segunda-feira, 5 de março de 2012

O aplauso do estupro

Era um chofer de praça. Não sei se de origem italiana ou se ele próprio era italiano. Um dia foi preso. Por que, nem Deus sabe. Não fizera absolutamente nada. Era uma das raras inocências do nosso tempo. Sua vida tinha este movimento doce e casto: — da casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Foi preso, repito, porque uma batida está acima da Justiça e da Iniqüidade.

E atiraram o chofer no fundo de um xadrez. Mas antes levou uns cachações. No seu espanto, começou a chorar.

Sim, ele, chefe de família, marido de uma santa senhora, pai de sete filhos, ele chorava. Mas uivaram: — "Engole o choro! Engole o choro!". O chofer de praça cerrou os dentes, trancou os lábios e acabou engolindo o choro. Um último bofetão e entrou no xadrez.

Lá estava uma meia dúzia de marginais. Ao vê-lo, um deles dá o berro triunfal: — "Carne fresca!". E o recém-chegado via aquelas caras, e tinha o olho enorme de pavor. O riso estava crescendo. Gritou: — "Socorro! Socorro!". Do lado de fora, o guarda nem olhou.

Uma hora depois, a Assistência encostava no distrito. Lá saiu o português, isto é, o italiano, de maca. A caminho do pronto-socorro, repetia: — "Não quero ver a minha patroa! Nem meus filhos!". Pausa, e vinha o resto: — "Não quero ver ninguém!". Sua idéia fixa era "não ver ninguém", nunca mais ver ninguém.

Ficou no corredor, esperando o primeiro médico vago. E quando apareceu um avental de mangas curtas, gemeu o apelo: — "Doutor, não me salve! Não me salve!".

Claro que o médico o salvou.

Passou no hospital oito dias (não sei, exatamente. Vá lá: — oito dias). Já na manhã seguinte, saiu a manchete, não sei se na Luta, no Dia, ou em ambos: — "Currado no xadrez".

Parece que o jornal falava em sete marginais. Ah, esquecia-me de dizer que não recebeu a mulher, que aparecera com dois garotos. Mandou o recado: — "Vai embora! Vai embora!".

O chofer de praça queria sair do hospital e desaparecer. Teve a idéia de ir para não sei onde e até de mudar de nome. Chamava-se não sei se Lucas (agora me lembro: — o pai é que era italiano). Mas um médico, recém-formado, deu-lhe conselhos. Disse que nem ele, nem a mulher, nem os filhos tinham culpa de nada. Portanto, devia voltar, sim, para casa. Ele dizia, de olhos baixos (não tinha coragem de olhar para ninguém):

— "Minha mulher vai mudar, meus filhos vão mudar". Achava que até o caçula havia de olhá-lo de outra maneira. E arquejava, sem encarar o médico:

— "Minha mulher não vai esquecer. Eu sei que ela não vai esquecer!".

Mas o doutor tanto insistiu que, por fim, disse: — "Vou pra casa, sim". E acrescentou, de olhos baixos, sempre de olhos baixos: — "O senhor me salvou".

No fim dos oito dias, saiu. Na porta do hospital, teve uma última dúvida. Por fim, decidiu-se: — "Vou". E foi.

Entra em casa. Ao vê-lo, a mulher começa a chorar. Os filhos têm medo. Ele está dizendo baixo e vai num crescendo: — "Não olhem pra mim. Não olhem pra mim". O menor veio atracar-se ao pai, mas levou um safanão.

E o chofer corre para o quarto e tranca-se lá. Vai abrir a gavetinha e apanhar a arma. Mete uma bala na cabeça.

Eis o que queria dizer: — também a Tchecoslováquia foi currada. De repente, nas barbas da platéia mundial, não sei quantos exércitos a estupraram. Foi invadida por todos os lados. Humilhada, ofendida, pisada. Bem. Cabe então a pergunta: — e que vão fazer os estudantes? E os intelectuais? E os grã-finos? E a "classe teatral"? E, sem querer, penso na Hungria. Quando os russos a massacraram, existia a UNE.

Hoje, todo mundo chora a sua clandestinidade. Tem-se a impressão de que o Brasil não anda porque fecharam a UNE. Mas insisto: — que fez a famosa e tão pranteada UNE quando a Hungria foi invadida? Não fez nada, exatamente nada, e repito: — não exalou um pio. Um mísero pio, nada.

Boiando nas verbas fáceis como uma vitória-régia, ela ignorou o assassinato de um povo. Os húngaros foram fisicamente esmagados. Os tanques passaram por cima de crianças, mulheres, velhos. E nenhuma manifestação da UNE. Hoje, temos até uma musiquinha de protesto. Mas só contra o americano. O compositor põe umas rimas no ódio aos Estados Unidos e se dá por satisfeito.

Aí está a nossa má-fé cínica e inédita: — o nosso ódio não toma conhecimento da Rússia. Amantes espirituais de Guevara (e de ambos os sexos) são numerosíssimos. Houve um tempo em que era Stalin. E, então, eu via, aqui, por toda a parte, "amantes espirituais" de Stalin. Eram jornalistas, intelectuais, poetas, romancistas.

Lembro-me de um comunista que me dizia, na redação de O Globo: — "Hitler é mais revolucionário do que a Inglaterra". Isso antes da invasão da Rússia. Outros punham nas paredes retratos de Stalin. Era uma pederastia idealizada, utópica e fotográfica.

Nos últimos tempos, temos visto as passeatas. Perguntem a um dos que marcham: — "Você é o quê?". Ele dirá: — "Socialista". Não de modelo sueco. Ninguém está interessado na Suécia e no seu socialismo não stalinista, não homicida, não sanguinário. O sujeito da passeata é socialista chinês, ou russo, ou cubano. Mas o russo, ou chinês, é a invasão da Hungria, da Tchecoslováquia, da Polônia, na guerra. E, por isso, vimos nossos jovens marchando com cartazes de "Muerte".

Desde quando o brasileiro odeia em espanhol, mata em espanhol? (E a China é o socialismo na sua forma stalinista mais bestial e assassina). Sempre que há as passeatas, picham as nossas paredes com vivas a Cuba, ao Vietcong, a Guevara. Ao Brasil, não. Mas que é Cuba? É uma Paquetá. E não invade, não faz imperialismo porque é frágil, impotente, indefesa como Paquetá.

E os nossos intelectuais de "passeata", de "manifestos"? Que farão eles? Gostaria de vê-los passeando em favor da Tchecoslováquia e contra a Rússia. Por toda a Cortina de Ferro, o crime contra a inteligência é uma descarada rotina. E deve haver uma relação entre os intelectuais e a inteligência. O diabo é que eles só usam o gesto, a ênfase, o palavrão, contra os Estados Unidos. São os que mais odeiam os americanos.

Mesmo os mais desinteressados do ato político, do pensamento político, do crime político, mesmo esses, dizia eu, fingem-se de antiamericanos. Nunca me esqueço de Érico Veríssimo. Tem tão escassa informação política que é capaz de pensar que somos governados ainda por d. Pedro II. E o nosso Érico achou-se na obrigação de vir a público meter o pau nos Estados Unidos. No Brasil, o intelectual tem de xingar a grande nação para sobreviver.

Mas os estudantes que têm retratos de Mao Tsé-tung, Lenin, Guevara, não vão fazer nada. As sacadas, que são aéreas barricadas, também nada. E os intelectuais? Esses são socialistas, do tipo que mata, fere, degrada, curra e desumaniza. Um povo foi violentado como o chofer de praça.

Portanto, por obrigação de coerência, e em nome do socialismo, os intelectuais devem aplaudir o estupro.

[23/8/1968]
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A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Correr faz bem

Um estudo recente de neuroimagem realizado na Universidade de Bonn (Alemanha), mostrou pela primeira vez o aumento da liberação de endorfinas em certas partes do cérebro de atletas durante duas horas de corrida.

Muitas evidências mostram que atividades de longa duração induzem a uma redução de estresse, da depressão e melhora da ansiedade e humor. O sistema opióide endógeno, isto é, o produzido e liberado pelo nosso corpo, age em resposta ao estresse, na regulação da dor e na ação de drogas analgésicas.

Existem muitos estudos relatando o estado de euforia durante a corrida, comumente referido em inglês como runner's high. Apesar disso, não existe uma definição aceita sobre o que realmente significa isso (runner's high). Muitos corredores têm a oportunidade de vivenciar um estado de euforia durante a corrida. Enquanto que o estado que eles vivenciam varia grandemente para cada indivíduo, existe um sentimento comum associado com o termo runner's high.

Quando se pergunta a uma pessoa sobre o que ela sente durante a corrida, ela normalmente irá dizer que isso é um estado de contentamento que o corredor poderia perceber depois de certa distância ou tempo de corrida. Os corredores não são os únicos que apresentam esse tipo de experiência. Atletas de outras modalidades esportivas também relatam a mesma coisa.

A teoria mais favorável descreve que esses efeitos fisiológicos e psicológicos se devem a alterações no sistema opióide central. A hipótese da endorfina foi deixada de lado porque até hoje esse mecanismo é baseado em medidas indiretas como aumento de endorfinas na circulação sanguínea. Os níveis de endorfinas periféricas parecem não refletir o do sistema nervoso central. As endorfinas liberadas na corrente sanguínea durante o exercício físico fazem parte de uma resposta ao estresse do corpo e não ultrapassam a barreira sanguínea cerebral.

Por muitos anos essa hipótese do corredor permanecia sem muita comprovação. Cientistas da Universidade de Bonn, Alemanha, avaliaram 10 atletas antes e após corrida de duas horas com uma técnica de neuroimagem chamada tomografia de emissão de positrons (PET). A comparação da imagem antes e após duas horas da corrida de longa distância mostraram um aumento da liberação de endorfinas em algumas áreas cerebrais. É interessante observar que as áreas mais ativadas estavam preferencialmente localizadas na região pré-frontal e regiões límbicas, conhecidas por ter uma função importante relacionada com as emoções.

Foi observado também aumento dos níveis de euforia e bem-estar em atletas ou em bem condicionados. Os níveis de depressão, ansiedade, etc., nos atletas, são menores que num individúo sedentário. Esses resultados são importantes para pacientes com dor crônica, uma vez que os opióides são liberados de áreas cerebrais que também estão envolvidas na supressão da dor. Nesse sentido, atividades esportivas de longa duração podem contribuir de forma significativa na redução do estresse, ansiedade, melhora do humor e diminuição da percepção da dor.

Fonte: Educação Adventista / Blog in "(Boecker H, Sprenger T, Spilker ME, Henriksen G, Koppenhoefer M, Wagner KJ, Valet M, Berthele A, Tolle TR. The Runner's High: Opioidergic Mechanisms in the Human Brain. Cereb Cortex. 2008)"

Perólas do ENEM

O tema da redação do ENEM do ano de 2008 foi "Aquecimento Global", e como acontece todo ano, não faltaram preciosidades nas redações! É cada uma que você não vai acreditar. Preparem-se!

1) "o problema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta." (com percussão e estalos, o negócio vai ficar animado)

2) "A amazônia é explorada de forma piedosa." (tende piedade de nós..)

3) "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar o planeta." (tamo junto nessa companheiro. Mais juntos que isso, impossível)

4) "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu." (na velocidade 5!)

5) "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta." (pra deixar bem claro o tamanho da destruição)

6) "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação." (pleonasmo é a lei)

7) "Espero que o desmatamento seja instinto." (selvagem)

8 ) "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo." (o verdadeiro milagre da vida)

9) "A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta." (também fiquei emocionado com essa)

10) "Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis." (todo mundo na vida tem que ter um filho, escrever um livro, e realizar uma árvore renovável)

11) "Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas." (esqueceu que também ficam sem o 'home theater' e os dvd's da coleção do Chaves)

12) "Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna." (amém)

13) "Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza." (e as renováveis?)

14) "A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica." (deve ser culpa da morte ecológica)

15) "A amazônia tem valor ambiental ilastimável." (ignorem, por favor)

16) "Explorar sem atingir árvores sedentárias." (peguem só as que estiverem fazendo caminhadas e flexões)

17) "Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela amazônia." (todo mundo quer cagar no brasil..)

18) "Paremos e reflitemos." (que lindo!)

19) "A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas." (inscrições abertas para o desmatamento da amazônia)

20) "Retirada claudestina de árvores." (cladestinamente clandestino isso)

21) "Temos que criar leis legais contra isso." (que legal!)

22) "A camada de ozonel." (Chris O'Zonnell?)

23) "a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor." (a solução é colocar lá o pessoal da Zorra Total pra cortar árvores)

24) "A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração." (para fabricar o papel pra esse doido ficar escrevendo asneiras)

25) "A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo desmatamento devastador, intenso e imperdoável." (campeão da categoria "maior enchedor de lingüiça")

26) "Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação." (e a escritação bem escrevida)

27) "Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises." (essa pessoa é praticamente um gênio da matemática)

28) "A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes." (red bull neles - dizem as árvores)

29) "O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório." (bote expiatório nisso)

30) "O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando." (subindo sempre pra cima né)

31) "Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc." (olha a globalização ai)

32) "Convivemos com a merchendagem e a politicagem." (que sacanagem hein)

33) "Na cama dos deputados foram votadas muitas leis." (imaginem as que foram votadas no banheiro deles)

34) "Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia." (nossa mãe..)

35) "O que vamos deixar para nossos antecedentes?" (dicionários).

Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/articles/6513/1/Perolas-do-ENEM-2008/Paacutegina1.html

Refrigerantes: fique alerta

Em uma pesquisa com 24 refrigerantes, a Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor verificou que 7 têm benzeno, substância potencialmente cancerígena.

O benzeno surge da reação de um conservante, o benzoato de sódio, com a vitamina C. Como não há regra para a quantidade do composto em refrigerantes, usou-se o limite para água potável: 5 microgramas por litro. Os casos mais preocupantes foram o da Sukita Zero, que tinha 20 microgramas, e o da Fanta Light, com 7,5 microgramas. Os outros cinco produtos estavam abaixo desse limite.

Fernanda Ribeiro, técnica da Pro Teste, diz que é difícil estudar a relação direta entre o benzeno e o câncer em humanos, mas que já se sabe que a substância tem alto potencial carcinogênico e que, se consumida regularmente, pode favorecer tumores. "Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), não há limite seguro para ingestão dessa substância", diz.

A química Arline Abel Arcuri, pesquisadora da Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) e integrante da Comissão Nacional Permanente do Benzeno, diz que o composto vem sendo relacionado especialmente a leucemias e, mais recentemente, também ao linfoma.

O fato de entrar em contato com o benzeno não significa necessariamente que a pessoa vá ter câncer -há organismos mais e menos suscetíveis. "Mas não somos um tubo de ensaio para saber se resistimos ou não, e não há limites seguros de tolerância. O ideal, então, é não consumir", diz Arcuri.

O benzeno está presente no ambiente, decorrente principalmente da fumaça do cigarro e da queima de combustível. Na indústria, é matéria-prima de produtos como detergente, borracha sintética e náilon. Nesse caso, não contamina o consumidor por se transformar em outros compostos. A principal preocupação é proteger o trabalhador da indústria. O efeito do benzeno é lento, mas, quanto maior o tempo de exposição e a quantidade do composto, maior a probabilidade de desenvolver o tumor.

A pesquisa da Pro Teste encontrou, ainda, adoçantes na versão tradicional do Grapette, não informados no rótulo. O problema é maior no caso de crianças, que devem ingerir menos adoçantes. Foram reprovados outros seis produtos que tinham os corantes amarelo crepúsculo -que, segundo estudos, favorece a hiperatividade infantil- e amarelo tartrazina - com alto potencial alergênico. "O amarelo crepúsculo já foi proibido na Europa. E muitas crianças têm alergia a alguns alimentos e, depois, descobre-se que o problema é o amarelo tartrazina", diz Ribeiro.

Os corantes são aprovados no Brasil, mas, para a Pro Teste, as empresas deveriam substituí-los por outros que não sejam problemáticos, assim como no caso do ácido benzoico. "É um problema fácil de ser resolvido", diz Ribeiro.

Fabricantes afirmam que cumprem lei

A Coca-Cola, responsável pela Fanta, afirmou, em nota, que cumpre a lei e que os corantes de bebidas são descritos no rótulo. Afirma, ainda, que o benzeno está presente em alimentos e bebidas em níveis muito baixos.

A AmBev, que fabrica a Sukita, informou que trabalha "sob os mais rígidos padrões de qualidade e em total atendimento à legislação brasileira".

Cláudio Rodrigues, gerente-geral da Refrigerantes Pakera, que fabrica o Grapette, diz que a bebida tradicional pode ter sido contaminada por adoçantes porque as duas versões são feitas na mesma máquina. "Os tanques são lavados, mas pode ter ficado resíduo de adoçante no lote testado."

Fonte: Folha de São Paulo, 05 de maio de 2009.

Os deuses egípcios

Anúbis
Os antigos egípcios acreditavam na existência de seres superiores e eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Esses seres normalmente possuíam características de animais e também uma junção entre características animais e humanas. Os faraós egípcios criam na idéia de que também eram deuses e que possuíam poderes mágicos.

Os egípcios também acreditavam na existência da vida após a morte, onde ao morrer todos passariam pelo Tribunal de Osíris (rei egípcio) para obter seu julgamento. Alguns conseguiam voltar à vida de acordo com o veredito de Osíris, mas outros não.

Tal fato mostra a origem da mumificação dos corpos quando as pessoas morriam, pois buscavam impedir que o corpo entrasse em processo de decomposição para que após o veredito de Osíris a pessoa pudesse voltar ao seu corpo mortal e tomar posse de todos os seus pertences novamente.

Como havia inúmeros deuses cultuados no Egito, segue abaixo os mais importantes:

Amon: considerado deus dos deuses do Egito Antigo, foi cultuado junto com Rá (Amon-Rá).

Anúbis: Foi a primeira múmia do Egito. Representa a morte conduzindo as almas até Osíris para que fossem julgadas.

Hórus: foi o deus falcão, filho de Ísis e Osíris, cultuado como o sol nascente.

Ísis: foi esposa de Osíris, mãe de Hórus, protegia a vegetação e era a deusa das águas e das sementes.

Maat: Deusa da justiça, equilíbrio e verdade, é considerada a guardiã dos tribunais.

Nut: representada por uma figura feminina, era a mãe de Rá (Sol). Ela engoliu Rá, formando a noite e fazendo-o renascer a cada manhã.

Osíris: deus dos mortos, da vegetação e da fecundidade, era representado pelo rio Nilo. Era Osíris que buscava as almas dos mortos para serem julgadas em seu Tribunal.

Ptah: Considerado o deus guardião da capital do Egito Antigo e das artes em pedra.

Rá: o deus Sol, unido ao deus Amon, formando Amon-Rá, era o principal deus.

Set: foi colocado como grande inimigo de Osíris (Nilo), era o vento quente vindo do deserto, encarnação do mal.

Fonte: www.brasilescola.com/historiag/os-deuses-egipcios.htm

Cientistas: gente como a gente

Muitos crêem que pelo fato de alguém abraçar a ciência, este alguém é sensato por natureza, sóbrio e, principalmente: "racional". Aqui vão alguns indícios de que "nem tudo que reluz é ouro"... e separar-se o joio do trigo não é apenas uma metáfora aplicável entre ciência e religião...

Nascido na ilha grega de Samos, Pitágoras (565-490 a.C.) revolucionou a matemática. Suas teorias seriam aplicadas com êxito no estudo do movimento dos astros 17 séculos mais tarde. O que o seu professor talvez não tenha contado é que o sábio grego tinha lá suas esquisitices.

Pitágoras acreditava que olhar a própria imagem no espelho à luz de velas atraía azar. Deixar de arrumar a cama, idem. E achava que tocar em um frango vivo era pedir para que algo de ruim acontecesse. Acostumado a raciocínios lógicos, Pitágoras nutria um leque de superstições digno de um babalorixá. Era um gênio matemático e também um místico: liderava uma seita que pregava a reencarnação e a metempsicose - a volta à Terra de alguém que cometeu crimes em vidas passadas, encarnado no corpo de um animal.

Tinha também atitudes dignas de um Francisco de Assis: quando não estava calculando, Pitágoras podia ser visto conversando com os bois. Certa vez, chegou a bater com a bengala em um homem que maltratava um cachorro. "Não faça isso", disse. "Este aí é um amigo que morreu há pouco tempo e reencarnou."

Muitos gênios, aliás, foram flagrados em atitudes que revelam uma malandragem digna dos românticos morros cariocas de outrora. Vejamos o caso do astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), falastrão e polemista, que teve coragem suficiente para desafiar a Igreja com a sua teoria de que a Terra girava em torno do Sol, e não o contrário. Mas não conseguiu resistir à tentação de se apoderar de idéias alheias para alcançar prestígio e conseguir recursos para manter a vida boêmia. Gostava de estar em evidência. Um dia chamou o povo e divulgou, na praça da cidade, as dimensões do inferno e a altura exata do Diabo Fiel freguês dos bordéis de Pádua, cidade do interior da Itália onde lecionava filosofia.

Galileu amou muitas prostitutas e acabou casando-se com uma delas. Com muitas contas para pagar, não viu outra saída senão usar a sua inteligência como inventor. Numa viagem a Veneza, o astrônomo ouviu rumores a respeito de um fabricante de óculos que acabara de inventar um instrumento que permitia observar objetos distantes como se estivessem perto. Voltou para casa correndo e só descansou depois que o telescópio estava pronto e patenteado com o seu nome.

Também tropeçou, ao menos uma vez, na seriedade e na precisão que se espera de um dos maiores homens de ciência da história. Empolgado com cálculos e sempre pronto a detonar uma polêmica, o cientista italiano - que, apesar de sua herética teoria heliocêntrica, era católico - anunciou em praça pública que revelaria as dimensões e a localização matemáticas do inferno. Calculou então que os domínios do Diabo tinham a forma de um cone invertido, ocupavam um doze avos do volume da Terra e ficavam exatamente abaixo da cidade de Jerusalém. Como se não bastasse, arriscou esboçar a altura de Lúcifer que, pelas suas contas, mediria 1935 braças (mais de 4 quilômetros).

Galileu não está sozinho no time dos que não hesitaram em surrupiar a idéia do próximo. Antoine Lavoisier (1743-1794), o químico francês que imortalizou a expressão "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", ganhou notoriedade em 1788 ao demonstrar que o ar é composto por vários gases e que o oxigênio é fundamental para a combustão. Tudo bem, não fosse um pequeno detalhe: quem descobriu a existência do oxigênio não foi Lavoisier, mas seu amigo Joseph Priestley (1733-1804), que teve a infelicidade de confidenciar a descoberta ao colega francês durante uma festa regada a vinho.

Isaac Newton (1642-1727), o físico inglês que conseguiu enxergar na queda de uma maçã o rastro de uma força invisível que age sobre todas as coisas que estão ao redor e sobre a Terra: a gravidade. Newton dava um boi para entrar numa encrenca e uma boiada para não sair. Criado sem pai, longe da mãe, o menino Newton teve que ser camareiro de um professor em troca da bolsa de estudos na escola elementar. Mais tarde se tornaria um homem fechado, agressivo e ambicioso.

Tão logo a Teoria da Gravitação Universal foi publicada, o físico Robert Hooke (1635-1703) cutucou a onça com vara curta, acusando Newton de plágio. Hooke jurava que tinha feito a descoberta primeiro. Não sabia com quem estava lidando. Newton revidou e os dois, além das alfinetadas por cartas e artigos em jornais, chegaram a trocar sopapos nos corredores da Royal Society, sociedade científica inglesa presidida por Newton. "Hooke deveria ser tão conhecido na época quanto Newton", diz Shozo. Mas só Newton entrou para a história.

Em 1699, o físico inglês foi nomeado diretor da Casa da Moeda Britânica, cargo que ocupou por 20 anos. O importante posto lhe permitiu ajudar amigos com empréstimos e, claro, prejudicar os inimigos. Além disso, também assinou mais de 100 ordens de prisão e decretou alguns enforcamentos por não pagamento de dívidas. Envolvido com tanto trabalho, dizia não ter tempo para mulheres e nunca se casou. Os inimigos não perderam a chance de acertá-lo no rim: é que Newton não se casou, mas se apaixonou perdidamente. Por um homem. Durante anos trocou cartas carinhosas com o jovem matemático suíço Fatio Duillier.

Em excentricidade nenhum cientista até hoje conseguiu desbancar Albert Einstein (1879-1955), autor da Teoria da Relatividade, um dos pilares da física moderna. Para começar, Einstein costumava deitar na banheira vazia para estudar, imaginando estar sentado na escrivaninha. Caminhava debaixo de tempestades sem se dar conta da chuva, rabiscava fórmulas na toalha da mesa, comia suas refeições, geladas no prato, horas depois que as outras pessoas já haviam comido, e escrevia discursos de agradecimento no verso de notas fiscais. Além de pregar que os números se dividiam entre machos e fêmeas. Absolutamente absorto em seu mundo particular, vivia praticamente sem um tostão no bolso, foi visto várias vezes catando bitucas de cigarro nas ruas.

Fonte: ceticismoaberto - Os Grandes Cientistas

A mulata é a tal

Eram mais ou menos umas três horas da matina e tudo era silêncio naquele prédio de apartamentos da Rua Constante Ramos. Apenas aqui o filho de dona Dulce e mais um fotógrafo, trabalhavam no laboratório deste, preparando as fotos de uma reportagem. Foi quando se ouviu a voz da senhora do apartamento ao lado altear-se na noite em tom violento:

— Vagabundo sim... um vagabundo é o que você é.

E depois acrescentou: — Nojentão!!!

O nojentão devia ser o marido, que respondeu qualquer coisa em bemol, para não incomodar os vizinhos. Mas o exemplo não foi seguido e madame largou brasa de novo:

— Me larga... Tira a mão de mim, cretino.

O nojentão, e agora também cretino, falava em tom sibilante e o fotógrafo, parando o trabalho, me explicou que no apartamento ao lado morava um casal já meio sobre o maduro. Não tinham filhos nem recebiam visitas. Tinham, isto sim, uma empregadinha que era mulata. Boa às pampas.

— Então a bronca deve ser por causa da empregada — eu disse.

E foi batata. Logo se ouviu uma segunda voz feminina, esta mais tímida a dizer que dona Dolores estava enganada, que não, que absolutamente, que o doutor sempre foi muito respeitador.

— Cale-se! — ordenou aos berros dona Dolores. E lá do laboratório nós dois — eu e o fotógrafo — testemunhas auditivas da esbórnia, ouvimos algo se espatifar no chão.

Aí foi o nojentão que bronqueou: sua voz grossa cresceu na noite:

— Quebra tudo, sua idiota. Pode quebrar. Madame seguiu o conselho e houve um barulho de louça que se espatifava, panos que se rasgavam, madeiras que se quebravam. Isso durou mais ou menos uma hora e foi ficando tão monótono que nós dois reiniciamos o trabalho antes mesmo do quebra-quebra chegar ao meio.

Dias depois tive que voltar ao apartamento do fotógrafo, para um novo trabalho, e ele me disse:

— Lembra-se da briga no apartamento aí do lado? Pois ganhou a mulata. A Dona Dolores se mandou e a empregada é que ficou no lugar dela. A julgar pela cara do nojentão, a troca deixou-o bem feliz.

— Vai ver que a mulata agora é a patroa. Ele não "botou outra pra cozinhar? — perguntei. 

— Não. Estão morando sozinhos.

Eu não sou de muito futucar a vida alheia, mas o fotógrafo, talvez por se tratar de seu único vizinho, andou espionando a vida privada do nojentão. Decididamente a mulata virou patroa, mas ontem deu-se um imprevisto. A antiga cozinheira e atual patroa continua lá mas o fotógrafo viu que Dona Dolores tinha voltado.

Espiou por cima do murinho e viu Dona Dolores no apartamento. Na mesma hora telefonou para mim:

— Olha, Dona Dolores voltou.

— E a mulata?

— Continua aqui.

— Então, pelo jeito, Dona Dolores voltou para cozinhar pro casal.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975