quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Toninho Guerreiro, o príncipe da grande área

Pelé vinha conquistando seguidamente a artilharia do campeonato paulista quando, em 1966, seu companheiro de time Antônio Ferreira, mais conhecido por Toninho Guerreiro, acabou com a hegemonia do Rei. Naquele ano, Toninho marcou 27 gols. Ele ainda se tornaria outras duas vezes artilheiro, em 1970 com treze gols e 1972 com quinze, ambas jogando pelo São Paulo. Jogador raçudo e com excelente visão de gol, Toninho conseguiu ainda outro feito inédito: o de ser o único jogador pentacampeão paulista (um tri pelo Santos de 1967 a 1969 e um bi pelo São Paulo de 1970 e 1971).

Antônio Ferreira nasceu em Bauru, SP, em 10 de agosto de 1942, e começou sua carreira no time de sua cidade natal, o Noroeste, equipe na qual jogou de 1960 a 1962. Em seguida, fez história no Santos e no São Paulo. Depois de Coutinho, foi o parceiro de Pelé que mais fez sucesso no Santos.

Foi definido pela revista Placar como "um centroavante que fica andando pelo campo e, de repente, com um chute maluco, mete um gol". Ficou conhecido como o único pentacampeão do campeonato paulista.

Segundo contava, deixou de ir à Copa do Mundo de 1970, no México, quando os médicos lhe diagnosticaram uma "sinusite". Isso teria sido, na verdade, um pretexto para a convocação em seu lugar do jogador Dario (ex-Atlético-MG), em atendimento a um "desejo" do então presidente da época, Emílio Garrastazu Médici.

Toninho faleceu em São Paulo, SP, em 26 de janeiro de 1990. O peso, a boemia e o cigarro foram minando o corpo de um dos mais competentes centroavantes que o Brasil teve em todos os tempos.

Clubes que atuou

Noroeste-SP: 1960 a 1962 e 1975; Santos: 1962 a 1969; São Paulo: 1969 a 1973; Flamengo: 1974.

Títulos

Santos: Copa Intercontinental - 1963; Recopa Intercontinental - 1968; Taça Libertadores da América - 1963; Recopa Sul-americana - 1968; Taça Brasil - 1964, 1965 e 1968; Torneio Rio-São Paulo - 1963, 1964 e 1966; Campeonato Paulista - 1967, 1968 e 1969.

São Paulo: Campeonato Paulista - 1970 e 1971.

Artilharia

Recopa dos Campeões Intercontinentais: 1968 (1 gol); Taça Libertadores da América: 1972 (06 gols); Campeonato Brasileiro de Futebol: 1968 (18 gols); Campeonato Paulista: 1966 (24 gols); Campeonato Paulista: 1970 (13 gols); Campeonato Paulista: 1972 (17 gols).

Recordes

Único pentacampeão paulista da história do futebol: 1967 a 1971. Quarto maior artilheiro da história do Santos Futebol Clube - 283 gols; Nono maior artilheiro do Santos no Torneio Rio-São Paulo - 10 gols.

Fontes: Revista Placar; Wikipédia; Que Fim Levou?.

O costume de bater na madeira

Como surgiu o costume de bater na madeira para afugentar o azar? Isso é muito antigo, provavelmente um costume de origem celta: seus sacerdotes, os druidas, batiam na madeira para afugentar os maus espíritos, acreditando que as árvores consumiam os demônios e os mandavam de volta à terra.

Já na Roma Antiga, batia-se na madeira da mesa, peça de mobília também considerada sagrada, para invocar as divindades protetoras do lar e da família.

Outra versão diz sua origem no fato de os raios caírem freqüentemente sobre as árvores. Os povos antigos - desde os egípcios até os índios do continente americano - teriam interpretado esse fato como sinal de que tais plantas seriam as moradas terrestres dos deuses. Assim, toda vez que se sentiam culpados por alguma coisa, batiam no tronco com os nós dos dedos para chamar as divindades e pedir perdão.

Se antes se procurava um tronco para as tradicionais pancadinhas, no ambiente urbano as pessoas começaram a procurar mesas, portas, o que fosse feito de madeira para o mesmo ritual.

Fonte: Mundo Estranho; Boa Sorte.

Farol de Alexandria

Na ilha de Faros - hoje uma península situada na baía da cidade de Alexandria, no Egito, e ligada por mar ao porto desta -  ergueu-se uma torre para servir como um marco de entrada para o porto e, posteriormente como farol. "Faros" em grego significa farol. Modelo para a construção dos que o sucederam, o Farol de Alexandria foi classificado como a segunda maravilha do mundo.

Todo de mármore e com 120 metros de altura - três vezes o Cristo Redentor no Rio de Janeiro -, foi construído por volta de 280 a.C. pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnidos, por ordem de Ptolomeu II, rei grego que governava o Egito. Diz a lenda que Sóstrato procurou um material resistente à água do mar e por isso a torre teria sido construída sobre gigantescos blocos de vidro. Mas não há nenhum indício disso.

Com três estágios superpostos - o primeiro, quadrado; o segundo, octogonal; e o terceiro, cilíndrico -, dispunha de mecanismos que assinalavam a passagem do Sol, a direção dos ventos e as horas. Por uma rampa em espiral chegava-se ao topo, onde à noite brilhava uma chama para guiar os navegantes. Compreende-se a avançada tecnologia: Alexandria tinha-se tornado naquela época um centro de ciências e artes para onde convergiam os maiores intelectuais da Antigüidade.

Cumpria-se assim a vontade de Alexandre, o Grande, que ao fundar a cidade, em 332 a.C., queria transformá-la em centro mundial do comércio, da cultura e do ensino. Os reis que o sucederam deram continuidade a sua obra. Sob o reinado de Ptolomeu I (323-285 a.C.), por exemplo, o matemático grego Euclides criou o primeiro sistema de geometria. Também ali o astrônomo Aristarco de Santos chegou à conclusão de que o Sol e não a Terra era o centro do Universo.

Calcula-se que o farol tenha sido destruído entre os séculos XII e XIV. Mas não se sabe como nem por quê.

Em 1994, um time de arqueológicos mergulhadores, utilizando uma série de equipamentos sofisticados (localizadores via satélite, medidor eletrônico de distância e etc), encontraram sob as águas de Alexandria grandes blocos de pedra e estátuas do farol.

Fontes: Wikipedia; Superinteressante.

El sombrero

Cena: região inóspita e de vegetação raquítica, com um vento leve a suspender a poeira, enfim, uma paisagem de região subdesenvolvida. Ao fundo uma igreja tosca de onde vem o murmúrio dos fiéis rezando.

Nisso surge um mexicano daqueles, de bigode escorrido, sombrero enterrado até as sobrancelhas e olhar preguiçoso, de olhos semicerrados. Debaixo do braço um violão e no andar a displicência de todos os mexicanos.

Pára à porta da igreja, olha lá pra dentro e resolve entrar, sem se dignar a tirar o sombrero. Desrespeitosamente entra com ele en¬terrado na cabeça, sempre abraçado ao violão. Uma senhora de preto e ar compungido que está no último banco, olha-o e chama a sua atenção:

— Senor, el sombrero!

O mexicano parece não a ter ouvido e continua a caminhar de¬vagar pelo corredor entre os bancos. Logo uma outra senhora, aler¬tada pelo protesto da primeira, interrompe suas orações e sussurra ao seu ouvido:

— El sombrero, senor!

Mas o mexicano não dá importância e continua sua caminhada:

— El sombrero — reclama um velho exaltado, de dedo no nariz do mexicano, que passa por ele sem o menor sinal de atenção.

Pouco a pouco todos os presentes estão a exigir que tire o chapéu e os gritos de "el sombrero" partem praticamente de todas as bocas:

— El sombrero, el sombrero, el sombrero.

O mexicano impávido. Até parece que não é com ele. É quando o sacristão resolve tomar uma atitude e, já no fim do corredor, agarra-o pelo braço e diz:

— El sombrero, por favor!

Então o mexicano pára, olha em volta com seu olhar preguiçoso e, empunhando o violão, diz:

— Ya que ustedes insisten... De Perez y Gimenez, cantaré "El Sombrero".
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Sobre vaidade

Há tempos, contei o caso do ministro que foi, pela primeira vez, à televisão. A família tremeu em cima dos sapatos. E não sei se a própria mulher, uma tia, ou uma cunhada, deu a sugestão espavorida: — "Toma banho! Toma banho!". E porque não lhe ocorrera a idéia do banho, o ministro julgou-se um vencido.

Imediatamente, a esposa se arremessou. Podia ser banho de chuveiro. Mas, como ele ia falar na TV, a santa senhora achou que devia ser banho de imersão. Encheu a banheira. Temperou a água. E o banho ministerial foi digno de Paulina Bonaparte. Do lado de fora, a mulher comandava: — "Esfrega bem! Esfrega bem!". Uma tia cochichou: — "Debaixo do braço!". E a mulher mais alto: — "Debaixo do braço, ouviu?".

Súbito, alguém veio dizer à esposa: — "Homem não sabe tomar banho. Não se limpa direito". Vozes a instigavam: — "Vai lá! Vai lá!". E ela foi. Quando s. exa. saiu, era o membro mais limpo do governo.

E, assim, esfregado pela própria mulher e mais perfumado do que uma noiva, lá se foi o ministro. Ele, só, não. Levava um acompanhamento estarrecedor. Parecia uma passeata de parentes. Havia, na família, uma solteirona de García Lorca. Chamada, não queria ir. Quase a laçaram; e a velha estrábica (era estrábica) teve que se incorporar à massa familiar.

O ministro entrou na estação em ânsias, palpitações sufocantes. Não acreditava em nada, era um ateu nato e hereditário. Todavia, na hora de ir para o ar, vira-se para a mulher: — "Reza por mim! Reza por mim!". E, com uma dispnéia pré-agônica, encaminhou-se para o abismo. Sim, a televisão era, para S. Exa., um abismo voraz e inédito.

Na frente das câmeras e dos microfones, deixou de ser o poder, o governo, a autoridade. Era o contínuo de si mesmo. Houve um momento em que, em pleno ar, teve sede. Apanhou o copo com as duas mãos. Mas parte da água voltava como uma baba.

Já não me lembro por que é que estou contando tudo isso. Ah, já sei, já sei. Eu queria demonstrar o óbvio, isto é, que a televisão fascina qualquer um. O sujeito pode ser rei, ou rainha, ou anjo, ou santo. Mas atravessa três desertos para entrar no programa do Chacrinha, da Dercy ou da Bibi.

Cabe então a pergunta: — e por que esse deslumbramento?

Vamos lá. Primeiro, porque, normalmente, cada um de nós é um ator sem platéia. Representamos, no máximo, para uma namorada, para meia dúzia de familiares, meia dúzia de vizinhos, meia dúzia de credores. E o sujeito que entra no Chacrinha sai de lá célebre. Aparece para milhões. E essa celebridade fulminante é a maior delícia terrena.

E quem fala para tantos pode, com uma frase, fundar uma religião, com outra frase derrubar um império, com uma terceira frase decapitar várias marias antonietas. De mais a mais, a simples imagem nos confere uma nova dimensão. Pois não há idiotas no vídeo.

Lembro-me de um outro ministro. Alguns espíritos, estreitamente positivos, afirmam que é débil mental de babar na gravata. Foi para a televisão e parecia um Disraeli. E De Gaulle, que fez De Gaulle, quando viu a França sob a brutal ocupação francesa? Correu à TV e anunciou: — "Eu sou a Revolução!".

Isso, dito cara a cara, e para meia dúzia, não convence ninguém. Mas uma platéia de 20 milhões não pensa. E não precisou polícia, nem exército, nem bazuca. Uma frase bastou. Sem nenhuma repressão sangrenta, o único francês vivo liquidou o que ele próprio chamou de "carnaval". Baixou sobre a França uma súbita quarta-feira de Cinzas. O que restou de tudo foi a ressaca do caos ululante.

E se alguém disser na televisão que é Joana D'Arc, será Joana D'Arc. Portanto, a França e colônias (se sobrou alguma colônia), todo mundo acreditou que De Gaulle era a própria Revolução de esporas e penacho.

Aqui mesmo tivemos o encontro de Carlos Lacerda e d. Hélder. Iam fazer um diálogo. Mas o diálogo foi monólogo. Só Lacerda falou. O arcebispo disse um "oba" à entrada e um "até logo" à saída.

Por que tal silêncio? Por dois motivos: — primeiro, porque d. Hélder só se interessa por d. Hélder; segundo, porque é um arcebispo de TV, um santo de TV. Ele próprio o disse: — "Não sou um Guevara de salão". É um Guevara de TV. Carlos Lacerda era um único e escasso espectador. D. Hélder só falaria para milhões de carlos lacerdas.

Eis o problema: — ninguém quer mais posar para meia dúzia. O nosso gesto, a nossa ênfase, a nossa careta pedem a grande comunicação, a formidável audiência. Aí está a minha CLASSE.

No passado, era-se atriz, ator, diretor para uma platéia de poucos. Mas hoje o palco passou a ser a pior forma de solidão. Diante dos 150 gatos-pingados de cada sessão, a Duse ou o Zaconi sente-se um Robinson Crusoé sem radinho de pilha. Instalou-se em cada um de nós, do teatro, a utopia das platéias fantásticas.

Disse-me o dramaturgo Plínio Marcos que queria representar e ser representado no ex-Maracanã, hoje Mário Filho, para uma platéia de Vasco x Flamengo, de Santos x Corinthians. Cada um de nós queria ser um Santos x Corinthians, um Vasco x Flamengo. Ou ainda: — qualquer um de nós gostaria de ser, na pior das hipóteses, uma preliminar de Fla-Flu.

Foi a televisão, claro, que nos deu essa obsessão numérica das grandes massas. Volto ao teatro. Lembro-me de um ator que me dizia, patético: — "Eu queria morrer no palco". Um outro, mais radical, além de querer morrer no palco, gostaria de ter nascido no palco. E o palco seria, duplamente, berço e túmulo. Hoje, este último gostaria de nascer e morrer na TV, para milhões.

Por que todos gostamos de fazer passeata? Pode parecer que temos altíssimas e sutilíssimas razões políticas, ideológicas, revolucionárias etc. etc. Na verdade, e até prova em contrário, o que há é a vontade que cada qual tem de ampliar a sua platéia. Reparem como tudo é pretexto para passeata. Há uma greve de veterinários? A CLASSE sai à rua. Mas como, se ela nunca tratou de cachorro? Não importam os cães, sejam eles galgos ou vira-latas. O que interessa é a conquista de uma nova e incalculável platéia.

Outrora, as sacadas não iam ao teatro, os automóveis não gostavam de teatro, os edifícios abominavam o teatro. E a passeata incorpora à sua platéia ideal milhares de carros, e prédios, e esquinas, e avenidas etc. etc. Dirá alguém que é um público sem bilheteria. E pergunto: — e a vaidade? Hoje, há poetas, sociólogos, arquitetos, protéticos, cardiologistas que pagariam, do próprio bolso, para entrar na passeata.

Eu disse "vaidade". Aí está a palavra que explica tudo. O que nos induz à passeata é, digamos, uma vaidade de leitão assado. Se não entenderam a metáfora, tentarei justificá-la.

Imaginem um salão imenso. Banquete. Quinhentas pessoas sentadas, entre casacas e decotes. E, lá do fundo, um garçom traz na bandeja um leitão. Levado na bandeja em desfile, o leitão há de sentir uma vaidade total. Assim também o artista, o literato, o cineasta ou o padre de passeata.

O sujeito parece desfilar triunfalmente, numa bandeja imaginária, e de maçã na boca, como o leitão assado.

[6/8/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.