, nasceu em Codó, Maranhão, em 28/01/1905, e faleceu na cidade de Santos Dumont, Minas Gerais, em 28/03/1939. Media 1,86m e pesava 75 kg e era um centromédio de muita disposição, grande técnica, habilidade, liderava o meio de campo de sua equipe com muita elegância e tinha precisão no toque de bola.

Foi considerado o melhor jogador de sua posição nas décadas de 1920 e 1930 e por isso na copa de 1930, o jogador despertou a cobiça de vários clubes do exterior. No mundial do Uruguai, em 1930 recebeu a alcunha de "Maravilha Negra" pela crônica esportiva uruguaia devido a sua atuação na copa de 1930.

Iniciou sua carreira defendendo o Bangu em 1926 e no início de 1929 chega ao Vasco da Gama, onde foi campeão neste mesmo ano. Durante uma excursão do Vasco à Espanha impressionou tanto pelo futebol apresentado que o Barcelona o contratou imediatamente em 1931. No clube espanhol sofreu atos discriminatórios pelo fato de ser negro, após um ano na Espanha transferiu-se para atuar pelo Young Fellows, da Suíça, em 1934 chega para defender o Nacional, do Uruguai e em 1935 retornou ao Vasco, já com o profissionalismo já instalado no país

Em 1936 foi contratado pelo Flamengo, permanecendo neste clube até 1938, onde disputou 80 jogos e marcou um gol. 

Não disputou o Mundial de 1934 porque era profissional e o de 1938 por causa de uma gripe – na realidade, uma manifestação da tuberculose que o iria matar. Em busca de riqueza e reconhecimento, só encontrou pobreza e preconceito.

Morreu em 1939, aos 34 anos.

Fontes: Wikipédia; Revista Placar.

Constelação de Garotos

Cruzeiro Campeão da Taça Brasil de 1966  -  Em pé: Neco, Pedro Paulo, William, Procopio, Piazza e Raul. Agachados: Natal, Tostão, Evaldo, Dirceu Lopes e Hilton Oliveira.
"Quem poderia esperar que um time de garotos recém-saídos do juvenil pudesse impor alguma resistência ao Santos de Pelé‘? Ninguém. Só mesmo Tostão, 19 anos, Dirceu Lopes, 20, e Wilson Piazza, 23, eram atrevidos o bastante para apostar no time do Cruzeiro na decisão da Taça Brasil de 1966. Apostaram e ganharam. Naquele campeonato, o país inteiro pôde testemunhar o nascimento da mais brilhante geração de jogadores do final dos anos 60.

O esquadrão cruzeirense tinha a segurança de Raul, o goleiro que inovou com as camisas amarelas, uma zaga às vezes violenta e um ataque infernal. Que o digam os atleticanos, que tiveram que assistir impotentes ao pentacampeonato do Cruzeiro entre 1965 e 1969.

Que o digam os craques do Santos, derrotados por 6 a 2 no Mineirão e por 3 a 2, de virada, no Pacaembu. Aquele Cruzeiro realmente valia ouro: Raul; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira.

Brilho das Américas

Quando Tostão foi para o Vasco e, em seguida, abandonou o futebol, o Cruzeiro ainda teve fôlego para formar outro timaço com a chegada de Jairzinho e a ascensão de Palhinha, Joãozinho e Nelinho. Uma equipe que venceu a Libertadores da América em 1976 e só não ganhou o título mundial porque teve de enfrentar o Bayern de Munique num campo coberto de neve. O Cruzeiro jogava com Raul; Nelinho, Morais, Darci e Vanderlei; Wilson Piazza e Zé Carlos; Eduardo, Palhinha, Jairzinho e Joãozinho.

Fonte: Revista Placar.

Marcos de Mendonça, a classe sob as traves

"Era um menino triste. Todos os amigos e irmãos corriam atrás da bola, menos ele. Proibição médica, pois ele tivera febre amarela, infecção nos pulmões, e pequenos transtornos cardíacos. 'Todo mundo me enchia de cuidados, impedindo-me de fazer grandes esforços. Mas, eu queria jogar futebol, e achei que no gol seria menos exigido', contou tempos depois. Nasceu assim o maior guarda-metas dos primórdios do futebol brasileiro.”

Com excelente sentido de colocação, ótima visão das jogadas e uma mistura precisa de arrojo e segurança, Marcos mudou a concepção de que jogar no gol era apenas para os pernas-de-pau.

Também iniciou a tradição de goleiros-galãs. Elegante, arrebatava corações femininos, principalmente quando entrava em campo com uma fitinha roxa amarrada no calção.

Marcos Carneiro de Mendonça, historiador, escritor e futebolista, nasceu em Cataguases, em 25/12/1894, e faleceu no Rio de Janeiro em 19/10/1988. Foi o primeiro goleiro da Seleção Brasileira e detém até os dias atuais o título de goleiro mais jovem a ser selecionado, pois tinha 19 anos quando de seu primeiro jogo, contra o Exeter City, da Inglaterra em 21 de Julho de 1914. Foi titular por nove anos, conquistando os campeonatos sul americanos de 1919 e 1922.

Marcos começou a sua carreira no time do Haddock Lobo, com a fusão deste clube ao América Futebol Clube passou a defender o time rubro, onde foi campeão carioca de 1913. Tinha 1,87 m.

A poetisa Anna Amelia e Marcos
Assim como outras dezenas de sócios e atletas do América, descontentes com a diretoria, Marcos se transferiu para o Fluminense F. C. em 1914, tendo sido seu goleiro titular até 1922. Em 127 jogos nesse período, sofreu 164 gols e foi tricampeão carioca em 1917/1918/1919.

Casado com a poetisa Anna Amélia Carneiro de Mendonça, pai da crítica teatral Bárbara Heliodora, uma das maiores especialistas em Shakespeare, que escreve semanalmente, coluna no jornal O Globo. Após encerrar a sua carreira, Marcos trabalhou como historiador e foi presidente do Fluminense, conquistando como dirigente, o bicampeonato carioca em 1940/41.

Títulos

América RJ - Campeonato Carioca: 1913; Fluminense - Campeonato Carioca: 1917, 1918 e 1919; Seleção Brasileira - Copa Roca: 1914 / Campeonato Sul-Americano: 1919 e 1922

Fontes: Wikipédia; Revista Placar.