quinta-feira, 17 de maio de 2012

Elizabeth Taylor dos olhos violeta

Elizabeth Taylor (Elizabeth Rosemond Taylor), atriz, conhecida como Liz Taylor, nasceu em Londres, Inglaterra, em 27/02/1932, e faleceu em Los Angeles, California, EUA, em 23/03/2011. Filha dos americanos Francis Leen Taylor (1897–1968) e Sara Viola Rosemond Warmbrodt (1895–1994), que se mudaram para os Estados Unidos em 1939. Começou a carreira cinematográfica aos 10 anos, quando foi pela Universal Pictures, filmando "There's One Born Every Minute". Estreiou na série infanto-juvenil “Lassie”. A partir de então, apaixonou-se pela profissão e assim concretizou o seu maior sonho.

Evoluindo como atriz talentosa e respeitada pela crítica, nos anos 50 filmaria dramas, como "Um lugar ao Sol", com o ator Montgomery Clift; "Assim Caminha a Humanidade", com Rock Hudson, ambos atores homossexuais e dos quais se tornou grande amiga. Nessa década faria ainda "A Última Vez Que Vi Paris", ao lado de Van Johnson e Donna Reed.

Liz, como foi mais conhecida, foi reverenciada como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos; a marca registrada são os traços delicados de seu rosto e seus olhos de cor azul-violeta, uma cor difícil de achar, emoldurados por sobrancelhas desenhadas e espessas, de cor negra. Seu talento e beleza chocavam qualquer pessoa, do mundo da mídia ou de fora dele.

Compulsiva colecionadora de jóias, adorava o brilho de brincos, colares, anéis e pulseiras, além de amar maquiagens, sapatos de grife, bolsas da moda e vestidos caros, mas mesmo sem tudo isso, em trajes simples e sem pintura, ainda assim era considerada de uma beleza muito rara. Os críticos da moda consideravam sua simetria de rosto e corpo ideais, os dois se encaixavam perfeitamente.

Ficou famosa também por ser uma hábil casamenteira, oito ao todo: Seu primeiro casamento foi com Conrad Nicholson Hilton em 1950, mas durou apenas um ano.

O mais famoso casamento foi com o ator britânico Richard Burton, seu 5º marido, notório pelo alcoolismo, com quem se casou duas vezes: De 1964 a 1974; e de 1975 a 1976. Fez duplas com ele em vários filmes nos anos 60, como o antológico "Cleópatra", o dramático "Quem tem medo de Virgínia Woolf?", em que ela ganhou o segundo Oscar, "Os Farsantes" e "A Megera Domada". Vencedora duas vezes do Oscar da Academia para Melhor Atriz, o primeiro em 1960 pelo papel da call-girl de "Disque Butterfield 8". Nessa década, com o reconhecimento do prêmio máximo do cinema mundial, consagrou-se como a mais bem paga atriz do mundo.


Com Michael Wilding, seu segundo marido, com quem foi casada de 1952 a 1957, teve dois filhos: Michael Howard Taylor Wilding, nascido em 1953, e Christopher Edward Taylor Wilding, nascido em 1955.

Com Michael Todd, seu terceiro marido, tendo sido casada com ele por 1 ano, teve uma filha em 1957, chamada Eliza Frances Todd, mas conhecida como Liza. Elizabeth Taylor ficou viúva em 1958, tendo de criar a filha sozinha, o que a fez sofrer pela perda de seu companheiro.

Liz Taylor em "Cleopatra" (1963).
Em 1959 se casou com o melhor amigo de seu marido, Eddie Fisher, com quem viveu até 1964, mas se envolveu com Richard Burton e o casamento terminou. Em 1964 casou-se com Richard e o casal resolveu adotar uma menina alemã, a quem batizaram de Maria Taylor Jenkins.

O casamento com Richard era muito conturbado, cheio de brigas e ciúmes, com indas e vindas, chegando a ficar separados por mais de seis meses. Nos anos 70, assumiu um relacionamento com o embaixador iraniano nos EUA, Ardeshir Zahedi, se divorciando de Burton, com quem já não era mais feliz, já que ele era agressivo, ciumento e bebia demais.

Sentindo que o que viveu com esse embaixador não passou de encontros sem importância para ele, que o próprio não queria ter nada sério, Liz resolveu separar-se dele. Sozinha e desiludida em encontrar um grande amor conheceu um novo homem, John Warner, um político. Foi casada com ele de 1976 a 1982.

Elizabeth Taylor - Janeiro de 1950.
Os anos passaram e ela não quis mais se casar, apenas namorar alguns homens e viver pequenas aventuras, até que conheceu Larry Fortensky. Apaixonou-se pelo caminhoneiro, e o casamento dos dois ocorreu em 1991 e foi realizado no Rancho Neverland, propriedade de seu amigo e cantor Michael Jackson. A separação ocorreu em 1996, por diferenças que ela classificava como irreconciliáveis. Ele foi seu último marido.

Em 1997, a atriz passou por uma delicada cirurgia para remover um tumor do cérebro.

Foi pioneira no desenvolvimento de ações filantrópicas, levantando fundos para as campanhas contra a AIDS a partir dos anos 80, logo após a morte de Rock Hudson. A despeito de ter nascido fora dos EUA, em 2001 recebeu do presidente Bill Clinton a segunda mais importante medalha de reconhecimento a um cidadão norte-americano: a “Presidential Citizens Medal”, oferecida pelos seus vários trabalhos filantrópicos. Nessa época se agravaram seus problemas de saúde, ganhando peso e sendo levada a internações recorrentes em hospitais.

Em 2009, foi submetida a uma cirurgia para substituir uma válvula defeituosa no coração. Ela usava uma cadeira de rodas havia mais de cinco anos para lidar com sua dor crônica na região cardíaca.

Em fevereiro de 2011, apareceram novos sintomas relacionados à sua insuficiência cardíaca. Não agüentando a dor no peito e a falta de ar, foi internada no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles para fazer uma cirurgia emergencial, mas não resistiu, e veio a falecer de parada cardíaca.

Liz morreu na manhã do dia 23 de março, aos 79 anos de idade.

Filmografia

1988 - Il Giovane Toscanini
1987 - Poker Alice (filme feito para a TV)
1986 - Cenas de Mulher (filme feito para a TV)
1985 - Malice in Wonderland (filme feito para a TV)
1983 - Between Friends (filme feito para a TV)
1980 - A Maldição do Espelho
1979 - Winter Kills
1977 - A Little Night Music
1976 - Victory at Entebbe (filme feito para a TV)
1976 - The Blue Bird
Queen of Light/Mother/Witch/Maternal Love
1974 - O Ocaso de uma Vida
1973 - Ash Wednesday
1973 - Night Watch
1973 - Divorce His - Divorce Hers (filme feito para a TV)
1972 - Hammersmith Is Out
1972 - Under Milk Wood
1972 - X, Y e Z
1970 - Jogo de Paixões
1969 - Ana dos Mil Dias
1968 - Secret Ceremony
1968 - O Homem que Veio de Longe
1967 - The Comedians
1967 - O Pecado de Todos Nós
1967 - Doctor Faustus
1967 - A Megera Domada
1966 - Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
1965 - Adeus às Ilusões
1963 - Gente Muito Importante
1963 - Cleópatra
1960 - Disque Butterfield 8
1960 - Scent of Mystery
1959 - De Repente, No Último Verão
1958 - Gata em Teto de Zinco Quente
1957 - A Árvore da Vida
1956 - Assim Caminha a Humanidade
1954 - A Última vez que vi Paris
1954 - Beau Brummell
1954 - No Caminho dos Elefantes
1954 - Rapsódia
1953 - The Girl Who Had Everything
1952 - Ivanhoé, o Vingador do Rei
1952 - Love Is Better Than Ever
1951 - Quo Vadis
1951 - Um Lugar ao Sol
1951 - O Netinho do Papai
1950 - O Pai da Noiva
1950 - The Big Hangover
1949 - Traidor
1949 - Quatro Destinos
1948 - Julia Misbehaves
1948 - A Date with Judy
1947 - Cynthia
1947 - Nossa Vida com Papai
1946 - Courage of Lassie
1944 - A Mocidade é Assim Mesmo
1944 - The White Cliffs of Dover
1943 - Jane Eyre
1943 - Lassie Come Home
1942 - There's One Born Every Minute

Fonte: biografia baseada na Wikipédia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sócrates, o calcanhar mágico

Doutor Sócrates
Tinha todos os defeitos para não vingar no futebol: fumava, bebia cerveja, treinava pouco, não suportava concentrações, tinha o pé pequeno (41) em relação à altura (1,91 m) e estudava Medicina. No entanto, tinha também as qualidades que forjavam os grandes craques. Frieza dentro da área, passes e toques perfeitos, excelente visão de jogo e vocação para marcar gols. Tanta categoria de um médico só poderia render o apelido de "Doutor". Para compensar a lentidão ao se virar, se valia do toque de calcanhar com uma eficiência nunca alcançada no futebol mundial. "Ele joga melhor de costas do que a maioria de frente", chegou a declarar Pelé. Inteligente e engajado, articulou o movimento que passou à história como “Democracia Corinthiana”, conquistando o Paulistão em 1979, 82 e 83.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira (Belém, PA, 19/02/1954 – São Paulo, SP, 04/12/2011), mais conhecido como Sócrates e também referido como Doutor Sócrates, Doutor ou Magrão, recebeu esse nome porque seu pai, que era apaixonado por literatura, estava lendo “A República de Platão” na época de seu nascimento. A família, originária de Messejana, Ceará, vivia em Belém do Pará, mudou-se para Ribeirão Preto, SP, quando o pai, funcionário público federal, foi transferido.

Em Ribeirão Preto, ingressou no colégio dos Irmãos Maristas, onde começa a prática esportiva e se apaixona pelo futebol. Na época torcia pelo Santos. Quando completou doze anos, sua numerosa família já estava completa, com seus cinco irmãos - Sóstenes, Sófocles, Raimundo filho, Raimar e Raí, então com um ano de idade.

Aos dezesseis jogava no time juvenil do Botafogo Futebol Clube de sua cidade. Aos dezessete, ingressou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, continuava jogando pelo Botafogo. No final de 1973, decide profissionalizar-se como jogador, sem abandonar o curso de medicina, que conclui em 1977, sem interromper sua carreira no futebol.

No Botafogo de Ribeirão Preto foi considerado um fenômeno desde o início, pois quase não treinava em função de frequentar o curso de medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). No ano de 1977 o Botafogo Futebol Clube contratou o treinador Jorge Vieira, que chegou ao clube dando o recado: "jogador que não treina, não joga". Sócrates achou que não jogaria mais futebol, porém Jorge Vieira, reconhecendo o talento de Sócrates, deu tratamento diferenciado ao jogador. Naquele ano Sócrates foi campeão da Taça Cidade de São Paulo 1977, disputando o título com o São Paulo no Morumbi e artilheiro do campeonato. Ainda pelo Botafogo, também se destacou no Campeonato Brasileiro, marcando um célebre gol de calcanhar contra o Santos na Vila Belmiro. Em 1978, deixou o Botafogo e transferindo-se para o Corinthians.

Sócrates se firmaria no Corinthians em 1978, refazendo a dupla com seu ex-companheiro no Botafogo Geraldão. Mas seus grandes companheiros de ataque nesse time seriam Palhinha e o amigo Casagrande. Sócrates passou a se dedicar mais ao futebol depois que se formou em medicina (1977). Na Seleção Brasileira estrearia em 1979 em um amistoso contra o Paraguai.

Foi uma das estrelas de times famosos em nível nacional e mundial: a Seleção Brasileira de Futebol da Copa do mundo de 1982 e do Corinthians da década de 1980, celebrizado pelo movimento da Democracia Corintiana. Na Copa de 1982 marcou dois gols contra as respeitadas equipes da URSS e Itália, mas isso não bastou para o Brasil se sagrar campeão. Também teve excelente atuação na Copa América de 1983, onde a seleção brasileira foi vice-campeã. Aos 30 anos faz uma rápida e decepcionante passagem pelo Fiorentina da Itália, entre 1984 e 1985.

Na Copa do Mundo de 1986 estaria novamente em ação, mas já fora de forma ideal. Ficaria ainda marcado pelo pênalti desperdiçado contra a França, na decisão que desclassificou o Brasil. Antes de encerrar a carreira (1989), ainda atuaria no Flamengo, no Santos e no Botafogo de Ribeirão Preto.

Logo após encerrar a carreira de jogador, tornou-se técnico do Botafogo. Em 1996, foi também técnico da equipe equatoriana LDU, mas demitiu-se alegando falta de profissionalismo dos jogadores.

Em 1999, atendendo a um convite de um antigo companheiro de seleção, Leandro, foi técnico da equipe carioca Cabofriense.

Fora do futebol, Sócrates sempre manteve uma ativa participação política, tanto em assuntos relacionados ao bem-estar dos jogadores quanto aos temas correntes do país. Na década de 1980, participou da campanha Diretas Já (1983- 1984) e foi um dos principais idealizadores do movimento Democracia Corintiana (1982- 1984), que reivindicava para os jogadores mais liberdade e mais influência nas decisões administrativas do clube. Era articulista da revista "Carta Capital" e do jornal "Agora São Paulo" e comentarista esportivo do programa "Cartão Verde" da TV Cultura.

Em agosto de 2011, foi internado na UTI do Hospital Albert Einstein devido a uma hemorragia digestiva alta causada por hipertensão portal. Após essa primeira internação, admitiu que tinha problemas de alcoolismo.

Após uma segunda internação em setembro, em dezembro de 2011, seria internado mais uma vez devido a uma suposta intoxicação alimentar, que acabou por se transformar em um grave quadro de choque séptico em razão de sua condição de saúde já debilitada. Sócrates faleceu às 4:30 da manhã de 4 de dezembro de 2011, em decorrência do choque séptico.

Sócrates foi sepultado no dia 4 de dezembro de 2011, no cemitério Bom Pastor, na cidade de Ribeirão Preto que, logo após o falecimento, decretou luto oficial.

Fontes: Revista Placar; Wikipédia.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Abacate tira a barriga

O abacate é rico em gordura e, consequentemente, tem muitas calorias (160 em 100 gramas). Por isso nem pense em exagerar. Você deve, sim, incluí-lo no cardápio com frequência e em doses moderadas, sozinho ou em receitas leves. Esse é o segredo para ajudar a secar a barriga - poder que vem (adivinha!) da gordura, segundo estudo da faculdade de medicina da Universidade Harvard.

Formada basicamente de ácido oleico (a mesma substância anti-inflamatória do azeite de oliva), a gordura do abacate reduz o risco de síndrome metabólica - desordem no metabolismo capaz de desencadear diabetes e ganho de peso.

Redutor de cortisol

Outro componente da fruta que favorece o emagrecimento é a glutationa. "Essa substância, presente naturalmente no organismo, é reforçada pelo o abacate. Resultado: maior controle nos níveis de cortisol, o hormônio do stress que, em excesso no organismo, dificulta a perda de peso", explica Daniela Jobst, nutricionista da Nutrijobst, em São Paulo.

Pior: faz você acumular gordura especialmente na barriga. A glutationa ainda tem ação detox - ou seja, contribui com o fígado na eliminação das toxinas.

Bloqueador de inflamação

Mais uma substância do fruto do abacateiro, o beta-sitosterol age como um anti-inflamatório, fazendo com que as células do organismo exerçam melhor suas funções. Isso não só facilita a dieta como diminui o aparecimento de rugas precoces e celulite. A pele também fica mais bonita porque o abacate tem substâncias antioxidantes como as vitaminas A, C e E.

Inibidor de apetite

A gordura da fruta ainda aumenta a sensação de saciedade e adia a fome. Para obter esse efeito (lembre-se!), basta uma porção moderada - uma fatia fina na salada, por exemplo. Quando você acrescenta o abacate na refeição tem mais uma vantagem: aumenta a absorção do licopeno, famoso antioxidante presente principalmente no tomate. E quanto mais suprir seu organismo dessas substâncias, mais fácil aparece o resultado da dieta - e mais chapada fica a barriga!

Fonte: Boa Forma/ M de Mulher (Texto: Marcia Di Domenico, Nádia Tamanaha e Eliane Contreras).

Os dois namorados

Há coisas que um grã-fino só confessa num terreno baldio, à luz de archotes, e na presença apenas de uma cabra vadia.

Lembro-me de uma festa na casa não sei de quem (só sei que era grã-fino). Na altura das três da manhã, o dono da casa põe mais gelo no uísque e diz: — "Na minha casa só as criadas vêem televisão". Os circunstantes concordaram em que a televisão é uma ignomínia.

E, no entanto, vejam vocês: — o anfitrião estava bêbedo da cabeça aos sapatos. Mas o grã-fino preserva, ainda no pileque, uma série de poses fundamentais. Uma delas é o falso desprezo pela TV e seus programas. Disse eu que o grã-fino só diz certas coisas num terreno baldio etc. etc. Já retifico. Nem no terreno baldio. Ele só dirá que gosta de televisão ao médium, depois de morto.

É, repito, uma pose. Na verdade, o meu anfitrião não perdia uma da Dercy, uma do Chacrinha, uma do Raul Longras. Quanto a mim, sou franco: — não preciso do terreno baldio, nem do médium. O fato de ser apenas um pequeno-burguês, sem nenhum laivo de grã-finismo, dá-me descaro bastante para confessar, aos quatro ventos: — vejo televisão e, pior, gosto de televisão.

Dirá um intelectual ou um grã-fino: — "Mas, e o nível? O nível?".

Ao que eu responderia, com a mais límpida e casta objetividade, que o tal nível, que se atribui às nossas TVs, é muito relativo. Acusamos o nível das emissoras e ninguém fala do nosso. Há uma reciprocidade de níveis. A televisão é assim porque o telespectador também o é. Uma coisa depende da outra e as duas se justificam e se absolvem.

Muitos abominam o Chacrinha e adoram d. Hélder. E há coisas que d. Hélder faz e que o Chacrinha jamais ousou.

Por exemplo: — um dia, abro O Jornal e vejo na seção "Eles disseram" algumas declarações do grande arcebispo. Dizia ele, em resumo, que era perfeitamente legítima a "missa ao som de cuíca, tamborim, reco-reco", etc. etc. Um católico e, ainda mais, um sacerdote propunha a "missa de gafieira". Portanto, é lícito dizer-se que certas posições de d. Hélder estão abaixo do nível do Chacrinha. Mas falo, falo, e esqueci o meu assunto.

Vou falar, hoje, do padre Ávila. (Se não me engano, é da PUC). Mas, vejam vocês: — o nosso Ávila, além de ser padre, é sociólogo. Há um ano, um ano e pouco, estava eu assistindo a um programa de TV. E eis que aparece quem? Justamente o padre-sociólogo.

É um sociólogo que está radiante de o ser. E ele não diz um "oba" sem lhe pingar sociologia. No programa referido discorreu, exatamente, sobre o jovem. Que dizia o padre e que dizia o sociólogo? Não me lembro textualmente de suas palavras. Mas o padre Ávila começou dizendo, se não me engano, que "os tempos estão duros".

Até aí concordei. De fato, acontecem coisas, em nossa época, que desafiam toda a nossa experiência e todo o nosso raciocínio. E, a propósito do jovem, ele referiu um episódio muito curioso. Certo rapaz cometeu, contra um amigo, um ato de extrema vileza. Pouco depois, o padre Ávila conversou com o culpado. Perguntou-lhe: — "Você não acha que foi uma deslealdade com o seu amigo?". O rapaz, mascando goma, saiu-se com esta: — "E é preciso ser leal?".

O padre não se espantou. Um sociólogo não se espanta. Se lhe servirem, no jantar, um ensopadinho de abóbora com ratazana, ele não concederá ao fato um único e reles ponto de exclamação.

Pois bem. Até aquele momento não entendera o gesto do jovem. E transmitiu ao telespectador a sua perplexidade. Nem o entrevistado, nem o público perceberam o óbvio ululante. Quem se escondia, ou por outra, quem não se escondia por trás do ato vil era um velho conhecido nosso — o pulha.

Mas, pergunto: — por que o nosso Ávila não reconheceu a vileza como tal?

É sacerdote e, ao mesmo tempo, um sábio e, ao mesmo tempo, um professor e, ao mesmo tempo, um sociólogo. E não sabe que a infâmia é infâmia, que a indignidade é indignidade, que o cinismo é cinismo. Diante da evidência espetacular, faz-se de cego. E o padre Ávila não será o único.

Há milhares, há milhões de ávilas. Por toda parte, e a começar na família, só esbarramos e só tropeçamos em ávilas de ambos os sexos. Os pais são ávilas, as mães são ávilas, e as tias, e as cunhadas. Todos são ávilas sem batina, sem sociologia etc. etc. Também nas escolas, nas universidades, nos escritórios, nas redações os ávilas são a maioria, quase a unanimidade.

O dr. Alceu fala, sem rebuços, na razão da idade. É um ávila. E como existem alceus e ávilas em todos os idiomas, ninguém julga o jovem, Não ocorre a ninguém que o jovem pode ser um santo, um herói, um justo e, também, um canalha. É um crime dar-lhe uma razão absoluta, isto é, dar razão a quem não a tem. E assim se criou uma figura sinistra, difusa, irresponsável, que ninguém ousaria julgar.

Realmente, o jovem está diante de nós sagrado, intangível.

Um coroinha julga o papa. O padre de passeata condena 2 mil anos de cristianismo. Todos os valores são questionados, refutados. Só ao jovem tudo é permitido. Há coisas, porém, que justificam a nossa desesperada meditação. Quero falar de um fato concreto.

Para evitar que se identifiquem as vítimas, não direi nem quando, nem onde ocorreu. Foi numa universidade que o leitor não saberá se daqui, de São Paulo, Brasília ou Belo Horizonte. Imaginem um casal de namorados de menos de vinte anos, estudantes e católicos. Um dia, o rapaz e a menina são cercados por um bando de colegas marxistas (digamos, marxistas de galinheiro). O que estes exigem dos namorados é um atestado de ideologia.

Para não tomar o tempo do leitor, direi que o primeiro a ser agredido, por uns oito ou dez, foi o rapaz. A namorada, na sua desesperada fragilidade, quis socorrê-lo. Foi logo agarrada, imobilizada. Apanhou na boca. E quase mataram o namorado, a socos, pontapés, chutes. Já sem sentidos, levou o último pé na cara. Mas não foi tudo. Lá estava o rapaz, quase morto. E, então, os outros arrastaram a menina. Também a socos, a patadas. Ah, eu sei que tudo se publica.

Mas o que fizeram com a adolescente não pode ser impresso em idioma nenhum. Muito tempo depois, alguém descobriu os namorados, ainda desmaiados. Uma ambulância, ou táxi, sei lá, os levou. O crime não mereceu nenhuma imprensa e explico: — os bandidos tinham a razão da idade. O jovem estupro, por ser jovem, está acima do bem e do mal.

Mas há de chegar um dia em que a juventude será julgada.

[19/9/1968]

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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

O cafajeste não viaja

Qualquer um pode viajar, menos o brasileiro. O inglês pode ir para a China e jamais será mandarim. Do mesmo modo, a inglesa. Uma inglesa, em Tóquio, não será jamais uma madame Butterfly. E assim o francês, ou o alemão, ou a alemã. Ao passo que o brasileiro, a partir do Méier, começa a usar os sotaques do seu itinerário turístico. E, por vezes, não é preciso nem a viagem. Basta um telegrama.

Recentemente, os estudantes franceses fizeram uma singular revolução francesa. Tudo consistia em arrancar paralelepípedos e virar carros. Foi talvez a primeira revolução feita sem uma única idéia. Os jovens arrancavam os paralelepípedos, viravam os carros e nada mais. Exatamente: — nada mais.

E houve um momento em que o poder ficou vago. A história pensou: — "Vem por aí um novo De Gaulle". E o velho De Gaulle não moveu uma palha, não tirou uma cadeira do lugar. O poder estava lá, nas alegres barbas da "jovem revolução" e repito: — o poder oferecia-se como um fruto maduro, próximo e indefeso. Bastava o simples gesto de colhê-lo. E ninguém fez esse gesto. Nem estudantes, nem socialistas, nem comunistas, nem intelectuais, nem operários. Ninguém.

Um conhecido meu abria os braços e perguntava: — "Mas como? Uma potência espiritual, como a França, não tinha ninguém?". Era a humilhante verdade: — ninguém. Ou por outra: — tinha o velho De Gaulle e só De Gaulle. E, portanto, foi o Herói que, com o seu tédio sardônico, ficou com o poder não possuído por ninguém.

Mas não era isso que eu queria dizer. O que eu queria dizer é que os nossos jovens se embebiam das notícias de Paris. Vejam vocês: — é possível, pelo telégrafo, mudar as nossas idéias, sentimentos, valores.

E, então, começou aqui uma efervescência feroz. Também carros virados. Ninguém arrancou os paralelepípedos, porque somos uma cidade asfaltada.

Fez-se uma "jovem revolução" liderada por telegramas. Pode-se dizer que tudo era apócrifo. Aqui, ninguém teve um gesto próprio, uma fúria autêntica, um palavrão original e profundo.

Imaginem agora o brasileiro que sai de sua rua, de sua paisagem, de sua cidade e de seu idioma. Como reagirá ele, em Paris, Londres, Berlim ou Nova York? Está lá submetido a pressões insuportáveis.

Bem me lembro do meu amigo Otto Lara Resende. Passou dois anos na Europa. E, quando voltou, era outro Otto. Fomos passear em Ipanema. Diante do poente do Leblon, inaugurou ele uma de suas frases máximas: — "Paisagem é verba!".

Insinuei que o nosso poente não faz vergonha. Mas ele insistiu: — "Poente é verba!".

E, mais uma vez, verifiquei que raríssimos brasileiros podem viajar além de Bangu.

O outro caso. Há três ou quatro meses, o meu amigo Carlos Heitor Cony bateu-me o telefone:

— "Nelson, vim me despedir". Como seu tom era meio lúgubre, ainda brinquei: — "Vais te matar?". Respondeu: — "Ainda não. Vou viajar". Protestei: — "Não faça isso".

Conversamos uma meia hora. Insistia eu: — "O brasileiro que viaja volta mais burro". Jurei: — "Não conheço um brasileiro que não voltasse mais burro". Ele resistiu até o fim: — "Você exagera. Não é nada disso". Quanta coisa ouviu o Cony de mim! Cheguei a dizer-lhe que ele precisava ser o cafajeste total. Não exagerava. De fato, um maravilhoso cafajeste está inserido nele, está enterrado nele como um sapo de macumba. E o cafajeste não viaja.

O pior é que a viagem ia ser imensa. Passaria por Berlim, Paris, Moscou, Londres e, até, Pólo Norte. Imaginei que voltaria um ex-Cony, um anti-Cony. E me preocupava também o destino do seu riso. O meu amigo tem uma gargalhada absurda. Sim, ele ri como os antigos sátiros vadios. Imaginei que a viagem pudesse emudecer-lhe o riso.

E o Cony partiu. Três meses de ausência densa, cruel, desesperadora como a morte.

Outro dia, paro num sinal fechado. Estou em cima do meio-fio, esperando, quando um automóvel encosta e alguém anuncia: — "O Cony chegou! O Cony chegou!".

Pouco depois, entro na redação e ligo para o amigo. Ia perguntar-lhe: — "Como é? Ficaste mais burro?". Mas não estava. Deixei o meu nome. E esperei em vão que me telefonasse. Nada. No dia seguinte, ligo outra vez. Também não estava. Liguei outras vezes. Nunca estava. Ele, aqui, a dois passos, parecia longínquo como se ainda existisse entre nós dois a distância que vai de Ipanema ao Pólo, do Castelinho a Cingapura.

Sou um pessimista e logo imaginei: — "É outro Hélio Pellegrino".

Já falei do abismo ideológico que se cavou entre mim e o Hélio. Tenho escrito sobre passeatas, d. Hélder e dr. Alceu. Em confissões sucessivas, acusei as esquerdas de uma alienação monstruosa etc. etc. O Hélio não gostou. Dizia-me com a sua bela voz de Paul Robeson branco: — "Não é o momento! Não é o momento!". Enquanto o Hélio falava assim, em arroubos, eu pensava nos meus mortos e nos meus vivos; sofri demais por uns e por outros. Ferido como estou, não ouso trapacear comigo mesmo e com os demais. Digo o que sinto e o que penso. Apenas.

Todavia, na véspera dos meus anos, o Hélio ligou para mim. Ninguém mais doce: — "Pode dizer nos seus artigos que você é dos meus amigos fundamentais". Dias antes, de público, eu o desafiara a jantar comigo no meu aniversário. E o Hélio explicava: — "Mas não posso jantar contigo amanhã, porque vou sair do Rio". Era o décimo encontro que ele adiava. Jurou, porém: — "Janto contigo na semana que vem". Isso foi no dia seguinte. Não me concedeu um mísero telefonema. Se eu fosse esperar por ele, e seu prodigioso jantar, estaria morto de fome.

E já me parecia que, como o bom Hélio Pellegrino, o Cony fugisse de mim. Não queria, decerto, conspurcar-se com o meu "oba" ou com o meu aperto de mão. Pois bem. Até que há o temido encontro.

A coisa ocorreu no Museu da Imagem e do Som. Ele ia depor sobre a figura e a obra de Mário Filho. Assim que o vi, e ele me viu, houve o suspense de um ou dois segundos. Em seguida, veio o abraço desesperado, o riso violento e recíproco e a certeza de que éramos amigos para sempre. Disse-me Cony: — "Recebi o teu recado. Mas não telefonei, de propósito. Não queria ver ninguém. Por enquanto, não".

Foi aí que eu reparei: — era um outro Cony que estava na minha frente, talvez mais atormentado e talvez mais puro. Sim, um Cony trabalhado pela solidão, um Cony de uma outra densidade. Perguntei, aflito: — "E a viagem? E a viagem?". Varara o mundo e fora até ao Pólo Norte. E eu: — "Que tal? Que tal?".

Respondeu sério, cruel: — "Tudo a mesma coisa! Tudo a mesma coisa!". Vira a Vênus de Milo: — "Tem erisipela". E da Gioconda: — "Tem mau hálito". "O Louvre, uma impostura." Estava triste e exausto de tudo o que vira. Passara na Rússia, na França, na Inglaterra, na Tchecoslováquia.

E, por fim, fez um resumo desesperado de tudo: — "O homem fracassou".


[18/9/1968]

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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Colírios: não abuse

"Uso indiscriminado de colírios pode levar à cegueira": o alerta é do Ministério da Saúde que recomenda a orientação de um especialista para seu uso.

O uso indiscriminado de colírio nos olhos, mesmo os menos nocivos como os lubrificantes oculares, podem provocar irritações, intoxicação, alergias e até mesmo a cegueira. O alerta é do Ministério da Saúde.

O colírio usado para clarear os olhos também coloca em risco a saúde do usuário, alerta o Ministério. Isso porque os produtos que contém corticóides podem aumentar a pressão ocular e favorecer o aparecimento de doenças e infecções oculares, como a catarata e a conjuntivite.

Em casos mais graves o colírio pode até provocar uma úlcera de córnea ou de perfuração ocular que, no caso, podem levar à cegueira.

Os efeitos nocivos do uso indiscriminado deste tipo de medicamento não atingem somente os olhos.

Estudos apontam prejuízos também para outras parte do corpo. Uma vez aplicado nos olhos, o colírio segue em direção ao nariz e acaba sendo absorvido pelo organismo. Isso pode provocar reações adversas em todo o corpo.

Fonte: Bem Estar

Fibras previnem dustúrbios intestinais

A dieta vegetariana é a mais indicada para impedir a doença diverticular. O baixo consumo de fibras é o principal responsável pelo surgimento desse distúrbio que atinge o intestino e os sintomas são cólicas abdominais, inchaço, gases, diarreia.
 
Estudos recentes publicados no British Medical Journal revelam que a dieta vegetariana é a ideal para prevenir o mal.

Depois de estudar mais de 40 mil voluntários durante 11 anos, os que seguiam uma dieta vegetariana tinham menos riscos de desenvolver a diverticulite. As pessoas que ingeriam altas quantidades de fibras corriam menos riscos de morrer da doença.

As fibras são fartamente encontradas em alface lisa, chuchu cozido picado, acelga, tomate, abobrinha cozida, couve-flor, vagem, cenoura crua e espinafre. Os pesquisadores alertam, no entanto, altas doses de fibras pode interferir na absorção de minerais, especialmente o cálcio e o zinco.

Fonte: Bem Estar

O calabar de batina

Gravura holandesa mostrando o cerco a Olinda de Pernambuco em 1630.

Foi o Brasil, no mundo colonial ibérico, a única região onde repercutiram as lutas religiosas travadas na Europa da segunda parte do século 16 à primeira do século 17. É esse um dos aspectos mais importantes das tentativas de fixação de franceses, ingleses e holandeses em vários pontos de nosso país. Pontos ainda não estudados convenientemente.

Até hoje, a nossos historiadores, preocupados tão-somente com as razões políticas ou com os fatores econômicos da pirataria e conquista daqueles povos contra os domínios ultramarinos dos portugueses, escapou aquela feição, nitidamente definida de alargamento também da esfera de influência protestante no universo.

A reforma luterana determinara, na Europa, a famosa guerra dos Trinta Anos, a que pôs termo, provisoriamente, a paz de Vestfália, celebrada em Münster, cujo tratado adrede feito nada mais foi que a sementeira de agitações e lutas que vieram até o tempo da revolução francesa, por sua vez preparadora doutras lutas e doutras agitações. Depois de Lutero, Calvino formou partidários na Suíça, Flandres e França. A nova seita protestante dividiu a catolicíssima nação em huguenotes e papistas.

A Espanha imperial e católica assumiu a liderança da contra-reforma. Daí suas intervenções na política francesa desde o século 16, suas guerras em Países Baixos contra os gueux calvinistas e seu longo duelo marítimo com a Inglaterra. Como nação também fundamentalmente católica, Portugal teve de sofrer ataques que se intensificaram em suas colônias da África, América e Ásia, sobretudo após sua queda sob o domínio espanhol.

A heresia calvinista procurou firmar pé no Brasil com o estabelecimento de Villegaignon na baía de Guanabara. Os fundamentos religiosos dessa tentativa são evidentes, pois discussões violentas em matéria de crença separaram os colonizadores da França Antártica, e o episódio de João de Bolés nos demonstra a tentativa de propaganda protestante entre os silvícolas, com destruição conseqüente da catequese jesuítica.

Na conquista de Pernambuco e terras adjacentes pelos holandeses, quase um século depois, é também claro o elemento religioso. Os hereges perseguiram os católicos em Recife e alhures, os passam a fio de espada como no engenho Cunhaú ou tentaram a propaganda calvinista no seio da indiada, além de serem apoiados sempre pela numerosa judiaria daquele tempo em terra brasileiras.

No bastidor dessa luta de religião no Brasil, há episódios interessantíssimos, que nos dão informes curiosos sobre caracteres e ações de indivíduos nela participantes, bem como até onde podia ir, na época, o sentido religioso da vida. O do jesuíta Manuel ou Francisco Morais, pois se não sabe bem seu nome de batismo, é dos mais elucidativos. No auto-de-fé realizado a 7 de abril de 1642, em Lisboa, pela Santa Inquisição, foi queimado em efígie.

O que teria feito o padre pra tão dura pena, embora fosse sacerdos in aeternum? Passou do lado dos pernambucanos, que defendiam o Brasil luso-católico ao dos holandeses, que representavam a conquista herege. E, como se isso não bastasse, sem trepidar, lançando a batina às urtigas, abjurou o catolicismo, se declarando calvinista e se casou com uma holandesa sectária desse credo. Grande e grave foi esse escândalo em nossa vida colonial.

Tão, grande e tão grave que repercutiu na própria existência, em nossas plagas, da ordem Inaciana, pois que o invocaram pra justificar a falta de confiança na mesma que alegavam todos quantos tinham interesse na escravização dos índios, que ela tenazmente combatia, a fim da pôr fora de seus arraiais. Não esqueçamos de que, um século e pico antes do marquês de Pombal, deste lado do Atlântico, especialmente no Maranhão e em São Paulo, se propugnou e efetuou a expulsão dos jesuítas. Em São Luís contra eles tenazmente lutou Manuel Bequimão.

No volume 1, páginas 684 e 685, de Cronologia paulista, de J. J. Ribeiro, se encontra, firmado por 124 homens bons de São Paulo, entre os quais Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado, o que não quis ser rei, Domingos Jorge Velho, governador do gentio de cabelo corrido, herói de Palmares, um dos grandes generais do sertão, e todos os procuradores das vilas das capitanias de São Vicente e Santo Amaro, notável documento que declara ter sido a expulsão dos jesuítas de São Vicente, no mesmo ano, baseada no grande crime de padre Morais, da capitania de Pernambuco.

Leiamos nesse papel o trecho que mais nos importa:" ...e juntamente constando que um padre de sua mesma ordem, religioso professor, sacerdote e pregador, que governavam as aldeias dos índios de Pernambuco, por nome padre Francisco Morais, ao qual constituíram capitão e governo dos mesmos índios na guerra de Pernambuco contra os holandeses, se rebelou e lançou com o inimigo levantando guerra contra os nossos, assim ele com os mesmos índios, nos fazendo notável dano e morte, de que procedeu a total ruína de Pernambuco por serem os índios muitos em quantidade, e por remate se fez apóstata e foi casar em Holanda, e tem os ditos reverendos padres tanta mão com estes índios que se pode temer o risco de nossas vidas...".

Aqui os escravizadores da bugrada se sangraram em saúde, aproveitando a negregada traição e apostasia de padre Morais pra lançar caluniosa e vil suspeita sobre toda a companhia de Jesus, apontada sibilinamente como capaz de usar os índios contra os colonizadores lusos, como o fizera o infeliz sacerdote. Pra isso exageram a importância de seu ato injustificável, lhe atribuindo a total ruína de Pernambuco. Na opinião desses caçadores de escravo de São Paulo, fora padre Morais um verdadeiro Calabar de batina.

Grande e negra a traição, gravíssima a apostasia, mas nem uma nem outra de molde a causar essa total ruína ou a transformar em flamengo-herege o Brasil luso-católico. Na verdade, como chefe de várias aldeias de índios mansos ou em vias de redução, adotar o calvinismo e levar todos esses íncolas ao grêmio calvinista foi obra tão maléfica que custa a crer a tenha praticado um jesuíta. 

É o caso de recordar a lição camoniana de que, mesmo entre os portugueses, alguns traidores houve algumas vezes. Também entre os jesuítas. Não foi esse, infelizmente, o primeiro e único exemplo. Outros, embora raríssimos e distanciadíssimos, lhe sucederiam na viagem do tempo.

À gravidade do crime do Calabar de batina correspondeu a pena inquisitorial: Morte da fogueira do auto da fé lisboeta, em efígie, porque o novo calvinista se refugiara em Países Baixos, fora do alcance da justiça que o perseguia.

Gustavo Barroso
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Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Chico Xavier, o detetive do Além

Era uma vez um moço ingênuo e feliz, vivendo numa cidadezinha ingênua e feliz, perto de Belo Horizonte. O moço se chamava Francisco Cândido Xavier e não desmentia o nome. A cidadezinha, Pedro Leopoldo, arrastava suas horas de doce paz, entre as missas de domingo e a chegada do trem da capital. Não se sabe como, numa noite ou num dia, Chico se mostrou inquieto e desandou a escrever. Terminando, disse, apenas, à família assustada:

- "Não fui eu. Alguém me empurrava a mão".

Desde esse dia ou essa noite, Chico Xavier perdeu o sossego e também o de sua cidade. Turistas chegavam, atraídos pela fama do moço-profeta. Pedro Leopoldo ia crescendo e Chico Xavier ia ficando importante. Nunca mais teve paz. Nunca mais pode sair pela rua, sem ouvir um pedido de saúde ou uma prece de gratidão. Se ao menos fôsse só isto. Era mais, muito mais. Eram os curiosos do Rio, de São Paulo e de Belo Horizonte, pedindo consultas ou detalhes pelo telefone interurbano. Era a legião de repórteres em busca de novas mensagens. O representante da editôra insistindo por outros livros. Os centros espíritas de todo o país solicitando pormenores. Uma vida infernal, agitada, barulhenta sacudia o pobre rapaz.

As luzes dos lampiões da cidadezinha nunca mais dormiram sem a presença de um estrangeiro, rondando pelas ruas dantes tão sossegadas.

Fixaremos, precisamente, a violenta mudança de vida de Chico Xavier e da cidade de Pedro Leopoldo. Não nos interessa, embora pareça estranho, o medium Chico Xavier, mas a sua vida. Os seus trabalhos psicografados - ou não psicografados - já foram assunto de milhares de histórias, divulgadas desde 1935. Se são reais ou forjadas, decidam os cientistas. Se ele é inocente ou culpado dirão os juízes. Se êle é casto, instruído, bondoso, calmo, diremos nós. Porque não somos detetives do além.

Se os espíritos nos ouvem, eles sabem que não acreditamos em suas mensagens, nem desacreditamos de suas virtudes literárias. A verdade é que não temos a bravura indispensável para avançar sobre o terreno pantanoso do outro mundo e analisar suas reais ou irreais comunicações utilizando aparelhos de escuta com êste pálido e sensitivo Chico Cândido Xavier.

Desde que saímos daqui, levávamos a inabalável determinação de fazer uma reportagem sem complicações, apesar do assunto em sua natureza extra-terrena mostrar-se absolutamente complicado. Assim é que o senhor, amigo, chegará ao fim destas linhas sem obter a certeza que há tanto tempo procura:

"É Chico Xavier um impostor ou não é?" E dirá: - "Não conseguiram desvendar o mistério!" Sim, o mistério continuará por muito tempo. Eternamente. E Chico Xavier morrerá, sem revelar o segredo de sua extraordinária habilidade ao escrever de olhos fechados, se é mágico, ou de seu fantástico virtuosismo, ao chamar, além das fronteiras da vida, as almas dos imortais, fazendo-os recordar os velhos tempos da Academia. Nossa intenção é mostrar o homem. Sem o espírito dentro de si, nos momentos vulgares, Chico Xavier é adorável, cândido, maneiroso, humilde, um anjo de criatura.

A frase de uma vizinha define melhor: - "Sabe, moço? O Chico é um amor". Justamente dêsse tipo desconhecido, da parte anônima de sua devassada vida, é que tratamos, na hora e meia que permanecemos em Pedro Leopoldo. Para começar, diremos que Chico nunca teve uma namorada.

O tempo de viagem de Belo Horizonte a Pedro Leopoldo não vai além de hora e meia. A meio caminho, encontramos a fazenda federal onde Chico Xavier é dactilógrafo. O motorista não quer entrar. - "Aí, não. Até os zebus são atuados". O diretor, Rômulo, está na horta, sòzinho. Ele nos dará, talvez, esclarecimentos sôbre a vida de Chico e, quem sabe, facilitará o encontro com o sensitivo. Ouve o pedido. Depois, lentamente, abana a cabeça e o seu "não" é inflexível, desde o primeiro minuto. Alega um milhão de coisas. Que Chico anda cansado e precisa repousar. Um de nós lembra a possibilidade dele, diretor, dar umas férias a Chico. - "O Chico funcionário nada tem a ver com o outro Chico". Apresentadas as despedidas, êle adverte: - "Não creio que será possível aos senhores um encontro com êle. Creio que vão esperar até sexta-feira".

Voltamos a deslizar pela estrada, neste sábado negro. A cidade aparece depois de uma curva. - "Onde fica a casa do Chico Xavier?" O menino aponta a igreja. - "Ali, na rua da matriz. Ele mora com a família". Encontraríamos, em várias oportunidades, a mesma designação do pessoal do município: êle. Todos apontavam Chico, sem recorrer ao nome. Êle só podia ser êle. - "Minha irmã foi curada por êle".

Ei-lo aqui, diante de nós. Veio a pé da fazenda e em sua companhia um senhor do Rio, que algumas vêzes vem passar semanas com o medium. - "Gosto de falar com êle. É um rapaz de cultura. Discute vários assuntos, lê um pouco de inglês e de francês. Devora os livros com fúria. Trouxe-lhe, há dias, "O homem, êsse desconhecido" e êle não gastou mais de quatro horas e meia para ler o volume gordo. É um prazer para êle. Seu único amor é o espiritismo".

Chico, perto de nós, não está ouvindo a palestra. Conversa com Jean Manzon. Devemos esclarecer que não dissemos qual a organização jornalística em que trabalhávamos. Queríamos ver se o espírito adivinhava. Não houve oportunidade.

Chico parecer ser um bom sujeito. Suas ações, mesmo fora do terreno religioso pròpriamente dito, são ações que o recomendam como alma pura e de nobres sentimentos. Vão dizer, os espíritas, que é natural: todo o espírita dever ser assim. Sei de um que não teve dúvida em abandonar a espôsa, o lar, sete filhos, um dos quais doente do pulmão.

- "Na rua, entre seus irmãos de seita, - disse-me um dos filhos - êle se mostrava esplêndido, generoso, cordial. Em casa, por pouco não botava fogo nas camas, à noite. Parecia um verdadeiro demônio. Guardava até alface no cofre-forte”.

Já o Chico não é assim. Sua nobreza de caráter principia em casa. Todos os seus irmãos e irmãs louvam a sua generosa e invariável linha de conduta, protegendo-os, hora a hora, dia a dia, através dos anos, trabalhando como um mouro. Um de seus sobrinhos sofre de paralisia infantil. Atirado a um berço, chora eternamente. Sòmente o Chico vai lá, fazer companhia ao garôto, às vêzes uma noite inteira.

- Chico!
- Que é, meu senhor?
- Você lê muito?
- Não. Só revistas e jornais.
- O outro disse...
-Disse o quê.
- Nada.

Ele nos olha, surpreso, quando a pergunta, como um busca-pé, sai correndo pela sala:

- Você, não pensa em se casar, Chico?
- Eu, casar? (Dá uma gargalhada) - Claro que não.
- Não namora?
- Nunca.
- Por que?
- Não há razões. Não gosto. Tenho outras preocupações. Ora, eu namorando... Tinha graça...
- Chico...
- Que é?
- É verdade que o padre desafiou você para um duelo verbal?
- Ele disse pra eu ir à igreja discutir. Não é lugar próprio.
- Você gosta do padre, Chico?

E ele, o ingênuo e feliz Chico, respondeu:

- Ué, eu gosto do padre, mas ele não gosta de mim.
- Chico...
- Que é?
- Onde estão suas mensagens?
- Um irmão levou tudo, em vista de tantas complicações.
- Você vai ao Rio?
- Até agora, nada resolvemos. Possìvelmente, mandarei uma procuração.

Numa estante, os livros de Chico. Versos de Guerra Junqueiro, Tolstoi e uma porção de autores mortos. Na sala do lado está a mesa onde êle recebe as mensagens. Uma papelada branca, pronta para ser coberta pelas mensagens do outro mundo. Sexta-feira houve mais uma sessão, desta vez presidida pelo chefe do executivo municipal. Humberto de Campos não compareceu mas o Emanuel, guia de Chico, lá estava. Quem é Emanuel? Um romano que existiu na mesma época de Jesus e conta um mundo de coisas interessantes sôbre a terra, naqueles tampos de há dois mil anos.

- Ele dita?
- Vou psicografando as mensagens. Há outros mediuns, como um norte-americano, que ouve as vozes dos espíritos tão alto que os presentes também escutam. Eu ouço. Os outros, que estão perto, não.
- Chico...
- Que é?
- Já teve oportunidade de falar com espírito de homens célebres?
- Homens célebres?
- Napoleão, para um exemplo, já falou consigo?
- Que eu saiba, não. Os assuntos bélicos não são freqüentes, nas mensagens que recebo do além. Há seis anos, entretanto, meu guia Emanuel previu os principais acontecimentos que hoje revolucionam a terra. Ele disse: - "A vitória da fôrça é fictícia".

O cavalheiro do Rio acode:

- E o próprio Chico, meses antes, previu a queda da Itália. Ele disse, categòricamente, que a Itália seria a primeira a cair. E a Itália foi a primeira a cair.

Pedro Leopoldo é a cidadezinha de uma rua grande e uma porção de ruas pequenas, convergindo para ela como servos humildes do rio principal. A casa de Chico é uma das melhores do lugar. Três quartos, sala e cozinha. O banheiro é lá fora, no fundo do quintal, ao lado do galinheiro.

Chico se levanta de madrugada e vai dar milho às galinhas. Depois, sua irmã solteira faz o café, que êle toma com pão dormido, porque o padeiro ainda não chegou. Apanha a pasta de documentos da fazenda federal, e vai andando pela estrada, ainda coberta pela neblina. Volta para almoçar às onze horas. O expediente se encerra às dezoito horas, mas Chico, nestes dias de maior trabalho, faz serão.

Sua vida é frugal. - "Quero que compreendam o seguinte: não vivo das mensagens de além-túmulo. Tenho necessidade de trabalhar para sustentar minha família. Se quase me dedico inteiramente a receber as comunicações, ainda se entende. O pior, entretanto, é a onda de gente que vem do Rio, de São Paulo e de todos os Estados".

- Peregrinos?
- Mais ou menos. Não posso deixar de recebê-los, pois fico pensando que vieram de longe e necessitam de consôlo. Isto leva tempo, toma tempo. Como se não bastassem essas preocupações, o telefone interurbano não pára dia e noite. - "Chico, Rio está chamando... Chico, Belo Horizonte está chamando... Chico, São Paulo está chamando... Chico, Cachoeira está chamando..." Evito atender, mesmo constrangido. Meu Deus! Eu não quero nada, senão a paz dos tempos antigos, o silêncio de outrora. Quero ser de novo aquêle Chico sossegado e tranqüilo que apenas se preocupava com as coisas simples...
- Impossível a viagem de volta...
- Impossível? Não, não é impossível. Eu voltarei a ser aquêle sossegado Chico. Não tenha dúvida.
O repórter imagina, a essa altura, que ele acredita na possibilidade de suas comunicações, com o além serem repentinamente suspensas. Vai perguntar ao Chico, mas uma senhora de cor negra entra na sala, carregando um benjamim de olhos assustados.

- "Trago para o senhor, Seu Chico..."

Ele segura com trinta mãos, cheio de cuidados, o bebê e o bebê faz um berreiro dos diabos, agita as pernas, sacode as pernas dentro da prisão dos braços de Chico. Ele sorri e devolve o menino à mãe.

- Meu sobrinho - explica o profeta Chico - é nervoso e fica dêste jeito. Sabe por que? Ele sofre de paralisia infantil.
- Não tratam dele?
- Não temos recursos. Já deixei claro que não recebo um centavo pelas edições dos livros que me chegam do além. Assino um documento autorizando a livraria da Federação Espírita Brasileira a editá-los e, sòmente após ficarem impressos, recebo uns cinco ou dez exemplares, para dar aos amigos.

Vamos atravessando a sala e entramos num dos quartos. Na parede, prateleiras repletas de livros. Remédios à base de homeopatia, que Chico recomenda. Não sei porque os espíritos manifestam estranha aversão pela alopatia e suas drogas, receitando sempre combinações homeopáticas. Perto dos vidros, um armário cheio de livros. As obras de guerra conta a Santa Sé, assinadas por Guerra Junqueiro, ainda em vida. Os livros de Flammarion e de Alan Kardec, mas não os psicografados, misturados com volumes de propaganda anticlerical. Na parede, dependurado, um velho pandeiro.

- Quem toca pandeiro nesta casa?

Chico sorri o sorriso beatífico e diz que não é ele.

- Alguns espíritos?

O sorriso beatífico desaparece.

- Os espíritos não tocam pandeiro.

Saímos para a rua, hoje, sábado movimentado. O povo de Pedro Leopoldo passeia diante da Igreja que domina de forma esquisita a casa do humilde psicógrafo que Clementino de Alencar, certo dia, foi roubar de sua vida serena há dez anos. Hoje, Pedro Leopoldo é a Jerusalém do credo de Kardec. Já tem hotel e telefone. O povo de lá, por estranho que possa parecer a quem não conhece pessoalmente o nosso amigo Chico, revela invariável amizade. Será orgulho pela celebridade que ele deu ao município? Sim, porque antes de Chico, Pedro Leopoldo nem existia nos mapas de Minas Gerais. Gostam dele, de seus modos, de sua cara asiática, onde um dos olhos empalideceu sùbitamente, como um farol apagado em pleno caminho da luz.

A cidade tem uns treze mil habitantes, contadas as aldeias próximas, mas, espíritas, uns quatro ou cinco. Todos apreciam Chico, gregos e troianos. Gostam, mas preferem não rezar o seu catecismo. Ele não se importa. Não procura convencer ninguém à força de seu estranho e discutido poder. Quando a carta precatória, intimando-o a depor, chegou a Pedro Leopoldo, Chico leu devagarinho e abanou a cabeça. - "Eu não posso mandar uma intimação judicial às almas!" E não deu mais importância ao caso.

Até à volta, sereno Chico. De todas as pavorosas complicações, você é o menos culpado. Parece uma caixa de fósforo num mar bravio. Uma velha beata de Pedro Leopoldo me disse que isto é castigo: - "Castigo, sim, nhô moço... Antão, êle telefona pro inferno e manda chamar os espíritos e depois num quer se aborrecer?"

Já o trombonista de Pedro Leopoldo deve pensar diferente: - "Por que será que o Chico só sabe receber mensagens escritas? Por que não recebe músicas de Beethoven, de Chopin, de Carlos Gomes?"

Ele, o moço amável de Pedro Leopoldo, não dá maior atenção aos comentários e vai levando como pode a sua vida. É pena, entretanto, que êle não tenha as qualidades artísticas que vão além do terreno literário. Se fôsse assim, Pedro Leopoldo teria, senhores, não apenas o psicógrafo Chico, mas também o músico Chico, o pintor Chico, o profeta Chico. Isto mesmo: o profeta Chico.

O Cruzeiro - 12 de agosto de 1975 - Texto de David Nasser e fotos de Jean Manzon.

Fonte: Memória Viva apresenta: O Cruzeiro.

O tacape de Tibiriçá

Entre os chefes indígenas que no amanhecer do Brasil, ao se iniciar nossa colonização, fizeram causa comum com os portugueses, o mais ilustre foi, sem dúvida, aquele à sombra de cuja fiel amizade devemos o estabelecimento de Piratininga, berço da metrópole paulistana de nossos dias.

Foi o famoso Tibiriçá, sogro do misterioso e discutido João Ramalho, e aliado de Martim Afonso de Souza, cujos nomes tomara ao ser batizado pelos jesuítas. O genro, no entanto, foi acérrimo inimigo destes, sobretudo devido à questão da escravização dos índios, índios que os padres cristãmente defendiam.

Graças à proteção de Tibiriçá, ao calor de seu prestígio pessoal no meio da indiada, se produziram as primeiras mestiçagens, nasceram os primeiros rebentos daquela destemida raça de mamelucos paulistas que haveria de unir por suas impávidas bandeiras os mais afastados rincões de nosso imenso país.

O nome indígena Tibiriçá significa príncipe da Terra. É quase um título honorífico. Esse chefe dos guaianás de Piratininga se deixara converter à fé cristã pelos padres José de Anchieta e Leonardo Nunes.

Graças a Tibiriçá, puderam os padres da companhia de Jesus permanecer no planalto piratininguense e fundar ali seu primeiro povoado missioneiro, Santo André da Borda do Campo. Enviados, pra esse fim, de São Vicente por padre Manuel da Nóbrega, escalaram, vencendo mil dificuldades, a serra de Cubatão e atingiram o platô treze sacerdotes chefiados por Manuel de Paiva. No grupo, figurava como mestre-escola o grande José de Anchieta. Na defesa de nossa missão jesuítica, Tibiriçá combateu em 1562 até contra seu próprio irmão, o tuxaua Arari.

O grande historiador Southey pintou admiravelmente, em poucas palavras, como viviam esses heróicos civilizadores do gentio: Dormiam em rede e nem tinham roupa de cama: De porta lhes servia uma esteira pendurada à entrada. As roupas também foram calculadas à região menos vizinha do céu, pois eram de algodão as poucas que tinham, e andavam sem calça nem sandália. Mesa lhes eram folhas de bananeira...

Nessa grande pobreza, diz o próprio Anchieta que se podiam dispensar os guardanapos, visto como nada havia que comer. De fato, se alimentavam apenas do que lhes davam os índios, o que não podia ser muito nem escolhido. As vezes, de esmola, recebiam alguma cuia de farinha de mandioca. Noutras, mais raras, algum peixe de córrego ou alguma caça da selva. E as frutas do mato.

A subida da serra do Cubatão, donde se avistava o mar, a Paranapiacaba dos tupis, fora verdadeira epopéia, segundo nos conta o historiador da companhia, padre Simão de Vasconcelos. Tinham escalado a pé, rompendo a mataria, íngremes perambeiras, se pendurando de raízes e cipós, as mãos e os pés escalavrados, em sangue, o corpo e o rosto banhados pelos espinhos, se arriscando a encontro de feras e sobretudo de cobras venenosas. Ad majorem Dei gloriam! Venceram tudo isso pra maior glória de Deus. E dessas misérias e lutas brotariam, no futuro, a grandeza e a fortuna de São Paulo.

Testemunha e personagem das principais, nessa época de fé e elevação moral, o morubixaba Tibiriçá foi, na verdade, o laço que unia, no mesmo instintivo desejo de progresso, no mesmo informe anseio de futuro, o índio bravio e o aventureiro civilizado, sob os braços acolhedores, pacificadores e luminosos da Cruz.

Esses primitivos tempos da gloriosa Paulicéia são recordados em nossos tumultuosos dias por uma relíquia preciosíssima: O tacape de guerra do chefe indígena Martim Afonso Tibiriçá, ivirapeme de madeira duríssima, o pau-ferro, talhada conicamente em forma de moca ou maça, bastante pesada, porém fácil de manejar por um homem adestrado e robusto. Lhe levou o tempo o trançado de palha do punho, que evitava escorregasse da mão que a brandia. Lhe levou, também, os ornatos de penas multicores. Todavia, embora nua e negra, essa arma de choque evoca, em nosso espírito, a rude época em que zunia em golpes terríveis, rompendo ossos e crânios de inimigos, nas bárbaras refregas da indiada.

A autenticidade dessa peça requer uma documentação comprobatória. O tacape de Tibiriçá pertenceu, durante longo tempo, ao imperador dom Pedro II. Sua majestade o ofereceu, quando visitou São Paulo, ao grande estudioso de nossos selvagens, general Couto de Magalhães. Nenhum presente agradaria mais ao notável indianista, um dos fundadores de nosso folclore. Das mãos dos descendentes daquele general passou, em São Paulo, às de doutor João Vieira da Costa Valente.

Durante muito tempo teve o tacape colado a sua face um retângulo de papel com a declaração autografada de Couto de Magalhães o haver recebido de dom Pedro II, que lhe afirmara ser o mesmo do grande Tibiriçá. O tempo infelizmente destruiu essa etiqueta. Há, porém, declarações escritas e autenticadas de pessoa da família sobre o assunto.

Martim Afonso Tibiriçá faleceu em São Paulo, cercado de seus inúmeros descendentes e do respeito geral, em 25 de dezembro do ano da graça de 1562. Escrevendo ao reino em 10 de abril do ano seguinte, 1563, dizia Anchieta com saudade: Morreu nosso principal, grande amigo e protetor. Então, João Ramalho, livre da influência do sogro, pôde guerrear à vontade aos padres da companhia.


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Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

O padrão de São Vicente

Marco padrão, construído em 1932
sobre a pequena ilha Pedra do Mato
Esse padrão (foto) encimado pela cruz templária da ordem de Cristo, esguio e solitário, de pedra amorenada pelo sol e alisada pelo vento, se projetando ao céu e refletido na água assinala o terceiro passo da civilização luso-cristã em terra brasileira. O primeiro marco foi levantado por Pedro Álvares Cabral na areia de Porto Seguro. Cristóvão Jaques ergueu o segundo em Itamaracá. Martim Afonso de Souza cravou o terceiro perto dum ilhéu rochoso e agreste do litoral paulista.

O segundo foi semente de Olinda–Recife–Pernambuco. Foi o terceiro semente de Piratininga–São Paulo, a marcha ao sul e ao oeste, o recuo do meridiano, em 1494 firmado teoricamente pela convenção de Tordesilhas. E, entre esses pontos extremos a que então chegaram os lusos, batendo a imensa costa, Tomé de Souza alicerçaria, mais tarde, os muros de taipa da cidade de Salvador, primeira cabeça do estado do Brasil.

Do ciclo das navegações costeiras, entre 1501 e 1530, do qual participaram os portugueses, muitos franceses e alguns espanhóis, resultaram, esparsos no litoral, desterrados, desertores e náufragos, que se uniram às índias. Era o povoamento por mestiçagem que começava. Ao transpor a frota de Martim Afonso de Souza a barra de São Vicente e ao fundear entre suas pequenas ilhas, a indiada se aglomerou nas praias.

Desembarcou o capitão-mor no porto chamado de Tumiaru e ali encontrou, vivendo entre os selvagens, com mulher e filhos, o português Antônio Rodrigues, companheiro de João Ramalho, que galgara a serra do Mar e, casando com a filha do chefe Tibiriçá, povoara, na planície de Piratininga, a aldeia de Inhapuambuçu, depois Santo André da Borda do Campo. Em Itararé, curta praia existente entre a ilha do Sol, crismada agora em Porchat, e a ponta do morro de Santo Antônio, antigo Tumiaru, se lançou o fundamento da primeira vila de São Vicente, a primeira também do Brasil, com o apoio dos morubixabas guaianás do planalto: Tibiriçá e Caiubi.

Os índios litorâneos chefiados por Piquerobi, apesar da filha deste ser mulher de Antônio Rodrigues, preferiram se retirar ao sertão a se aliarem aos portugueses. Doze anos após a fundação, em 1544, o mar, avançando sobre a terra, a inundou e submergiu a sempre a Vila de Martim Afonso de Souza, que renasceu em 1555 ao redor da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, que se salvara, ao pé do morro de Santo Antônio, local onde perdura.

A expedição de Martim Afonso de Souza, que encerrou o ciclo da exploração costeira em nossa história, foi a maior tentativa até aquela data realizada pelo governo de Portugal pra resolver o problema da colonização do vastíssimo país encontrado pela armada cabralina, nele fundando um império que se baseasse em mais sólidas riquezas do que a extração do pau-brasil, apropriada tão-somente a monopólios comerciais sem espírito civilizador ou à aventura mercantil de interlopes isolados. Seu plano incluía uma amplitude que faltou à ação de seus predecessores, simples exploradores da linha costeira ou guardas costeiros contra os franceses.

Martim Afonso de Souza partiu de Lisboa no dia 3 de dezembro de 1530, trazendo em seus quatro navios, a este lado do Atlântico, os elementos básicos, humanos e materiais duma civilização rudimentar: Homens de arma, de saber e de arte mecânica, utensílios, ferramentas e sementes. Compunham essa armada matriarca, que conduzia o embrião social do Brasil, como escreveu a propósito Carlos Malheiro Dias, a nau São Miguel, o galeão São Vicente, as caravelas Princesa e Rosa, sob o comando de experimentados capitães: Heitor de Souza, Pero Lobo Pinheiro, Baltasar Gonçalves e Diogo Leite. E ao capitão-mor, mandado a colonizar tão longínquas regiões, dera o rei, por antecipação, o título de governador. Foi, assim, o fundador de São Vicente o primeiro governador do Brasil.

A armada transpôs a água das Canárias, costeou a África e, na altura do arquipélago de Cabo Verde, investiu o oceano, rompendo destemidamente os temporais, até avistar, no último dia de janeiro seguinte, a terra do Brasil, ao longo de cujo litoral deu caça aos navios franceses: Diogo Leite se apoderou duma nau nesse mesmo dia, abarrotada de brasil. Ao sul do cabo de Santo Agostinho tomou a esquadra outra carregada de brasil. Dias depois conquistou uma terceira, de abordagem, no fim de 36 horas de fogo de artilharia.

Em 17 de fevereiro de 1531 refrescou a frota em Pernambuco. Havia dois meses que a nau francesa La Pelérine saqueara e destruíra a feitoria de Itamaracá. Dali, Diogo Leite, com as caravelas, seguiu ao Norte, a descobrir o rio Maranham. João de Souza regressou ao reino com notícias e pau-brasil, numa das suas naus tomadas dos franceses. A outra, crismada em Nossa Senhora das Candeias, se incorporou à frota sob o comando do irmão do capitão-mor governador, Pero Lopes de Souza, cujo Diário de navegação é a crônica viva da epopéia.

Na baía de Todos os Santos, em março de 1531, Martim Afonso de Souza encontrou o patriarca da miscigenação luso-tupi, Diogo Álvares, o Caramuru, que ali se encontrava desde 1519. Já a gente da terra era toda alva, diz Pero Lopes, os homens muito bem dispostos e as mulheres muito formosas. Ali ficaram dois homens com sementes pra fazerem experiência do que a terra dava. E ainda os cativos duma caravela, que arribava de Sofala e fora agregada à frota. Porventura os primeiros negros que tomaram pé no Brasil.

Meses demorou a expedição no remanso da Guanabara, onde consertou os navios e construiu dois bergantins destinados à conquista do Rio da Prata, fim último a que se destinava. Tempo foi suficiente pra quatro homens, mandados pelo capitão-mor governador, penetrarem as terras e voltarem com notícia e um chefe de tribo que recebeu muitos presentes. A primeira bandeira que explorou o interior. E prosseguiu a viagem ao sul. Em Cananéia, estavam esperando os navegadores dois dos primeiros povoadores da costa: Francisco Chaves e um bacharel degredado.

À indiada, que ocorria, alvoroçada, à praia, falou, em sua própria língua, o abanheenga,10 o piloto Pedro Ames. No lagamar de Santos, balizado no fundo pela muralha azul-verde de Paranapiacaba, por a todos parecer tão bem a terra, o capitão determinou a povoar, dando a todos os homens terra pra fazer fazenda. E dali seguiram ao sertão ignoto, cuja largura se desconhecia, buscando o império dos Incas, donde manavam a prata e o ouro, os oitenta besteiros e arcabuzeiros da grande bandeira organizada por Martim Afonso de Souza e comandada por Pero Lobo e Francisco de Chaves, que os carijó chacinaram na margem do Iguaçu.

De Pernambuco Martim Afonso de Souza enviara duas caravelas ao norte. Em março de 1531 entravam na baía de São José, em abril na de São Marcos e em junho na de São João. Atingiram, afinal, a foz do rio Gurupi, que se chamou Abra de Diogo Leite, segundo consta do mapa de Gaspar Viegas, de 1534. Ao sul foi mandado, de Santos, Pero Lopes de Souza ao rio da Prata, que devia explorar e colonizar. Lhe foram, porém, os fados adversos. Na altura do arroio Chuí, predestinado a definitivo limite entre a América portuguesa e a espanhola no rumo meridional, o mar em fúria fez naufragarem a nau-capitânia e um dos bergantins, se perdendo sete homens, arma, mantimento, utensílio, tudo o que se destinava à obra colonizadora. Reunindo o conselho dos capitães e pilotos, se decidiu, na dura contingência, renunciar àquela empresa, se encarregando Pero Lopes com o bergantim restante e 30 homens de erguer no estuário platino os padrões de posse da coroa portuguesa. A caravela de Sofala, Santa Maria do Cabo, recolheu os náufragos na costa sulina e ainda trouxe a São Vicente outros náufragos, esses espanhóis, em número de 15, relíquias da expedição malograda de Juan Días de Solis ao rio da Prata, que se encontravam no porto de Patos, em Santa Catarina.

Em data incerta do primeiro semestre de 1533 Martim Afonso de Souza partiu de São Vicente, ali ficando, como seu lugar-tenente no cargo de capitão-mor e governador da capitania, Gonçalo Monteiro. Deixava no Brasil os primeiros materiais duma civilização: A igreja, o município, o estaleiro, o tombo das sesmarias, o pelourinho, emblema da justiça. Enquanto não partiu à Índia, o donatário se ocupou da longínqua capitania brasileira, cuja doação o bei lhe comunicara em carta trazida por João de Souza a São Vicente. Até lá expediu colonos, animais domésticos e sementes, contratando agricultores e mecânicos habilitados na cultura e fabricação do açúcar.

No regresso de São Vicente a Portugal, Pero Lopes de Souza retomou dos franceses o forte de Itamaracá e os mandou executar como exemplo, pra castigo de sua felonia.

Martim Afonso de Souza, primeiro colonizador e primeiro donatário do Brasil, primeiro capitão-mor governador, recebeu do rei dom João III os títulos pomposos de governador da Índia e capitão-mor dos Mares do Oriente. Com eles, à testa duma armada de 5 navios, partiu do Tejo em 12 de março de 1534. Arribou à Bahia e os franciscanos que levava a bordo ali batizaram os filhos legítimos e os naturais de Diogo Álvares, Caramuru, o patriarca que, usando duma poligamia bíblica, começava com outros do mesmo feitio a povoar estes Brasis. E essa obra povoadora continuava com a casamento de duas de suas filhas bastardas, uma com Afonso Rodrigues, natural de Óbidos, outra com o fidalgo genovês Paulo Dias Adorno, aventureiros fugidos de São Vicente, onde cometeram um crime. Assim, começou o Brasil a nascer.

E é tudo isso o que recorda o fuste de pedra do blasonado padrão que aponta o céu e se contempla no mar...
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Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

O cachorrinho de dois corações

Quem informa é o Departamento de Clínica Operatória e Cirurgia Experimental: operaram cinco cachorrinhos do tipo street dog e todos eles, numa experiência coroada de êxito, passaram a viver com dois corações. A operação feita pelos soviéticos, com tanta celeuma, acaba de ser feita aqui no Rio também e quatro cachorrinhos — um deles morreu — vivem perfeitamente com oito corações. Perfeitamente? — há de estar Deus perguntando. Perfeitamente, não.

Um dos cachorrinhos com dois corações fugiu do canil e trota solto pelas ruas do Rio, pulsando seus dois corações e isto não é bom para ele. Tivemos uma doce amada de dois corações e era de ver a angústia em que vivia, por não saber conservar aquilo que é a coisa mais linda numa mulher: o sentimento da fidelidade.

Aos cachorrinhos foi dado merecidamente o título de maior amigo do Homem, justamente por causa da sua impressionante fidelidade ao dono. Muito antes de se inventar a "alta-fidelidade", já a marca registrada da maior fábrica de discos e vitrolas do mundo tinha por símbolo um cachorrinho fiel, que se mantinha firme ao lado do fonógrafo, ouvindo a voz do dono com o deslumbramento de todos os cachorrinhos.

A fidelidade do cão é muito anterior à alta-fidelidade das vitrolas. O mundo inteiro sabe disso. Tanto que o disco, aqui, é "A Voz do Dono", na Inglaterra é "His Master's Voice", na França é "La Voix de Son Maitre", na Itália é "La Você dei Patrono".

Todo mundo sabe que o cão é a fidelidade em pessoa e dá tão comovedoramente seu coração que enternece a todos, com sua dedicação.

Mas... e o pobre cachorrinho que fugiu do Departamento "de Cirurgia Experimental? Como vai

poder viver fiel, como poderá viver cão como todos os cães, se carrega no peito dois corações? Não, o cachorrinho não é como as amadas infiéis, que muitos perdoam por serem como são.

Pobre cachorrinho de dois corações, se encontrar um dono e a ele se prender, por ser este o seu fanal de cão...

Pobre cachorrinho, porque terá um coração de sobra e há de dedicá-lo a alguém. E, se assim for, que entregue seus dois corações a um só homem, a um só dono, para provar ao mundo que os cães, mesmo com um coração sobrando, são muito mais dados à fidelidade do que as vitrolas, do que as mulheres, do que nós todos.

Ó pobre cachorrinho de dois corações, que você não fique indeciso entre dois postes.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

O seguro do velho

Vocês que nos lêem sabem que em sociedade tudo se sabe. Não adianta o Medeiros Neto usar batina de padre, o Ibrahim Sued usar caneta-tinteiro, o Augusto Schmidt escrever livro de poesia, o Tenório sorrir com cara de bonzinho, nada disso adianta, porque em sociedade tudo se sabe.

Por exemplo, aqui está a notícia do que ocorreu em São Paulo com o cidadão de origem italiana Cario Magliani cujo, coitado, pensou que pudesse falcatruar impunemente e imaginou um golpe dos mais legais. Cario Magliani tinha um tio que também era Cario Magliani, mas que estava pela bola 7. Homem já velho, o Cario tio vinha sofrendo de diversos males, inclusive cardíacos.

Que fez Cario Magliani sobrinho, que era forte como um touro? Pois fez um seguro de vida de alguns milhões, colocando como beneficiário — em caso de morte — o tio em pandarecos. Isto — pensarão vocês — não tem nada demais. Mas pensarão vocês que são apressados. Cario Magliani pensou de outro jeito.

Mancomunado — segundo se suspeita — com um empregado da companhia de seguros, aproveitou o fato de seu nome e o nome do tio serem iguais, para rasurar o contrato de seguro, invertendo a coisa. Isto é, ele, que é forte e saudável, passou a ser beneficiário do tio, que estava com o pé na cova, só aguardando um empurrão amigo.

Foi um golpe fácil. Bastou mudar as datas de nascimento porque, no mais, ambos os Carlos eram naturais de São Paulo, eram residentes no mesmo local, tinham a mesma profissão, enfim, estava tudo facilitado.

Mas (aí é que está o chato), em sociedade tudo se sabe. Agentes da companhia de seguros descobriram a marmelada e estão processando o rapaz, coisa que chegou ao conhecimento do tio. E este, coitado, que era cardíaco e castigado pelo tempo, não resistindo ao vexame do sobrinho que criava, faleceu em dia da semana passada, em sua residência.

Aparentemente, esta história não tem nada demais. Vigaristas há em toda parte, tentando os mais complicados golpes.

Ledo engano, companheiro, ledo engano. Aqui a notícia diz que o velho morreu abalado com o seguro que o sobrinho fez.

Eis portanto que, pela primeira vez na História, em vez do seguro morrer de velho, foi o velho que morreu do seguro.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

Dicas para a boa aparência

Todos querem ter uma boa aparência. Os sucos, além de trazer mais beleza física, podem trazem também o bem estar e, consequentemente, uma vida mais feliz. Muitas vezes, os sucos podem ajudar até mais que cosméticos. Há sucos que deixam a pele mais lisa, outros que dão saúde aos cabelos e força às unhas. Confira abaixo alguns benefícios que você poderá ter:

Cabelos fracos - Caso seus cabelos estejam caindo demais, tome sucos que contenham pepino.

Cabelos sem vida - O silício que há no damasco, no pimentão, na alface e na salsinha é excelente para tornar os cabelos lindos.

Envelhecimento geral - Para minimizar os efeitos exteriores da idade e sentir-se bem também por dentro, tome uma grande variedade de sucos que incluam salsão, melancia, cenoura e salsinha.

Olhos irritados - Olhos vermelhos, irritados e cansados podem acrescentar anos à aparência. Como remédio para isso, tome sucos ricos em folhas verdes e cenoura.

Pele áspera, envelhecida - Qualquer suco contendo damasco ou pêssego é ótimo para tornar a pele macia, elástica. Misturar um pouco de suco de batata com suco de cenoura é excelente para a pele.

Pele feia - A alta concentração se silício em hortaliças como pimentão, brócolis, repolho e verduras de folhas contribuem para a beleza da pele. Cenoura, gengibre e pepino também são bons.

Unhas fracas - Para unhas fortes, bonitas, que não lascam e resistem a rachaduras, experimente sucos que contenham pepino.

Fonte: Faz Bem

Consumo de peixe reduz infarto

Pessoas que comem peixe com frequência correm menos risco de ter um ataque cardíaco nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na China. Essa foi a conclusão à qual chegaram pesquisadores do Karolinska Institutet, de Estocolmo, Suécia, após analisar 15 estudos recentes sobre o tema.

Susanna Larsson e Nicola Orsini, médicos responsáveis pela análise, explicam que os ácidos graxos do tipo Ômega-3, muito presentes em peixes mais gordurosos, como salmão e arenque, reduzem o risco de infartos por terem efeitos benéficos na pressão sanguínea e no controle do colesterol.

Além dos 15 estudos, Larsson e Orsini analisaram ainda cerca de 400.000 pessoas, de 30 a 103 anos de idade, que foram acompanhadas por um período que variou de quatro a 30 anos. A conclusão é que pessoas que comem três porções semanais de peixe têm 6% menos chance de sofrer um ataque cardíaco. A diferença do risco de infarto entre os que mais comem e os que menos comem chega a 12%.

Em entrevista à Reuters, Dariush Mozaffarian, epidemiologista da Harvard School of Public Health e autor de um dos estudos analisados, disse que os "peixes fornecem um pacote muito benéfico de nutrientes" - além do Ômega-3, a vitamina D, o selênio e alguns tipos de proteínas podem fazer bem à saúde do coração.

"São muitas as evidências de que duas ou três porções de peixe por semana já são suficientes para diminuir as possibilidades de infarto", resume.

O estudo de Mozaffarian atenta ainda para diferenças entre dietas com diferentes tipos de peixe e reporta que peixe frito e sanduíches de peixe não partilham do mesmo benefício.

Fonte: Veja

Roland Garros, apaixonado por voar

Garros, de terno escuro e bigode: francês ajudou a impulsionar a aviação brasileira (Foto: AFP).

Roland Garros batiza um torneio de tênis, mas ele gostava mesmo é de aviação. O francês que dá nome a um dos torneios de tênis mais famosos do mundo estudou música e por pouco não se tornou um exímio pianista de orquestra. Mas, como acontecia com vários intelectuais do começo do século 20, Roland Garros (1888-1918) também era adepto de diversos esportes, como ciclismo, hóquei, rúgbi e tênis. No entanto, não era um tenista profissional.

Sua verdadeira vocação era voar. Apaixonado por shows aéreos, ele encomendou seu primeiro modelo ao brasileiro Santos Dumont. Logo já fazia piruetas pelo ar e colecionava recordes de altitude e velocidade. O feito mais notável foi em 1913, ao atravessar o mar Mediterrâneo em 7 horas e 53 minutos - um tempo espantoso para a época.

Na Primeira Guerra, ele inovou ao colocar uma metralhadora em seu Morane Tipo L. Nascia o avião de caça. "Os tripulantes até levavam armas, mas a eficiência era mínima. Garros criou uma plataforma de tiro muito precisa", diz Henrique Lins de Barros, historiador da técnica do voo do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

Mas, em 1915, um atirador alemão acertou Garros e forçou-o a aterrissar. Escapou em 1918 e voltou ao front, apenas para morrer a cinco semanas do fim da guerra. Esse gesto fez Roland Garros batizar o campeonato de tênis, iniciado em 1928.

O aviador, estreou ponte aérea Rio-SP

Conhecido mundialmente por ser o primeiro aviador a cruzar o Mar Mediterrâneo sem fazer escalas, o homem que dá nome ao Grand Slam parisiense teve um papel importantíssimo no desenvolvimento da aviação brasileira e foi, ao lado do paulista Edu Chaves, o primeiro a cruzar a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro em uma aeronave.

Nascido em Saint-Denis, Roland Garros conheceu o mineiro Santos Dumont no início do século XX e ficou encantado pelas invenções do brasileiro. Praticante de esportes como ciclismo, rúgbi e tênis – nunca profissionalmente -, o jovem europeu, em 1909, resolveu se arriscar nos céus e comprou o Demoiselle, último invento de Dumont, para iniciar seu treinamento.

aviador Roland Garros e Santos Dumont (Foto: Divulgação)Roland Garros (dir) aprendeu a voar em um avião do brasileiro Santos Dumont (centro) (Divulgação) O leque de amigos brasileiros de Garros aumentou rapidamente e, de aluno, o francês logo passou a professor. Em 1911, foi um dos convidado pela Queen Aviation Company Limited, de Nova York, para fazer uma demonstração no Rio de Janeiro. Na então capital do país, levou para voar pela primeira vez o campista Ricardo Kirk, que se tornaria o pai da aviação militar brasileira.

No ano seguinte, ao lado de Edu Chaves, membro de uma tradicional família de cafeicultores paulistas, foi o primeiro a completar o percurso Rio-São Paulo pelo ar, estreando a ponte-aérea. A aventura na América do Sul aguçou ainda mais o espírito desbravador de Garros, que voltou ao velho continente para marcar de vez seu nome na história. No dia 23 de setembro de 1913, o já experiente piloto partiu de Fréjus, no sul da França, rumo a Bizerte, na Tunísia. Ao completar o percurso, após 7h53m de voo, tornou-se o único até então a atravessar o Mar Mediterrâneo sem fazer escalas.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o aviador transformou-se em piloto de guerra e teve atuação importante no desenvolvimento dos caças. As cinco vitórias que obteve em batalhas lhe renderam o título de “Ás” da aviação. Foi capturado pelos alemães em 1914, mas conseguiu fugir e voltar ao front. Em 1918, porém, três semanas antes do fim do conflito global, foi abatido pelos adversários.

E por que um aviador que nunca jogou tênis profissionalmente dá nome a um dos principais e mais tradicionais torneios do mundo? Roland Garros era sócio do Stade Français, clube que em 1928 cedeu à Federação francesa de tênis um terreno de três hectares para a construção das novas quadras, necessárias devido ao aumento de popularidade da competição, cuja primeira edição foi realizada em 1891. A única exigência era que o complexo fosse batizado em homenagem a um de seus membros. Garros, falecido dez anos antes, foi o agraciado.

Fontes: Aventuras na História; Globo Esporte.

Mitos e verdades sobre o câncer

Instituto do Câncer de São Paulo alerta sobre mitos que dificultam o controle e diagnóstico do câncer. Crenças populares sem respaldo científico podem prejudicar a detecção precoce do câncer e o tratamento da doença.

"Com o maior acesso à internet pela população, o que poderia ser um facilitador da busca por informações pertinentes, nota-se, também, a propagação de diversos mitos e inverdades sobre o câncer", afirma o oncologista Paulo Hoff, diretor geral do Icesp - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, ligado à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP.

Confira o alerta do Icesp sobre mitos e verdades sobre a doença.

 Mitos

- Uso de desodorantes pode causar câncer de mama.

- Somente quem tem histórico familiar está sujeito a desenvolver a doença.

- Ingestão de leite prejudica o tratamento do câncer.

- O consumo de adoçantes provoca o surgimento da doença.

- Falta de higiene nas regiões íntimas não está relacionado ao câncer.

- Câncer é uma doença contagiosa.

- Pessoas negras não têm câncer de pele.

- Segurar a urina dá câncer de bexiga.

- Prática de relações sexuais sem preservativos não aumenta risco de desenvolvimento da doença.

- Implantes de silicone podem provocar câncer de mama.

- Alimentos preparados no micro-ondas podem provocar câncer.

- Um câncer pode ser causado por uma pancada.

- Todo nódulo ou tumor se transformará em câncer.

Verdades

- Falta de vitamina D pode aumentar os riscos de desenvolvimento de câncer de mama.

- HPV está relacionado ao desenvolvimento de tumores no ânus, e nos órgãos da região da cabeça e do pescoço.

- Consumo de álcool e tabaco elevam as chances de desenvolvimento da doença.

- Ter filhos mais tarde (após os 30 anos) aumenta os riscos de desenvolvimento de câncer de mama.

- Quanto maior a idade, maiores as chances de desenvolvimento de um câncer. Mas isto não significa que jovens não estejam sujeitos à doença.

- Homens também podem ter câncer de mama.

- Câncer tem cura. Quanto mais cedo for diagnosticado, maiores são as chances de curá-lo.

Fonte: Bem Estar

Obesos no mundo superam famintos

Número de obesos no mundo supera o de famintos. Enquanto 925 milhões estão desnutridos, 1,5 bilhão de pessoas são obesas. Segundo nota, excesso de nutrição mata mais que a fome hoje.

O número de pessoas obesas supera o de famintos no mundo, mas o sofrimento dos desnutridos está aumentando, em meio a uma crescente crise alimentar, alertou a Cruz Vermelha Internacional nesta quinta-feira (22).

O grupo humanitário, com sede em Genebra, dá destaque ao tema nutrição em seu relatório anual World Disasters Report, divulgado em Nova Délhi, que se volta para o abismo entre ricos e pobres e aos problemas causados pelo aumento recente dos preços.
Em estatísticas usadas para ilustrar o acesso desigual à comida, a Cruz Vermelha assinala que 1,5 bilhão de pessoas sofriam de obesidade no mundo no ano passado, enquanto 925 milhões estavam desnutridas.

"Se a livre interação entre as forças do mercado produziram um resultado em que 15% da humanidade passam fome, enquanto 20% estão obesos, alguma coisa deu errado", disse o secretário-geral, Bekele Geleta.

O diretor para a Ásia e o Pacífico, Jagan Chapagain, em entrevista coletiva na capital indiana, assinalou que "o excesso de nutrição, atualmente, mata mais do que a fome".

O problema da fome existia não porque faltava comida no mundo, lembrou Chapagain, mas por causa de falhas na distribuição, do desperdício, e do aumento dos preços, que tornou os alimentos inacessíveis.

O preço dos alimentos deu um salto global em 2011, aumentando os temores de um retorno da crise de 2008, que levou a distúrbios e à instabilidade política em vários países.

O aumento do preço dos alimentos, que a Cruz Vermelha diz se dever à especulação e às mudanças climáticas, entre outros fatores, contribuiu para a instabilidade no norte da África e no Oriente Médio este ano. "Uma nova rodada de inflação está puxando muitas das pessoas mais pobres do mundo para a pobreza extrema, e para situações de fome severa e desnutrição", alerta a organização.

O World Disasters Report é uma publicação anual da Cruz Vermelha Internacional que procura dar destaque a um tema que gere preocupação em todo o mundo. O relatório do ano passado concentrou-se na urbanização, e o de 2009, no vírus HIV.

Fonte: AFP- 22/9/2011.