domingo, 25 de setembro de 2011

A anciã que entrou numa fria

Gosto de ler jornal impresso com plasma sangüíneo. Não sou um leitor-vampiro. O que me diverte não é a notícia, porque não tenho carteirinha de necrófilo; o que me diverte é a redação da notícia, a maneira pela qual ela é abordada nesses jornais que, se a gente apertar, dá hemorragia.

Agora mesmo estava aqui a folhear um deles. Na página 4, lá em cima, à esquerda de quem lê, há uma coluna de ocorrências. E logo a primeira notícia vem sob a manchete: "Quis ver anciã nua e apanhou".

Ora, por mais ocupado que eu esteja, uma nota com este título eu não deixo pra lá de jeito nenhum.

E li. A coisa passou-se num desses conjuntos residenciais — autênticas cabeças-de-porco, construídas pelos institutos de previdência para enganar contribuinte — onde o pau come de cinco em cinco minutos, entre vizinhos de parede e meia. Sai tanta briga nesse tipo de residência para coitado que, não faz muito tempo, eu participava de um show no qual o conjunto regional brigava tanto que eu o apelidei de Conjunto Residencial do IAPI. Mas isto deixa pra lá.

Voltemos à anciã nua que abalou Ramos. Sim, porque foi em Ramos, aprazível subúrbio leopoldinense, onde cabrito pasta deitado para não pegar rebarba de tiroteio. O bandido da história chama-se Matias Afonso — solteiro, 28 anos, morador na Rua A, n.° 5.

Quando o cara mora em rua que não tem nome, é porque o apartamento dele é desses em que o morador abre a porta e entra com cuidado para não cair pela janela da frente.

Pois muito bem: Matias Afonso foi parar no Hospital Getúlio Vargas, vítima de um panelicídio. Palavra de honra! Não estou inventando nada. Está aqui no jornal: "No hospital, onde os médicos constataram uma lesão que pode levá-lo à cegueira, Afonso contou que Joana de Jesus, viúva com 71 anos, residente na Rua A, n.° 4 — vizinha, pois, do dito Matias —, agredira-o com uma panela, furiosamente".

Mas é aqui que the pig twists if's tail — como diz Lyndon Johnson, quando tenta explicar a batalha campal do Vietname.

Por que teria uma velha de 71 anos agredido um rapaz de 28? Alguma coisa ele fez de muito grave, porque, nessa idade, a pessoa geralmente já não agüenta levantar uma panela, quanto mais fazer dela um porrete de gladiador.

E o rapaz fez mesmo; cometeu uma temeridade que eu vou te contar. Outra vez transcrevo do órgão da imprensa sanguinária: "Porque olhava para o quarto onde a anciã trocava de roupa, Matias Afonso foi agredido, na madrugada de ontem, a golpes de panela, sofrendo contusões e escoriações na cabeça, estando ameaçado de perder a visão".

Convenhamos que perder a visão porque espiava uma velha de 71 anos inteiramente pelada é duro, é um bocado duro. Mas — pelo jeito — a vítima do panelicídio gostava. Senão vejamos: "Matias confessou que via Joana de Jesus despir-se, diariamente, por uma fresta da janela. Ontem, não se contendo, pulou a janela e foi repelido com uma panela".

Esta é a história que o jornal — como tudo que é noticiário policial — termina enfaticamente com o tradicional: "o comissário do dia tomou conhecimento do fato".

O comissário pode ter tomado conhecimento, mas nós queremos mais, é ou não é? Em não sendo policial, a gente tem uma curiosidade maior pelas ocorrências deste tipo. Basta reler o que foi contado para se ver que um dos dois personagens está mentindo, ou melhor, pode não estar mentindo, mas está omitindo. Se um rapaz de 28 anos apanhou de uma velha de 71, levando tanta panelada na cabeça, é porque — enquanto ela batia — ele tentava segurar outra coisa que não era a panela, do contrário teria se defendido melhor. O que estaria Afonso tentando segurar enquanto a septuagenária baixava-lhe paneladas na cuca?

Tirem vocês a conclusão.

Para Primo Altamirando a solução do mistério é outra. O jornal não conta que o cara via a velha pelada todo dia? — pergunta Mirinho. E ele mesmo responde:

— Diz sim. E se era todo dia, dificilmente a velha ignorava o fato. Portanto, para mim, esse tal de Afonso apanhou porque, ao pular dentro do quarto, a velha não quis deixar ele sair.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

Anthony Perkins


Anthony Perkins, ator, nasceu em Nova Iorque, EUA, em 4/4/1932, e faleceu em Los Angeles, EUA, em 12/9/1992. Era filho de um famoso ator da Broadway Osgood Perkins, que atuou em Scarface, clássico de 1932 - ano em que Anthony nasceu - e que morreu quando ele tinha apenas cinco anos. Foi criado pela mãe, que ele mesmo definiu uma vez como "muito possessiva e bastante problemática".

Subiu ao palco pela primeira vez aos 14 anos e estreou no cinema em 1953 no filme Papai Não Quer, dirigido por George Cukor. Em 1956 foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel em Sublime Tentação de William Wyler.

Entrou para a galeria dos grandes nomes de Hollywood ao interpretar Norman Bates  - um assassino em série da obra Psycho (Psicose), de Alfred Hitchcock -, em 1960. Muitos críticos acharam na época que ele merecia ter ganho o Oscar por sua magnífica interpretação, mas não chegou nem a ser indicado ao famoso prêmio. O filme teve duas continuações, uma em 1983 e outra em 1986.

Entre 1962 e 1971, Perkins desenvolveu uma bela carreira na Europa, tendo oportunidade de atuar sob a direção de cineastas do porte de Claude Chabrol, André Cayate, René Clement, Anatole Litvak, Jules Dassin, Orson Welles, Edouard Molinaro, entre outros.

De volta aos Estados Unidos, continuou sua brilhante carreira. Dando continuidade ao famoso Psicose, de Hitchcock, Perkins estrelou em 1983, Psicose II, de Richard Franklin; em 1986, Psicose III, por ele próprio dirigido, e em 1990, para a televisão, Psicose IV - O Começo, de Mick Garris.

Em 1973, co-escreveu o roteiro de O Fim de Sheila, juntamente com Stephen Sondheim, tendo sido agraciado com o Prêmio Edgar Allan Poe. Em 1974, apareceu na Broadway ao lado de Mia Farrow, na peça Romantic Comedy, de Bernard Slade.

Perkins era bissexual, tendo tido casos com o ator Tab Hunter, com o bailarino Rudolf Nureyev e com o dançarino-coreógrafo Grover Dale, com quem teve um relacionamento de seis anos, antes de se casar com Berry Berenson. De sua união com Berry, teve dois filhos: Osgood, que seguiu a carreira de ator, e Elvis Perkins, que se tornou músico. Ele afirmou, certa vez, ter sido exclusivamente homossexual até próximo de seus 40 anos, quando conheceu a atriz Victoria Principal.

Diagnosticado com AIDS em 1989, manteve sua doença em segredo e continuou a trabalhar até o fim. No ano de sua morte, inclusive, participou de dois filmes, sendo um para a TV.

Fontes: 70 Anos de Cinema; Wikipedia.

As feiticeiras de Salem

"É uma certeza que o demônio apresenta-se por vezes na forma de pessoas não apenas inocentes, mas também muito virtuosas." (Rev. John Richards, século XV)

Faz três séculos que o vilarejo de Salem, na colônia americana da Nova Inglaterra, foi tomado de assalto por uma onda de intolerância e de fanatismo religioso, vitimando quase vinte pessoas. Esse infeliz incidente, e a caça às feiticeiras que então se desencadeou, serviu como um alerta para que os princípios de liberdade religiosa fossem assegurados na história dos Estados Unidos.

Mister Parris, o pobre reverendo de Salem, estava exasperado. Betty, a sua única filha de apenas nove anos, acometida por uma série de estranhos espasmos, jogou-se petrificada sobre o leito, negando-se a comer. Naquela perdida cidadezinha, ao norte de Boston, não existiam muitos recursos além de um velho médico que por lá se perdera. Chamado para diagnosticar a doença, atestou para o aterrado pai que a menina estava era enfeitiçada e que nada lhes restava a fazer além de uma boa e sincera reza. A conclusão do doutor correu de boca em boca e em pouco tempo os pacatos habitantes do pequeno porto tomaram conhecimento de que Satanás resolvera coabitar com eles.

Simultaneamente outras garotas, as amiguinhas de Betty, começaram a apresentar sintomas semelhantes aos da filha do clérigo. Rolavam pelo chão, imprecavam, salivavam, grunhiam e latiam. Foi um pandemônio. Pressionado a tomar medidas, Parris resolveu chamar um exorcista, um caçador de feiticeiras, que prontamente começou sua investigação.

No século XVII, poucos punham em dúvida a existência de bruxas ou de feiticeiras porque uma das máximas daqueles tempos é de que "é uma política do Diabo persuadir-nos que não há nenhum Diabo".

Inquiridas por Cotton Mather, que iria se revelar uma espécie de Torquemada americano, as garotas contaram que o que havia desencadeado aquela desordem toda fora uns rituais de vodu que elas viram Tituba fazer. Essa era uma escrava negra que viera das Índias Ocidentais, e que iniciara algumas delas no conhecimento da magia negra. Durante o último longo inverno da Nova Inglaterra, ela apresentara várias vezes os feitiços para uma platéia de garotas impressionáveis.

Educadas no estreito moralismo calvinista e no ódio ao sexo que o puritanismo devota, aquele cerimonial animista deve ter despertado as fantasias eróticas nelas. Provavelmente culpadas por terem cedido à libido ou apavoradas por sonhos eróticos, as garotas entraram em choque histérico. Seja como for o caso, merecia ser ouvido num tribunal. Toda a Salem se fez então presente no salão comunitário.

Quando colocadas num tribunal especial, presidido pelo juiz S. Sewall, e inquiridas pelos juízes Corwin e Hathorne, as meninas começaram a apontar indistintamente para várias pessoas que estavam na sala apenas como curiosas. O depoimento mais sensacional foi o da escrava Tituba, que não só confessou suas estranhas práticas como afirmou que várias outras pessoas da comunidade também o faziam.

A partir daquele momento, a cidadezinha que já estava sob forte tensão se transformou. Um comportamento obsessivo tomou conta dos moradores. Uma onda de acusações devastou o lugarejo. Vizinhos se denunciavam, maridos suspeitavam das suas mulheres e vice-versa, amigos de longa data viravam inimigos.

Praticamente ninguém escapou de passar por suspeito, de ser um possível agente do demônio. Não demorou para que mais de 300 pessoas fossem acusadas de práticas infames. O tribunal que entrou em função em junho de 1692 somente parou em outubro. Resultou que dezenove pessoas foram enforcadas.

Fontes: História - Mundo - As Feiticeiras de Salem; Wikipedia.

Jack Nicholson

Dono de um diabólico sorriso sedutor, Jack Nicholson é uma das maiores lendas vivas da história do cinema. Mesmo famoso e consagrado, nunca deixou de aceitar trabalhos menores e desafiadores, sempre do modo irreverente e com muito carisma, tentando fugir dos tradicionais clichês e interpretações fáceis -  armadilha na qual a maioria dos atores de sua idade costumam cair.

Jack Nicholson (John Joseph Nicholson, 22 de abril de 1937), ator, nasceu no Hospital Bellevue em Nova Iorque e sua mãe era June Frances Nicholson (cujo o nome de solteira era June Nilson), descendente de ingleses e italianos.

June era artista (dançarina) e se envolvera com um homem casado que trabalhava no mesmo meio que ela, o ítalo-americano Donald Furcillo (cujo nome artístico era Donald Rose). Os dois chegaram a se casar em Elkton, Estado de Maryland, em 16 de Outubro de 1936, com Furcillo se tornando bígamo. Furcillo se ofereceu para tomar conta de Jack quando ele nasceu mas a mãe de June, Ethel, insistiu para que o entregasse, pois queria que sua filha continuasse com a carreira de dançarina.

Assim, Jack cresceu acreditando que seus avós John (um decorador de janelas de loja de departamentos em Asbury Park, Nova Jersey) e Ethel May Nicholson, uma cabeleireira e tratadora cosmética, e artista amadora em Neptune, Nova Jersey, eram seus pais.

Ele fez o curso médio em Manasquan High School, onde um prêmio dramático agora leva seu nome, em sua homenagem. Nicholson descobriu que seus pais eram na verdade seus avós, e sua irmã na verdade era sua mãe, apenas em 1974, após ser informado por um jornalista da Time que estava escrevendo sobre ele, enquanto filmava "The Fortune". Nesta época, tanto sua mãe quanto sua avó já tinham falecido (em 1963 e 1970).

Nicholson declarou que não sabe quem é seu pai, dizendo que "apenas Ethel e June sabiam, e nunca contaram a ninguém". Apesar de Donald Furcillo dizer ser pai de Nicholson e ter cometido bigamia ao se casar com June, a biografia de Patrick McGilligan, "A Vida de Jack", publicada em dezembro de 1995, afirma que Eddie King, empresário de June, poderia ser o pai, e outras fontes sugeriram que June Nicholson não estava certa sobre quem era o pai.

Jack Nicholson escolheu não fazer um teste de DNA ou procurar saber sobre isso. Apesar de, pessoalmente, Nicholson ser contra o aborto, ele é a favor da liberdade de escolha: "sou muito contrário à minha posição em termos do aborto porque sou realmente contra ele. Não tenho direito a nenhum outro ponto de vista. Minha única emoção é gratidão, literalmente, por minha vida".

Em sua vida pessoal adulta, Nicholson é notório por ser incapaz de "sossegar". Sabe-se que tem quatro filhos com três diferentes mães, apesar de ter se casado apenas uma vez. Seus filhos são Jennifer Nicholson (com sua agora ex-mulher Sandra Knight), Caleb Goddard (com Susan Anspach, co-estrela em "Five Easy Pieces"), e Lorraine e Raymond Nicholson (com Rebecca Broussard). Ele foi romanticamente ligado a várias atrizes e modelos por décadas. O relacionamento mais longo de Nicholson durou 17 anos, com a atriz Anjelica Huston, a filha do lendário diretor John Huston.

Nicholson começou sua carreira como ator, roteirista e produtor, trabalhando para e com Roger Corman. Isto incluiu sua estréia na tela, em "The Cry Baby Killer" (1958), onde ele fez o papel de um delinqüente juvenil que entra em pânico após atirar em outros dois adolescentes, e "Little Shop of Horrors" (A Pequena Loja de Horrores), onde fez um pequeno papel como um paciente masoquista em um dentista.

Seu trabalho no roteiro lisérgico de "The Trip", estrelada por Peter Fonda e Dennis Hopper, o levou a seu primeiro papel de sucesso em "Easy Rider" (Sem Destino), de 1969. No filme, Nicholson faz o advogado beberrão "George Hanson", pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar.

Uma indicação / nomeação para Melhor Ator veio no ano seguinte, por seu papel em "Five Easy Pieces" (Cada Um Vive Como Quer), de 1970, que inclui seu famoso diálogo com uma garçonete sobre o pedido de uma torrada a acompanhar a bebida, que a mulher nega, dizendo que esse pão só viria se fosse pedido um sanduiche de salada de frango (em pão de torrada). Ele então raivosamente pede o sanduiche de salada de frango sem "maionese, mantega, alface e frango" a fim de obter o que quer, ou seja, apenas a torrada.

Nicholson numa fantástica e diabólica interpretação no clássico de terror "O Iluminado" de 1975.
Outros primeiros filmes pelos quais ele é famoso incluem "The Last Detail", de Hal Ashby (1973), "Chinatown" de Roman Polanski (1974), "One Flew Over the Cuckoo's Nest" (Um Estranho no Ninho, de Milos Forman (1975), pelo qual recebeu seu primeiro Oscar e "The Shining" (O Iluminado), de Stanley Kubrick. Nicholson ganhou um prêmio da Academia de melhor ator (coadjuvante/secundário) por seu papel em "Terms of Endearment" (1983).

O "Batman" de 1989, onde Nicholson fez o papel do supervilão Coringa, foi um êxito internacional, e um contrato de porcentagem nos lucros deu a Nicholson cerca de 50 milhões de dólares. Nicholson mais tarde sugeriu ao amigo Danny DeVito que fizesse o "Pinguim" na sequência "Batman Returns" como investimento potencial.

Por seu papel como o impetuoso Coronel Nathan R. Jessep, em "A Few Good Men" (Questão de Honra), de 1992, um filme sombrio sobre um assassinato em uma unidade dos fuzileiros navais dos EUA, ele recebeu outra nomeação pela Academia. Este filme contém a cena de Nicholson onde ele diz "você não pode lidar com a verdade!", que desde então se tornou amplamente conhecida e imitada. Nicholson iria ganhar seu Oscar seguinte por seu papel como o neurótico no romântico "As Good as It Gets" (Melhor É Impossível), de 1997.

Em "About Schmidt" (As Confissões de Schmidt), de 2002, Nicholson faz o papel de um vendedor de seguros aposentado de Omaha, Nebraska, que questiona a própria vida e a morte de sua mulher pouco depois. O filme lento e profundamente emocional, aparece contrastando com muitos de seus papéis anteriores. Na comédia "Anger Management" (Tratamento de Choque), ele faz o terapista agressivo que deve ajudar o pacifista Adam Sandler. Seu filme seguinte é "Something's Gotta Give" (Alguém Tem que Ceder), de 2003, como um "mauricinho" envelhecido, que se apaixona pela mãe de sua jovem namorada.

Nicholson retornou à sua forma vilanesca como o chefe durão da máfia irlandesa de Boston, controlando Matt Damon e Leonardo DiCaprio no filme de Martin Scorsese "The Departed" (Os Infiltrados), de 2006.

Em 2007, Nicholson, juntamente com Morgan Freeman, protagonizou o filme "The Bucket List" (Antes de Partir). Em 2008 quando soube que Heath Ledger, o novo interprete do coringa faleceu de overdose, em um tom bem sarcastico disse: "Eu avisei".

Filmografia

1958 - Cry baby killer, The - Jimmy Wallace
1960 - Selvagem e brutal (Wild Ride, The) - Johnny Varron
1960 - A pequena loja de horrores (The Little Shop of Horrors) - Wilbur Force
1960 - Too soon to love - Buddy
1962 - Terra partida (Broken land, The) - Will Brocious
1963 - Sombras do terror (Terror, The) - Lt. Andre Duvalier
1963 - O corvo (The Raven) - Rexford Bedlo
1964 - Guerrilheiros do pacífico (Back Door to Hell) - Burnett
1964 - Ensigh Pulver - Dolan
1965 - A vingança de um pistoleiro (Ride in the whirlwind) - Wes
1966 - Flight to fury - Jay Wickham
1967 - O tiro certo (Shooting, The) - Billy Spear
1967 - Os demônios sobre rodas (Hell angels on wheels) - Poeta
1967 - O massacre de Chicago (St.'s Valentine day massacre, The) (não-creditado)
1968 - Busca alucinada (Psych-out) - Stoney
1968 – Head (não creditado)
1969 - Sem destino (Easy Rider) - George Hanson
1970 - Rebeldia violenta (Rebel Rousers, The) - Bunny
1970 - Num dia claro de verão (On a clear day you can see forever) - Tad Pringle
1970 - Cada um vive como quer (Five easy pieces) - Robert Eroica Dupea
1971 - Refúgio seguro (A safe place) - Mitch
1971 - Ânsia de amar (Carnal Knowledge) - Jonathan Fuerst
1972 - O dia dos loucos (King of Marvin Gardens, The) - David Staebler
1973 - A última missão (Last detail, The) - Billy "Bad Ass" Buddusky
1974 - Chinatown - J.J. 'Jake' Gittes
1975 - Profissão: Repórter (Professione: Reporter) - David Locke
1975 - Tommy - O Especialista
1975 - O Golpe do Baú (Fortune, The) - Oscar Sullivan/Oscar Dix
1975 - Um estranho no ninho (One flew over the cuckoo's nest) - Randle Patrick McMurphy
1976 - O último magnata (The Last Tycoon) - Brimmer
1976 - Duelo de gigantes (The Missouri Breaks) - Tom Logan
1978 - Com a corda no pescoço (Goin' South) - Henry Lloyd Moon
1980 - O iluminado (The Shining) - Jack Torrance
1981 - Notre Dame de la croisette (não-creditado)
1981 - O destino bate à sua porta (The Postman Always Rings Twice) - Frank Chambers
1981 - Reds - Eugene O'Neill
1982 - Fronteira da violência (Border, The) - Charlie Smith
1983 - Laços de ternura (Terms of Endearment) - Garrett Breedlove
1985 - A honra do poderoso Prizzi (Prizzi's Honor) - Charley Partanna
1986 - A difícil arte de amar (Heartburn) - Mark Forman
1987 - As bruxas de Eastwick (The Witches of Eastwick) - Daryl Van Horne
1987 - Ironweed - Francis Phelan
1987 - Nos bastidores da notícia (Broadcast News) - Bill Rorich
1989 - Batman - Coringa/Jack Napier
1990 - A chave do enigma (The Two Jakes) - J.J. 'Jake' Gittes
1992 - Questão de honra (A Few Good Men) - Col. Nathan R. Jessep
1992 - O cão de guarda (Man trouble) - Eugene Earl Axline/Harry Bliss
1992 - Hoffa - Um homem, uma lenda (Hoffa) - James R. 'Jimmy' Hoffa
1994 - Lobo (Wolf) - Will Randall
1995 - Acerto final (Crossing guard, The) - Freddy Gale
1996 - O entardecer de uma estrela (Evening star, The) - Garrett Breedlove
1996 - Marte ataca! (Mars Atacks!) - Presidente James Dale/Art Land
1997 - Sangue e vinho (Blood and Wine) - Alex Gates
1997 - Melhor é impossível (As good as it gets) - Melvin Udall
2001 - A Promessa (The Pledge) - Jerry Black
2002 - As confissões de Schmidt (About Schmidt) - Warren Schmidt
2003 - Tratamento de Choque (Anger Management) - Dr. Buddy Rydell
2003 - Cher: The Farewell Tour - Daryl Van Horne
2003 - Alguém tem que Ceder (Something's Gotta Give) - Harry Sanborn
2006 - Os Infiltrados (The Departed) - Frank Costello
2007 - Antes de Partir (The Bucket List) - Edward Cole
2010 - Como Você Sabe (How Do You Know) - (Charles)

Prêmios

Ganhou dois Oscar de Melhor Ator (principal), por "Um Estranho no Ninho" (1975) e "Melhor é Impossível" (1997). Ganhou um Oscar de Melhor Ator (coadjuvante/secundário), por "Laços de Ternura" (1983).

Fontes: Wikipedia; Jack Nicholson - Perfil - Cineplayers.

Torquemada, o inquisidor

O Inquisidor Geral Tomás de Torquemada (Valladolid, 1420 — Ávila, 16 de setembro de 1498) simboliza a face mais intolerante da história da Igreja Católica na Espanha. Com ele, as fogueiras estiveram sempre acesas, para desespero de judeus, mouros e hereges.

Na segunda metade do século XV, a Península Ibérica tinha mais judeus convertidos do que qualquer outra região do mundo. Ocupada durante séculos pelos muçulmanos, que concediam aos judeus liberdade de culto, a Península Ibérica tornou-se um refúgio ideal e palco de uma intensa troca civilizatória entre elementos das culturas cristã, muçulmana e judaica.

Com a progressiva unificação da Espanha (resultado da união dos reinos de Leão e Castela e, mais tarde, destes com Aragão) os muçulmanos e os judeus foram aos poucos empurrados para o sul, obrigados a migrar para o Marrocos ou a fazer uma conversão forçada ao cristianismo. Tal conversão era sempre vista com desconfiança, já que, motivada pela perseguição religiosa, era apenas aparente: na intimidade de seus lares, muitos judeus continuavam em segredo a praticar os velhos cultos.

Com o casamento de Fernando, rei de Aragão (a atual Catalunha, ou seja, a região de Barcelona) com Isabel de Castela (a região de Madri), os dois reinos se uniram e a Espanha moderna começou a tomar forma. Torquemada, na época (1478), era frade dominicano e confessor de Isabel, função que exercia desde 1474. Poucos anos depois ele se transformaria na figura mais importante da Inquisição Espanhola.

Torquemada explorava a desconfiança popular com relação aos judeus convertidos e difundia a suposta necessidade de que o país contasse apenas com "sangre limpia", ou seja, sangue puramente cristão. Na prática, era uma ficção, pois, como a Espanha tinha a maior comunidade judaica da Europa medieval e como eram comuns os casamentos inter-étnicos e as conversões religiosas, pouquíssima gente na Espanha tinha sangue realmente puro. O próprio Torquemada era neto de marranos (judeus convertidos), fato que ele escondia cuidadosamente. Mas Torquemada não se deixou abater por este detalhe: decidido a purificar o país, desenvolveu um trabalho metódico, frio e impiedoso de perseguição aos marranos que resultou na morte de - segundo algumas fontes - trinta mil vítimas.

O objetivo formal da Inquisição era a erradicação da heresia, o que, para Torquemada, era sinônimo de eliminação dos marranos. Para estimular as delações, a Inquisição chegou a publicar um conjunto de orientações que ensinava aos católicos como vigiar seus vizinhos e reconhecer possíveis traços de judaísmo. Eis alguns dos sintomas reveladores:

Durante o reino de terror de Torquemada, "el  Martillo de los Herejes", se estima que foram queimadas mais de 10 mil pessoas e outras 27 mil foram torturadas brutalmente

1- Se você observar que seus vizinhos estão vestindo roupas limpas e coloridas no sábado, eles são judeus; 2- Se eles limpam suas casas na sexta-feira e acendem velas bem mais cedo do que o normal naquela noite, eles são judeus; 3- Se eles comem pão ázimo e iniciam sua refeição com aipo e alface durante a Semana Santa, eles são judeus; 4- Se eles recitam suas preces diante de um muro, inclinando-se para frente e para trás, eles são judeus.

A pena mais leve imposta aos marranos era o confisco de seus bens, técnica que se mostrou muito eficiente como forma de arrecadar recursos para a guerra contra os mouros. Os reis católicos, Isabel e Fernando, precisavam de receitas, e a perseguição movida aos hereges por Torquemada era uma fonte de renda que interessava sobremaneira ao Estado. Apesar dos protestos do Papa Sixto IV, que jamais chancelou a limpeza étnica que tinha lugar na Espanha, Isabel e Fernando auto-intitulavam-se "protetores da Igreja" e defensores da fé, antecipando práticas que seriam depois amplamente utilizadas pelos regimes totalitários do século XX.

Os judeus que sofriam apenas o confisco podiam dar-se por satisfeitos. O mais comum era serem obrigados a desfilar pelas ruas vestidos apenas com um sambenito - traje humilhante, que definia sua condição de hereges - e flagelados na porta da igreja. A etapa seguinte era a morte na fogueira, durante os chamados autos-de-fé, após inomináveis torturas. Homossexuais estiveram entre as vítimas prediletas da Inquisição Espanhola.

Torquemada, no afã de obter dos reis católicos a expulsão definitiva de todos os judeus, promoveu em 1490 um julgamento-espetáculo, onde as vítimas foram oito judeus acusados de praticar rituais satânicos de crucificação de crianças cristãs.

Pressionados pelo clima de crescente intolerância, em 31 de março de 1492 Fernando e Isabel publicaram seu Edito de Expulsão: "Decidimos ordenar a todos os ditos judeus, homens e mulheres, que deixem nossos reinos e jamais retornem a eles." Foi concedido aos judeus que permanecessem até julho na Espanha. A partir daí, os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram para Portugal ou Norte da África, onde enfrentaram mais perseguições; alguns, sem outra alternativa, aceitaram embarcar numa duvidosa viagem comandada por um certo aventureiro chamado Cristóvão Colombo; alguns permaneceram na Espanha como "judeus ocultos" (e seus descendentes são judeus ocultos até hoje).

Após completar a expulsão dos judeus, Torquemada retirou-se para o monastério de São Tomás, em Ávila, onde passou seus últimos anos convencido de que desejavam envenená-lo, o que o levava a manter um chifre de unicórnio, considerado um antídoto eficaz, sempre perto de si.

O Grande Inquisidor acabou sendo vítima de morte natural, em 1498.

Fontes: Constelar; Wikipedia.

Turismo insólito

Theatro Municipal do Rio de Janeiro
O fascínio por lugares com fama de mal-assombrados tem atraído turistas a passeios que misturam bom humor, história e folclore. Desde 2006, a Secretaria Municipal de Turismo do Recife (PE) realiza, gratuitamente, em noites de lua cheia e de sextas-feiras 13, a trilha “Lendas do Recife”, que recebe até 5 mil pessoas por edição.

O roteiro inclui o rio Capiberibe, onde acredita-se que o fantasma Vira-roupas assusta as lavadeiras, e o Teatro Santa Isabel, onde há quem escute aplausos durante a noite.

Enquanto turistas recebem vela e pergaminho, os guias representam lendas como Perna Cabeluda, que chuta pedestres e Laura Cemitério, conhecida por seduzir os homens que passam em frente ao cemitério Santo Amaro.

“Elaboramos o roteiro para despertar o interesse da população pela história da cidade, onde são presentes lendas e a idéia do macabro”, descreve Renato Barbosa, um dos criadores do passeio.

São Paulo também possui lendas, como a da loira do edifício Martinelli, no Centro, atração do passeio “São Paulo do Outro Mundo”. “Quando lançamos o circuito, em 2000, eram quatro vezes por ano. A procura foi tanta que agora fazemos uma vez por mês, com grupos de 20 a 42 pessoas. Brincamos com histórias de fantasmas, sem sensacionalismo”, afirma o criador Carlos Roberto Silvério.

Para envolver o turista, é entregue um “kit lanche fúnebre”, embrulhado em papel negro e fita rocha, e o ônibus é decorado com teias de aranha, crânios e crisântemos (flores típicas de velórios), e tem música ambiente de vampiros e fantasmas.

Entre os pontos visitados, estão os cemitérios do Araçá e da Consolação, o edifício Joelma, onde 200 pessoas morreram num incêndio; e o bairro da Liberdade, considerado o mais mal-assombrado, pois lá foi construído o primeiro cemitério da cidade.

No Rio de Janeiro, entre 1994 e 2001, havia um passeio pelos lugares mais assustadores da Cidade Maravilhosa, caso do Teatro Municipal, onde há quem tenha visto o poeta Olavo Bilac (1865-1918) declamando o discurso de inauguração, e o Museu Histórico Nacional, que dizem ser palco de debates entre oradores fantasmas.

Fonte: Turismo Cemiterial.

O inferninho e o Gervásio

O cara que me contou esta história não conhece o Gervásio, nem se lembra quem lhe contou. Eu também não conheço o Gervásio nem quem teria contado a história ao cara que me contou, portanto, conto para vocês, mas vou logo explicando que não estou inventando nada.

Deu-se que o Gervásio tinha uma esposa dessas ditas "amélias", embora gorda e com bastante saúde. Porém, Mme. Gervásio não era de sair de casa, nem de muitas badalações. Um cineminha de vez em quando e ela ficava satisfeita.

Mas deu-se também que o Gervásio fez 25 anos de casado e baixou-lhe um remorso meio chato. Afinal, nunca passeava, a coitada, e, diante do remoer de consciência, resolveu dar uma de bonzinho e, ao chegar em casa, naquele fim de tarde, anunciou:

— Mulher, mete um vestido melhorzinho que a gente vai jantar fora!

A mulher nem acreditou, mas pegou a promessa pelo rabo e foi se empetecar. Vestiu aquele do casamento da sobrinha e se mandou com o Gervásio para Copacabana. O jantar — prometia o Gervásio — seria da maior bacanidade.

Em chegando ao bairro que o Conselheiro Acácio chamaria de "floresta de cimento armado", começou o problema da escolha. O táxi rodava pelo asfalto e o Gervásio ia lembrando: vamos ao Nino's? Ao Bife de Ouro? Ao Chateau? Ao Antonio's? Chalet Suisse? Le Bistrô?

A mulher — talvez por timidez — ia recusando um por um. Até que passaram em frente a um inferninho desses onde o diabo não entra para não ficar com complexo de inferioridade. A mulher olhou o letreiro e disse:

— Vamos jantar aqui.

— Aqui??? — estranhou Gervásio. — Mas isto é um inferninho!

— Não importa — disse a mulher. — Eu sempre tive curiosidade de ver como é um negócio desses por dentro.

O Gervásio ainda escabriou um pouquinho, dizendo que aquilo não era digno dela, mas a mulher ponderou que ele a deixara escolher e, por isso, era ali mesmo que queria jantar. Vocês compreendem, né? Mulher-família tem a maior curiosidade para saber como é que as outras se viram.

Saíram do táxi e, já na entrada, o porteiro do inferninho saiu-se com um "Boa noite, Dr. Gervásio" marotíssimo. Felizmente a mulher não ouviu. O pior foi lá dentro, o maitre d'hotel abriu-se no maior sorriso e perguntou:

— Dr. Gervásio, a mesa de sempre? — e foi logo se encaminhando para a mesa de pista.

Gervásio enfiou o macuco no embornal e agüentou as pontas, ainda crédulo na inocência da mulher. Deu uma olhada para ela, assim como quem não quer nada, e não percebeu maiores complicações. Mas a insistência dos serviçais de inferninho é comovedora. Já estava o garçom ali ao pé do casal, perguntando:

—A senhorita deseja o quê? — e, para Gervásio: — Para o senhor o uísque de sempre, não, Dr. Gervásio?

A mulher abriu a boca pela primeira vez, para dizer:

— O Gervásio hoje não vai beber. Só vai jantar.

— Perfeito — concordou o garçom. — Neste caso, o seu franguinho desossado, não é mesmo?

O Gervásio nem reagiu. Limitou-se a balançar a cabeça, num aceno afirmativo. E, depois, foi uma dureza engolir aquele frango que parecia feito de palha e matéria plástica. O ambiente foi ficando muito mais para urubu do que para colibri, principalmente depois que o pianista veio à mesa e perguntou se o Dr. Gervásio não queria dançar com sua dama "aquele samba" reboladinho".

Daí para o fim, a única atitude daquele marido que fazia 25 anos de casado e comemorava o evento foi pagar a conta e sair de fininho. Na saída, o porteiro meteu outro "Boa noite, Dr. Gervásio", e abriu a porta do primeiro táxi estacionado em frente.

Foi a dupla entrar na viatura e o motorista, numa solicitude de quem está acostumado a gorjetas gordas, querer saber:

— Para o hotel da Barra, doutor?

Aí ela engrossou de vez: — Seu moleque, seu vagabundo! Então é por isso que você se "esforça" tanto, fazendo extras, não é mesmo? Responde, palhaço!

O Gervásio quis tomar uma atitude digna, mas o motorista encostou o carro, que ainda não tinha andado cem metros, e lascou:

— Dr. Gervásio, não faça cerimônia: o senhor querendo eu dou umas bolachas nessa vagabunda, que ela se aquieta logo.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

Foi num clube aí

Isto mesmo, foi num clube da Guanabara, desses que cultivam a chamada segregação racial.

De repente o Conselho Deliberativo foi obrigado a se reunir em sessão especial por causa de um bode que deu num dos eventos sociais da agremiação.

Alguns conselheiros já sabiam vagamente do que se tratava, mas a maioria estava por fora, boiando no assunto. É que a grave ocorrência se dera em circunstâncias mais ou menos veladas.

Todavia, clube vocês sabem como é: um antro de fofocas que eu vou te contar. Num instante começaram os boatos, os blá-blá-blás regulamentares.

Afinal, reunidos os senhores conselheiros, foi explicado que, durante uma reunião dançante, um sócio tinha bolacheado a namorada, num cantinho discreto do salão. A coisa, no entanto, se esparramara pela sede. Ora, em clube de gente metida a diferente, aquilo era insuportável. Imaginem: um sócio exemplando a namorada numa dependência social.

Discutiu-se a matéria ad nauseam — como dizem os latinistas enjoados — mas aí um dos conselheiros garantiu que a coisa não fora bem assim. Um sócio tinha, realmente, baixado a manopla numa mulher, mas não era namorada, era esposa.

Ora, isto agravava o caso. Um homem que não sabia respeitar a própria "patroa" (em clube usa-se muito chamar a mulher de "patroa", assim como no Lioris eles chamam de "domadora"), era indigno do quadro social.

Discutiu-se a matéria outra vez e aí outro conselheiro afirmou que tinham visto e lhe contado que o sócio dera uma bolacha, de fato, mas fora numa bicharoca, e não numa mulher. Gravíssimo, pois!

Discutiu-se a matéria e o Conselho Deliberativo já ia deliberar, quando um dos membros viu-se na obrigação de contar tudo, garantindo aos seus coleguinhas que era pior ainda. Não fora um sócio, mas um diretor que batera na bicharoca.

Espanto geral! Mas que vexame! Sim, era, pior, porém: duas bicharocas é que tinham se esbofeteado por causa de um diretor.

A discussão — nesta altura — já era velada, tudo falando baixinho.

E aí o presidente do Egrégio Conselho Deliberativo foi obrigado a suspender a sessão e aconselhar a todos que não falassem mais nisso, pois acabava de ser informado ao ouvido, por um conselheiro discreto, que não foi o caso de duas bicharocas brigando por causa de um diretor, e sim dois diretores brigando por causa de uma bicharoca.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

A expectativa matrimonial

Bernardino, Bolão e Madureira eram três amigos inseparáveis. Viviam juntos e onde ia um, ia o resto. Pois bem: de repente o Bernardino sumiu. Passou uma semana sem aparecer no botequim e os amigos já estavam ficando preocupados.

Ficaram tão preocupados que chegaram a telefonar para o DOPS. É a atual conjuntura. Nego quando some, atualmente, ou tá viajando ou tá hospedado no Hotel Palace DOPS. Mas, felizmente, não era nada disso e dias depois o Bernardino apareceu.

Vinha com cara de cachorro que quebrou panela, e sentou-se à mesa do bar meio constrangido. Pediu uma cachaça e, enquanto era crivado de perguntas pelos outros dois pinguços, dava um riso de experiente e depois contava:

— Bem... eu fui dar uma de casado e me dei mal.

— Ué, por quê? — perguntaram os caneados de sousa.

— Não dá pedal, meu camaradinha. Eu arrumei uma grinfa e me maloquei uns dois dias. Depois, bem, depois eu pensei que dava pra gente fazer um casório pelo facilitário e foi aí que eu me estrepei. Foi só ela chegar lá em casa e começar a mandar brasa na minha felicidade.

E foi desfiando o seu rosário de queixas. A grinfa chegou no modesto apartamento de Bernardino e mandou logo pintar a sala. Jogou fora todas as garrafas vazias que estavam na área e que, embora vazias, já tinham dado algum prazer a ele. Era tudo coleção: Praga de Mãe, Respeita a Mulher do Sargento, Mocotolina, Sabugo de Ve¬lha, E Então? Cachaças de rótulos originais e que nunca mais apare¬ciam outras iguais. E o Bernardino continuava se queixando com justa razão.

— Além disso, mandou limpar a cozinha, arrumou meus sapatos, passou meus ternos, minhas camisas e mandou eu cortar o ca¬belo e fazer a barba.

— Bem, olha aqui, Bernardino — falou o Madureira — quanto à cachaça eu não dou razão a ela, mas quanto à arrumação, vamos lá...

— Que nada, rapaz! Dois dias depois ela estava igualzinha à minha primeira mulher. Cheia de intimidades, querendo beber no meu copo e querendo dormir agarrada comigo. O que é que há?

— Mas espera aí, Bernardino — disse Bolão — isto é onda de mulher casada. Elas faz tudo isso. Será que você não sabia?

— Você é gozado... Claro que eu sabia. Por isso é que não deu nada certo. O apartamento, além de pequeno, tinha o problema da Margarida, que não gostava dela.

— Ué, eu não sabia que você tinha cachorra!

— Que cachorra, rapaz! Margarida é o nome de minha esposa.



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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

Os abnegados

 Há uma página de Os Maias que não consigo esquecer.

Imaginem um ministro de Educação que não tinha cara, só tinha testa. Nem um mísero e escasso fio de cabelo.

Tamanha testa foi o seu destino e sua glória. Ele não precisava ciciar uma palavra, ou desdenhar um gesto, ou piscar um olho. A testa bastava e repito: — a testa era a evidência mesma do gênio.

Uma noite, está o nosso ministro numa recepção. Cercado de damas e cavalheiros por todos os lados. E, súbito, alguém fala na Inglaterra. S. exª achou bonito o nome, o som. Inglaterra.

E vira-se, então, para o Ega, que estava a dois passos. Pergunta-lhe:

— "Sabe se, na Inglaterra, há folhetinistas de pulso, como aqui? Talentos como os nossos?".

Primeiro, o Ega tem uma vertigem diante da testa inaudita.

Em seguida, informa: — "Lá não há literatura".

Diz então o ministro: — "Logo vi. Povo prático, essencialmente prático".

Eis o que eu queria dizer: — sou um pouco essa admirável testa de Os Maias. Em criança, só li folhetim. E ainda hoje, tanto tempo depois, ainda preservo a nostalgia dos Sue, dos Perez Scrich, dos Dumas pai, dos Ponson du Terrail. Outro dia, vou a uma festinha em casa de um amigo. E, de repente, vem a dona de casa, com um pratinho.

Pergunta: — "Aceita rocambole?". Esse nome arremessou-me no passado profundo. "Rocambole" era o nome de um herói de Ponson du Terrail e título também do próprio folhetim.

Disse, radiante: — "Pois não, pois não". E os dois ficaram justapostos na minha memória: — o personagem e o doce, o folhetim e o prato.

Essa mesma experiência proustiana tenho eu quando me chega uma carta anônima. E aí está uma marca de leituras pasmas. Como se sabe, a carta anônima é um dos artifícios mais felizes do velho folhetim. O marido a recebia (e o marido era sempre sórdido e obeso). Lá vinha escrito: — "Considere-se miseravelmente enganado". E se disparava a intriga romanesca. Na altura dos meus oito, nove, dez anos, daria tudo para receber uma torpe carta anônima.

Fiz a introdução acima para contar o que me sucedeu ontem.

Vou ler a minha correspondência e já no primeiro envelope tenho o impacto. É que a carta não trazia assinatura. Ah, o homem diz, na carta anônima, o que não ousaria dizer ao padre, ao psicanalista e ao médium, depois de morto. O menino do folhetim veio à tona. Comecei a ler.

Começava assim: — "Nelson, você é um traidor". Minha curiosidade assumiu proporções inéditas. Traidor, eu? Da pátria, talvez. Entre parênteses, assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

Em seguida, a carta anônima informa que sou traidor da própria classe. Qual delas? Tenho duas: — por um lado, faço jornalismo; por outro lado, faço teatro.

Segundo a carta, era traidor da classe teatral. Quando cheguei à última linha, voltei à primeira e reli tudo. Só então fui-me olhar no espelho. E vi, na minha cara, o esgar hediondo da traição.

Fica de pé a pergunta: — e por que traidor? Vejamos os fatos.

O Estado de S. Paulo fez um editorial, ou dois editoriais, que desagradaram a classe. E que faz a classe?

Reúne-se e, por unanimidade, resolve devolver os Sacis que o velho órgão distribui entre os melhores de cada ano, no cinema e no teatro. E, não satisfeita, a assembléia decidiu, e por outra unanimidade, uma passeata-monstro.

Mas, vejamos. A classe ia marchar contra quem? Aqui começa o doloroso, o comprometedor, o humilhante: — contra um jornal. Se os meus colegas saíssem pelas ruas paulistas decapitando marias antonietas e derrubando bastilhas, eu estaria admirando a ferocidade teatral. Mas a nossa vítima é uma redação, vejam vocês, uma redação.

Por outro lado, tenho algumas dúvidas perturbadoras.

O Saci é uma pequena estatueta. E se fosse um prêmio em dinheiro? Repito: — se o Saci fosse um cheque de 5 milhões de cruzeiros? E nem precisa tanto. Imaginemos um cheque mais modesto de 1 milhão ou menos do que isso: — de 500 mil cruzeiros antigos. Pergunto se os manifestantes devolveriam o dinheiro vivo.

Duvido, isto é, afirmo que ninguém devolveria um centavo. Portanto, vamos desconfiar de um desprendimento que não desembolsa um tostão. Nem considero a unanimidade um argumento decente.

Quanto ao meu caso pessoal, estou farto de repudiar unanimidades. Além disso, como eu sou um premiado, e não vou devolver Saci nenhum, não existe tal unanimidade. Mas, vamos admitir que todos, absolutamente todos, estejam contra O Estado de S. Paulo. Eu estaria a favor. Não me solidarizo com os erros, os equívocos, de minha classe. Diz a carta anônima: — "Uma classe não erra. Uma classe sempre tem razão".

Nada mais falso. Homens, classes ou povos são suscetíveis dos mais sinistros enganos ou das mais hediondas torpezas. O motivo e a origem de tudo foram dois editoriais. Que fossem duzentos. Qualquer jornal tem o direito de escrever como quiser e o que quiser, sem dar satisfações a ninguém. Falo por experiência própria.

Ao longo de vinte anos, fui o único autor obsceno do Brasil. E, durante esse período, fui chamado de "tarado" em manchete. Os críticos me xingavam de "cérebro doentio", de "caso de polícia", de "louco varrido". O dr. Alceu Amoroso Lima disse horrores de mim. Em momento nenhum, neguei-lhe o direito de me dizer tais horrores. Sempre quis a imprensa livre.

Diz a carta que a classe quer a liberdade. Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade. Dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura. A passeata que se fez é, precisamente, contra a liberdade de imprensa.

Queremos um teatro livre. E, ao mesmo tempo, pretendemos exercer uma censura, vejam vocês. Os censores da imprensa somos nós, atores, atrizes, autores. Em nome da liberdade, agredimos a liberdade. Ainda bem que o nosso heroísmo começou e acabou na devolução dos Sacis.

E assim o pessoal de teatro desceu do palco e foi às ruas, representar de libertário.

[22/6/1968]


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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Jair da Rosa Pinto, o Jajá-da-Barra-Mansa

As pernas muitos finas e o corpo muito magro de Jair escondiam uma canhota poderosíssima e um craque incansável que por 26 anos encantou a torcida brasileira. Mas não se limitava aos chutes terríveis. Era um armador espetacular, organizador de jogadas e exato nos passes que fizeram a festa de muitos artilheiros (caso do garoto Pelé, que Jair encontrou no Santos). Jogava mais com a cabeça do que com o coração, fato que muitas vezes era confundido com falta de fibra.

Jair Rosa Pinto nasceu em Quatis, RJ, em 21/3/1921, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28/7/2005 e foi um dos principais futebolistas das décadas de 1940 e 1950, ídolo da história do Palmeiras, Santos e Vasco.

Conhecido como Jajá-da-Barra-Mansa (visto que Quatis, hoje município emancipado, na época era distrito de Barra Mansa), começou jogando no Vasco da Gama, como amador nas categorias de base. Contudo, acabou saindo do clube por haver atletas demais, segundo o próprio jogador.

Começou a carreira profissional no Madureira, atuando como meia-esquerda, em 1938, quando formou um trio com os jogadores Lelé e Isaías, conhecido como Os Três Patetas. O trio fez tanto sucesso que acabou sendo contratado pelo Vasco da Gama em 1943, onde participou do Expresso da Vitória, considerado um dos maiores elencos da história do clube. Pelo Vasco fez 71 jogos, com 44 vitórias, 18 empates e nove derrotas, marcando 27 gols (média de 0,39 gol por jogo).

Ademir, Lelé, Isaias, Jair e Chico,  ataque demolidor do Expresso da Vitória de 1945

Em 1946 saiu do Vasco e foi para o Flamengo, segundo ele, por receber menos que outros jogadores no elenco.

Do Flamengo se transferiu para o Palmeiras em 1949, após a acusação de ter sido subornado no jogo em que o clube perdeu de 5x2 para o Vasco e ter tido sua camisa queimada pela torcida. Segundo Jajá, tudo não passou de um mal entendido espalhado pelo rubro-negro Ary Barroso, devido a um almoço entre ele e Major Póvoas, dirigente vascaíno da época.

No clube do Parque Antártica Jair ganhou o Paulista de 1950, o Torneio Rio-São Paulo de 1951 e a Copa Rio (Mundial Interclubes) de 1951.

Jair  pedindo raça, no "Jogo da Lama".
A passagem marcante no Palmeiras foi na final do Paulistão de 1950, quando o Alviverde enfrentou o São Paulo na final e precisava de um empate para ser campeão. No 1o tempo, o Tricolor abriu o placar. No intervalo, Jair gritou com o time pedindo raça e incentivando os palestrinos, ocorreu o empate debaixo de uma chuva torrencial no Pacaembu e com muita lama. Ao fim do jogo, os palestrinos saíram campeões, impedindo o tricampeonato do São Paulo. E a torcida, às lágrimas, comemorou carregando Jair,num dia de festa na cidade de São Paulo. O fato ficou conhecido como o "Jogo da Lama" e está registrado como um dia em que o Palmeiras venceu o campeonato com muita garra, enfrentando o poderoso São Paulo.

Em 1956 foi para o Santos, onde venceu três campeonatos paulistas (1956, 1958 e 1960). Ainda em 1957 voltar a vestir a camisa do Vasco num combinado Vasco-Santos numa série de três amistosos no Maracanã. Jair jogou no Santos F.C. já quando veterano (tinha quase 40 anos), mas é lembrado até hoje como membro da melhor linha do Santos (que não tinha Mengálvio e Coutinho). O melhor ataque do Santos foi a que o Palmeiras enfrentou no famoso 7X6 do Torneio Rio-São Paulo de 1958, formada por Dorval, Jair, Pagão, Pelé e Pepe. Esse ataque bateu o recorde de gols do paulistão em 58, com 143 gols, e o aumentou em 59 para 151 gols.

Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Um ataque arrasador em 1957.

Jair atuou em 41 partidas pela Seleção Brasileira (39 oficiais), com 25 vitórias, cinco empates, onze derrotas, marcando 24 gols (22 oficiais). Foi o artilheiro da Copa América de 1949, com 9 gols, recorde até hoje não batido. Foi vice-campeão na Copa do Mundo de 1950, jogada no Brasil, onde marcou um gol em cinco jogos disputados. Sobre a derrota para o time do Uruguai, na final travada no estádio do Maracanã, Jair declararia: "Isso eu vou levar para a cova, mas, lá em cima, perguntarei para Deus por que perdemos o título mais ganho de todas as copas, desde 1930".

Ainda jogou com brilho no São Paulo e depois na Ponte Preta onde encerrou a carreira em 1963, aos 42 anos. Foi ainda técnico de oito clubes, mas sem conseguir alcançar o sucesso que teve como jogador.

Depois de aposentado, estabeleceu-se no bairro da Tijuca, onde era um popular freqüentador dos cafés da Praça Sáenz Peña. Jair morreu aos 84 anos, de embolia pulmonar após uma cirurgia e teve seu corpo cremado.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.

O poema de Gilgamés

Gilgamesh
No fim do século passado foram descobertas, na colina de Kuyundjik, doze placas de argila, escritas em acádico, que descrevem uma epopéia heróica: o Poema de Gilgamés. Gilgamés foi rei de Uruk na Babilônia, hoje Iraque.

O vitorioso herói seria dois terços deus e um terço homem e sua epopéia descreve episódios tão extraordinários que não poderiam ter sido inventados por nenhum ser inteligente da época nem por tradutores e copistas dos séculos subseqüentes.

O poema contém o relato exato do dilúvio, concorrente em "originalidade" com o da Bíblia: conta Utnapishtim (ele e sua esposa foram os únicos mortais à quem os deuses teriam dado a "vida eterna") - que os deuses o advertiram da grande maré vindoura e lhe deram ordem para construir um barco, onde deveria recolher mulheres e crianças, seus parentes e artesãos de qualquer ramo de arte. A descrição da tempestade, das trevas, das águas subindo e do desespero dos homens que ele não podia levar, é de uma força narrativa ainda hoje cativante.

Outra surpresa está na sétima placa: o primeiro relato de uma viagem cósmica, comunicado por Enkidu (uma espécie de humanóide gigante, peludo e melhor amigo de Gilgamés), que teria voado por quatro horas nas "garras de bronze de uma águia"... O relato textual:

"Ela me falou:

- Olha para baixo sobre a Terra!
- Que aspecto tem?
- Olha para o mar!
- Como te parece?

E a Terra era como uma montanha, e o mar como uma poça d'água.

E novamente voou ela mais alto e me falou:
Fragmentos de um das tábuas que contém a epopéia
- Olha para baixo sobre a Terra!
- Que aspecto tem?
- Olha sobre o mar!
- Como te parece?

E a Terra era como um jardim, e o mar como um córrego.

E voou além:

- Olha para baixo sobre a Terra!
- Que aspecto tem?
- Olha sobre o mar!
- Como te parece?

E a Terra parecia um mingau de farinha, e o mar era como uma barrica d'água" (Esta mesma descrição foi dada pelos astronautas da Apollo 11...). É um relato correto demais para ser puro produto da imaginação! Quem poderia descrever esta visão em um tempo onde não tinha-se idéia de com seria o planeta "visto de cima"? Ainda na mesma placa está o relato de que uma porta falava com um vivo, não seria um auto-falante?...

Fonte: http://www.josevalter.com.br/misterios/poema_gilgames.htm

Otília Amorim

A atriz e cantora Otília Amorim nasceu no Rio de Janeiro/RJ em 13/11/1894 e faleceu em São Paulo/SP, circa 1970. Estudou num colégio de freiras, até que dificuldades financeiras da família levaram à interrupção de seus estudos.

Estreou como artista em 1910 atuando como atriz no filme Vida do Barão do Rio Branco, de Alberto Botelho. No ano seguinte estreou como corista no Teatro de revistas com Peço a palavra, no Teatro Carlos Gomes do Rio de Janeiro.

Era uma completa atriz de revista. Dançava, era caricata, representava, era bonita e desembaraçada, com total domínio da platéia, foi, segundo o poeta Orestes Barbosa, "a precursora do samba no palco". Grande dançarina de maxixes, seu primeiro papel importante foi de Olga na opereta Ela encenada no antigo Teatro Chantecler.

Trabalhou em muitas companhias teatrais, dentre as quais a de Carlos Leal e Procópio Ferreira. Trabalhou com Leopoldo Fróes, com quem excursionou pela Bahia e Pernambuco, até ingressar no Teatro São José, onde estreou em 1918, na burleta Flor do Catumbi, de Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt, com música de Júlio Cristóbal e Henrique Sánchez.

Em 1919, voltou ao cinema, atuando nos filmes Alma sertaneja e Ubirajara, ambos de Luís de Barros. No ano seguinte, apresentou-se no Teatro São José cantando com grande sucesso, ao lado de Álvaro Fonseca a marcha Pois não, de Eduardo Souto e Philomeno Ribeiro, no quadro Gato, Baêta e Carapicu, na revista Gato, baeta e carapicu, de Cardoso de Meneses, Bento Moçurunga e Bernardo Vivas.

Em 1922 , exibiu-se com sua própria companhia no Teatro Recreio, excursionando em seguida por São Paulo e Rio Grande do Sul. Na revista Se a moda pega, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses com música de Henrique Vogeler, encenada em 1925 no Teatro João Caetano, interpretou a marcha Zizinha, de Freitinhas.

Sua discografia é pequena, e se iniciou somente em 1931, com cinco discos para a Victor, de onde se destacam o samba Eu sou feliz e o samba batuque Nego bamba, ambos de J. Aimberê. Neste mesmo ano, participou do filme Campeão de futebol, de Genésio Arruda. Ainda na mesma época, gravou do maestro pernambucano Nelson Ferreira, o samba Tu não nega sê home.

Em 1932 estreou no Teatro recrio a revista Calma, Gegê!, onde interpretou o grande sucesso da temporada, a marcha Gegê, de Getúlio Marinho. No mesmo ano gravou na Columbia a marcha Napoleão, de Joubert de Carvalho.

O escritor e musicólogo Mário de Andrade, no Compêndio de História da Música, relacionou entre seus sambas preferidos, quatro gravados por ela: Nego bamba, Vou te levar, Eu sou feliz e Desgraça pouca é bobagem.

Após casamento com empresário paulista, retirou-se da vida artística. Em 1963, recebeu a medalha Homenagem ao Mérito, da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, por sua dedicação ao teatro brasileiro. Em 1989, o selo Revivendo lançou o LP Sempre sonhando com interpretações suas e de Gastão Formenti, Alda Verona, Raul Roulien.

Fonte: Cantoras do Brasil - Otília Amorim; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

Nair Bello

Nair Bello
Nair Bello (Nair Bello Sousa Francisco), atriz e comediante, nasceu em São Paulo SP, em 28/04/1931, e faleceu na mesma cidade, em 17/04/2007. Neta de italianos, começou a trabalhar como locutora na Rádio Excelsior quando tinha 18 anos.

Dois anos depois de seu início de carreira, estreou no cinema em Liana, a Pecadora (1951), filme em que contracenou com sua grande amiga Hebe Camargo.

O teatro a conheceria anos mais tarde, em 1976, em Alegro Desbum, peça de Oduvaldo Vianna Filho.

Em 1953, Nair Bello se casou com Irineu de Sousa Francisco, com quem viria a ter os filhos Manuel (morto em 1975, aos vinte anos), José, Maria Aparecida e Ana Paula.

Seu grande sucesso acabou se dando com a TV. Nair começou como garota-propaganda e participou de diversas novelas e minisséries em 1958. Em 1960 participou como atriz coadjuvante no seriado infantil A Turma dos Sete, na TV Record.

Um de seus personagens de maior destaque foi Dona Santinha, a dona da pensão, que usava o seu tamanco para se defender dos trapaceiros. O quadro humorístico "Epitáfio e Santinha" foi uma criação de Renato Corte Real, em 1961, na TV Record, no programa Grande Show União, baseado na antiga história em quadrinhos Pafúncio e Maroca. Ela ficou no ar com Dona Santinha e com o também humorista Pagano Sobrinho, durante três anos, a partir de 1959/1960, na TV Record, indo depois para a TV Rio. Estrelou o seriado Dona Santa, exibido pela Bandeirantes entre 1981 e 1982, com grande sucesso, onde interpretava uma taxista que sustentava a família.

Em 2005 foi convidada junto a Hebe Camargo e Lolita Rodrigues para uma entrevista no Programa do Jô e falaram sobre o tão temido hino à 'televisão brasileira' .

Seu último trabalho foi pela Rede Globo, fazendo parte do programa Zorra Total, no papel de "Dona Santinha".

Em 2002 ela foi operada devido a um edema pulmonar agudo causado pelo fumo. No mês de outubro de 2006 Nair Bello retirou um tumor maligno de um dos seios. Faleceu em 17 de abril de 2007 de falência múltipla dos órgãos, após ter passado vários meses em coma na UTI em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Foi sepultada no Cemitério do Araçá em São Paulo, Brasil.

Em mais de 50 anos de carreira, Nair Bello participou de filmes e, na televisão, de várias novelas e minisséries. As personagens ítalo-paulistanas eram aquelas que desempenhava à perfeição. 

Fontes: Wikipedia; Biografia UOL.