sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dorothy Lamour

Dorothy Lamour (Mary Leta Dorothy Slaton), atriz de cinema, nasceu em Nova Orleans, Louisiana, em 10 de dezembro de 1914, e faleceu em Los Angeles, California, em 22 de setembro de 1996. Lamour possuía o sonho de ser cantora. Foi Miss Nova Orleans no ano de 1931.

Chegou a trabalhar como ascensorista até que veio a se tornar vocalista na banda de Herbie Kay, seu primeiro marido (1935). Logo se separou, dando vazão ao sonho de conquistar Hollywood: aos 22 anos consegue seu primeiro papel num filme - uma "ponta" em "The Stars Can't Be Wrong", de 1936.

The Hurricane, 1937
Dorothy havia adotado o pseudônimo de Lamour baseado em Lambour apelido de seu padrasto Clarence, com quem sua mãe havia casado após divorciar-se de seu primeiro marido.

Ainda no ano de 1936 participou de outra película - justamente o papel que veio a construir sua imagem - como uma "garota das selvas", no filme dirigido por William Thiele, "Jungle Princess", bem ao estilo de Tarzan, célebre personagem de Edgar Rice Burroughs, como a selvagem Ulah, vestida em trajes mínimos e sensuais.

Este papel alavancou-lhe a carreira, tornando-a por muitos anos uma das atrizes mais cobiçadas, sex-symbol do cinema norte-americano, seu nome figurando dentres as divas das telas. A figura sensual, minimamente vestida para os padrões da época, despertaram a fantasia dos adolescentes de todo o mundo.

The Hurricane, 1937
Outros títulos importantes no início de sua carreira cinematográfica foram, "High, Wide and Handsome" (1937) de Rouben Mamoulian e "'The Hurricane" (1937) de John Ford. Em 1939 se divorciaria de Herbie Kay.

A década dos anos 40 foi a de maior sucesso para Dorothy Lamour, em especial por sua participação numa série de musicais começados por " Road to..." . Estes filmes de grande sucesso popular, estavam co-estrelados por Bing Crosby e Bob Hope. O primeiro seria "Road to Singapore" (1940) e logo seguiam Títulos como 'Road to Morocco" (1941), "Road to Rio" (1947), "Road to Balii" (1952), e "The Road to Hong Kong" (1962), entre muitos outros .

Nos anos 50 Após estrelar filmes como "The Greatest Show on Earth" de Cecil B. De Mille, se retira do cinema por longa temporada ocupando-se em cuidar da família em Baltimore e atuar em teatro musical.


Na década de 60 retornou as telas para trabalhar em "Donovan's Reef" (1963), de John Ford e "Pajama Party" (1964), uma comédia dirigida por Don Weiss.

Em 1949, casou-se com o executivo de publicidade Willian Ross Howard III, com quem ficaria até 1978, ano em que ele faleceu.

Dorothy Lamour faleceu em 21 de setembro de 1996 aos 81 anos.



Filmografia

Creepshow 2 (1987)
Death at Love House (1975)
Pajama Party (1964)
Donovan's Reef (1963)
The Road to Hong Kong (1962)
The Greatest Show on Earth (1952)
Road to Bali (1952)
Slightly French (1949)
Lulu Belle (1948)
The Girl From Manhattan (1948)
Road to Rio (1947)
Wild Harvest (1947)
My Favorite Brunette (1947)
Road to Utopia (1945)
Masquerade in Mexico (1945)
A Medal for Benny (1945)
Rainbow Island (1944)
And the Angels Sing (1944)
They Got Me Covered (1943)
Riding High (1943)
Dixie (1943)
Road to Morocco (1942)
Beyond the Blue Horizon (1942)
The Fleet's In (1942)
Road to Zanzibar (1941)
Caught in the Draft (1941)
Aloma of the South Seas (1941)
Johnny Apollo (1940)
Road to Singapore (1940)
Typhoon (1940)
Moon over Burma (1940)
Chad Hanna (1940)
Disputed Passage (1939)
Best of the Blues (1939)
Man About Town (1939)
The Big Broadcast of 1938 (1938)
Spawn of the North (1938)
Her Jungle Love (1938)
Tropic Holiday (1938)
The Hurricane (1937)
Swing High, Swing Low (1937)
Last Train From Madrid (1937)
Thrill of a Lifetime (1937)
High, Wide and Handsome (1937)
Jungle Princess (1936)

Fontes: wikipédia; Nostalgia BR.

Não me tire a desculpa

Vocês se lembram daquele cara sobre o qual eu contei uma historinha; um cara que era tão mal-acabado que só não era mais feio por falta de espaço? Pois o cara desta historinha é pior. Se feiúra fosse dinheiro, ele todo ano ia à Europa. Perto dele Frankenstein era Marta Rocha.

Mas, para vocês verem como são as coisas: embora fosse um tremendo filhote de Drácula, o cretino tirava sarro de conquistador. Andava bacaninha, com paletó lascado atrás, gravata italiana, abotoadura de ouro, calças dessas tão apertadinhas que pareciam ter sido costuradas com ele dentro.

E freqüentador, também. Metia um jantar na Hípica, de vez em quando, e, embora não fosse sócio-atleta, comia salada de alfafa, para não engordar. E nisto talvez tivesse razão. Gordo seria pior. O magro horrendo pode ser mais fantasmagórico, mas o impacto de sua feiúra é menor do que a do gordo horrendo.

O que não lhe ia bem era a pretensão. Entrava no bar e ficava encostado ao balcão, fazendo olhares para as mulheres. Bebia uísque com pose de quem está bebendo veneno por desprendimento e, quando acendia um cigarro, tirava aquela baforada farta, só para fazer olhar misterioso por trás da fumaça.

Um dia um amigo meu surpreendeu-o num restaurante, comendo "pão-sexy". Eu nem sabia que existia esta bossa. Mas o amigo me explicou. O "pão sexy" é aquele truque que o conquistador, que costuma trabalhar na faixa do durão com mulher, gosta de empregar em lugar público onde tem a possibilidade de mastigar. O conquistador senta num canto e fica olhando fixo para uma dona dos seus desejos secretos. Quando o olhar começa a ficar insistente, segura um pedaço de pão e aguarda. Na hora em que a dona, disfarçadamente, vai conferir para ver se o chato ainda conserva o olhar insistente, ele dá o golpe do "pão-sexy"; isto é; morde o pão e arranca um pedaço com violência.

Ah, estraçalhadora! Diz que tem mulher que vibra com esta besteira, sentindo-se mordida "in loco" pelo carrasco. Eu, por mim, acho que mulher que vibra com o golpe do "pão-sexy" só deve ser de Bangu pra cima, mas hoje em dia, com o "lockout" da finura, é bem possível que as grã-finas tenham aderido e se encontre uma ou outra que aprecie as manobras do "pão-sexy" até mesmo no bar do Iate. Ainda mais porque o cara de que eu estou falando vai muito lá.

Como todo conquistador que se preza, é também um difamador, o cara esse. Quando se fala em determinada mulher, perto dele, ele fica fazendo um olhar entre o displicente e o saudoso, até que a pessoa que fala da mulher não resiste e pergunta:

— Você conhece ela?

Ele conhece vagamente, mas dá a entender justamente o contrário, e deixa no ar aquele cheirinho de dúvida, ao responder:

— Deixa isso pra lá! Vamos falar de outra coisa! Águas passadas, águas passadas.

No entanto, ali não passa água nenhuma. Tal tipo de cretino não apanha nem goiaba no pomar. Os sujeitos que agem assim estão perfeitamente enquadrados no substancioso manual de Freud (página 4 na edição de bolso). É exatamente porque não apanha ninguém que o cara toma essas atitudes.

Talvez a vida trepidante da atualidade incentive esse tipo de gente. Hoje em dia não se tem tempo para reparar se a pose do próximo condiz com a realidade e, assim, vai-se aceitando o cocoroca como ele diz que é. E não como ele é realmente.

Todo mundo sabia — pois estava na cara — que o sujeito desta historinha era mais feio que a necessidade, mas ninguém tinha ainda reparado que ele não apanhava ninguém. Estava sempre se curando de um amor ou com um amor a brotar, mas as mulheres, mesmo, ninguém via com ele.

E este importante detalhe só veio à luz no dia em que um amigo rico disse a ele que tinha montado um apartamento legalérrimo. Tinha tudo. Vitrola, gravador, geladeira, uísque, luzes indiretas, ducha, ar refrigerado, entrada independente. O fino do esconderijo.

Por ser — como ficou dito — um cavalheiro cheio da erva, ofereceu o imóvel suspeito ao "conquistador". Falou nas vantagens do dito e acrescentou:

— Você querendo usar de vez em quando, eu te dou o endereço e uma duplicata da chave.

Mas aí era duro demais para o cara sustentar sua atitude. Engoliu em seco e disse pro outro:

— Muito obrigado! Mas, por favor, não me diga onde é, nem me dê a chave. A única desculpa que eu terei, no dia em que desconfiarem do meu sucesso com mulher, é esta.

— Esta qual?

— Dizer que não tenho onde levar.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Diálogo de festas

Iam os dois sentados no banco da frente. O ônibus era desses que levam oitocentos em pé e duzentos sentados. Mas ia meio vazio, naquela hora da madrugada. Pelo tempo que eu fiquei parado junto ao poste esperando-o, aquele devia ser o último ônibus do ano.

Mas isto não importa. O que me interessava — pelo menos naquele momento — era a conversa dos dois, no banco da frente.

Um era magrelinha, desses curvadinhos para a frente, vergado ao peso da vida. O outro parecia mais velho, mas era espigadinho. O cabelo ralo, mais grisalho do que o do companheiro.

No momento, quem falava era o espigadinho:

— Eu não cheguei a ver castanha, a não ser em vitrina, é lógico.

— Eu vi! — disse o vergado: — Eu tenho um vizinho... o Alcides, você conhece. Aquele que a filha fugiu com um sargento da Aeronáutica!

— Ainda está com ele?

— As castanhas?

— Não. O sargento da Aeronáutica, inda tá com a filha dele?

— Não. Com ela está é o filho que ele fez. Mas eu dizia: o Alcides comprou castanhas com o 13º. Ele trabalha numa firma que paga certo.

— Estrangeira?

— Deve de ser. O Alcides me mandou seis castanhas.

— Você é que é feliz!

— Feliz nada. Tive que dar pra outro. Tenho sete filhos, seis castanhas ia causar "problema".

O ônibus recebeu mais uns três ou quatro passageiros, que foram sentar lá na frente. A conversa entre os dois continuou. Ainda desta vez, quem falou primeiro foi o espigadinho:

— A mulher do patrão me deu uma camisa.

— Tava boa?

— Tava larga.

— Eu ganhei um sapato, por causa do serviço que eu fiz pra Dona Flora.

— Tava bão?

— Tava apertado.

O curvado jogou o toco de cigarro pela janela e deu um suspiro. O companheiro sorriu: — A gente devia fazer faxina pra dona que tem marido do nosso tamanho, assim o que a gente ganhasse delas no Natal pelo menos cabia na gente.

— Ganhar coisa larga é melhor que apertada.

— Ah é! Largo é melhor que apertado!

Ficaram calados, ruminando esta verdade natalina durante algum tempo. Depois um deles — já não me lembro qual dos dois — ponderou:

— Diz que este ano o comércio levou uma fubecada.

— Conversa. Tinha mais gente nas lojas que no ano passado. Ele sempre se queixa.

— Ué! Pra mim tanto faz. Quem não ganha já perdeu. Eu num tenho pra dar, também não posso ganhar.

Era um raciocínio honesto, cheio de experiência. Tanto que o outro balançou a cabeça, concordando. Mas advertiu o companheiro de que não podia se queixar do Natal. Afinal, ganhara uma cesta de festas.

— Todo ano eu consigo uma. Minha mulher gosta muito dessas cestas de Natal, pra guardar a roupa limpa e fazer a entrega pra freguesia. É fácil da gente arrumar essas cestas. Eles ganham elas, cheias de garrafas e latas de conserva. Depois de esvaziar até gostam quando a gente leva a cesta vazia pra nós.

O curvado pelo peso da vida ficou olhando pela janela e argumentou:

— Natal é bom por causa dessas novidades. Sempre sobra uma coisinha.

— Eu dei a cesta pra minha mulher. E tu? Que é que deu pra tua?

— Dei o sapato. Tava apertado ni mim, mas ela corta atrás e faz chinela.

Um deles fez sinal para o ônibus parar: — Eu salto aqui.

Deu um tapinha nas costas do outro e disse com a maior sinceridade, sem o mínimo laivo de ironia:

— Um feliz 1968 para você!

— Obrigado. Para você também!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora