segunda-feira, 30 de abril de 2012

Beatriz Costa, a vedete de dois países

– Me pega no colo!...

Pega-me ao colo é uma frase simples, infantil. Mas se quem a diz é Beatriz Costa, que feito menina mimada pede colo aos espectadores, a tal frase simples entra no vocabulário popular, passa a ter os mais inesperados significados. E uma revista que se vai estrear, nesse ano de 1938, terá  inevitavelmente como título Pega-me ao colo.

Beatriz Costa nasceu Beatriz da Conceição em 14 de dezembro de 1907, em Portugal, numa aldeia chamada Charneca do Milharado, relativamente perto de Lisboa. 

Aos 15 anos estreou, com o apoio da família, como corista do teatro de revista, em Chá com Torradas, no Éden Teatro de Lisboa, seguindo em excursão com a companhia para o Alentejo e para o Algarve. Foi o famoso revisteiro Luís Galhardo quem a batizou com o nome artístico de Beatriz Costa.

Em 1924, ela já estava atuando no Teatro Maria Vitória de Lisboa, na revista Rés Vês e sendo preparada para fazer números mais importantes, pois a mocinha levava muito jeito e evoluía rapidamente.

No dia 24 de julho de 1924 embarcou, com a companhia, no navio Lutelia rumo ao Brasil. Ficou aqui até 1926. Estreou no Rio de Janeiro com as revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo. Pela sua graça e interpretação foi bem recebida pelo público e pela imprensa carioca. Consolidou seu nome e sucesso com revistas e operetas como Piparote; Disparate; Aqui d’el Rei; O 31; De Capote e Lenço; Tintim por Tintim; O Gato Preto; As 11 Mil Virgens; Rataplan.

No entanto, não foi dessa vez que Beatriz Costa ficou no Brasil. Voltando a Portugal, com reputação de grande artista, passou por várias companhias ao lado de renomados artistas, como Nascimento Fernandes, Manoel de Oliveira e Eva Stachino, quando obteve grande popularidade com o número D. Chica e Sr. Pires, ao lado de Álvaro Pereira.

Em 1927, talvez influenciada pelo furor que o corte à la garçonne de Margarida Max provocou, Beatriz Costa estreou no cinema, com um novo corte de cabelo que se tornaria sensação entre as mulheres: o franjão. A partir daí, como se diz em Portugal, toda a gente sabe o que significa ter uma franja à Beatriz Costa.

A sua segunda visita ao Brasil foi com a companhia portuguesa de Eva Stachino, em 1929. Novamente, a imprensa noticiou o sucesso da atriz, relembrando sua passagem pela América do Sul. Em solo brasileiro, o grupo apresentou a revista Pó de Maio; Lua de Mel; Meia-noite; Carapinhada e A Mouraria, entre outras. Após as apresentações em São Paulo, foi convidada por Procópio Ferreira a integrar a companhia de comédias do ator, mas recusou a proposta.

De volta à Europa, Beatriz Costa fez um documentário chamado Memórias de uma Atriz, contando episódios de sua carreira.

Mas era o teatro a sua grande motivação: "Acordada ou dormindo, o meu sonho constante era o teatro. Absorvia-me todos os pensamentos. Das minhas pupilas não se apagava o fulgor das apoteoses, a atitude, o sorriso, a plástica das estrelas".

Sua atuação no teatro português continuava intensa. Trabalhou, também, com a famosa atriz Corina Freire e atuou nas revistas A Bola; Pato Marreco; O Mexilhão; Pirilau.

Em 1936, estrelou a peça Arre Burro, com grande sucesso.

Em 1939, Beatriz Costa retornou pela terceira vez ao Brasil, dessa vez para uma temporada que se prolongou por 10 anos, a qual considerou os melhores anos da sua vida. Trabalhou durante muito tempo no Cassino da Urca, no Rio de Janeiro.

Considerada uma sedutora de plateias, Beatriz Costa divertiu o público carioca e se firmou como uma profissional da alegria, como ela mesma se intitulou em livro autobiográfico: "Nunca gostei de contar a minha vida a estranhos… É mais do que isso… É um livro de verdades duras, que conta muito do que se tem passado comigo, para lá da cortina de seda… Profissional de alegrias... é natural que não me detenha em episódios dramáticos".

Do alto de seu 1,53 m de altura, a vedete dos dois países somou o amor do público português ao do brasileiro e construiu uma trajetória digna de respeito.

Morreu aos 88 anos, em 15 de abril de 1996, em Lisboa.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.

Pepa Ruiz

Josefa Maria do Rosário de La Santíssima Trindad Ruiz Puebla era espanhola de Andaluzia e nasceu em 13 de agosto de 1904. Seu apelido desde criança era Pepa, apelido de todas as Josefas espanholas.

Quando tinha 8 anos, Pepa e a família se mudaram para Portugal, porque o pai, Don José, morreu em Cuba e a família estava com problemas financeiros. Em Lisboa, Pepa estudou dança, impressionou os professores, ganhou prêmios e foi enviada de volta à Espanha para estudar com uma famosa coreógrafa.

Com o fim da Primeira Guerra, voltou a Lisboa, onde estreou profissionalmente como bailarina na ópera Aida, estrelada pelo famoso tenor Tito Schipa. Usou o nome artístico Pepa Ruiz.

Aos 16 anos, já era bailarina, atriz e, também, coreógrafa. Casou-se com Artur Rosa Mateus, ator e bailarino (e futuro dramaturgo e maestro) do teatro de revista. Nesse mesmo ano, veio ao Brasil, para se apresentar no Teatro Recreio, com Salada Russa. Ao final da temporada, Pepa, grávida, desmanchou seu casamento e resolveu ficar por aqui.

Em janeiro de 1921, estreou, como atriz e bailarina, na revista carnavalesca Reco Reco, de Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes, no Teatro São José, ao lado de Otília Amorim, Alfredo Silva e Pinto Filho. A peça foi um sucesso e Pepa, como bailarina, foi chamada de Pavlova Brasileira.

Atuou na reprise do estrondoso sucesso O Pé de Anjo. Em março de 1921, nasceu seu filho Roberto Ruiz que, anos mais tarde, se tornaria um grande revistógrafo. Pepa voltou aos palcos na revista portuguesa De Capote e Lenço. Foi elogiadíssima pela crítica e fez carreira extensa em revistas, como, por exemplo, Água no Bico!..., sucesso da temporada junho/julho, no Teatro Carlos Gomes.

Com sua popularidade em alta, houve certa confusão com a outra Pepa Ruiz, que anos antes havia sido a maior estrela do teatro de revista brasileiro. A velha Pepa, já doente, quis conhecer a nova. O encontro se deu no Hotel Avenida, onde residia a estrela do passado. Fumando um charuto, a velha Pepa conversou com a moça. Descobriram, além da mesma paixão, outras coincidências como o mesmo nome José (Pepe) de seus pais.

Pepa assinou contrato com a prestigiada atriz caricata Alda Garrido e experimentou um novo gênero: a burleta. Além de atuar com Alda Garrido, participou das companhias de revistas de Otília Amorim e Margarida Max. Fez Amendoim Torrado (1925); Amor sem Dinheiro (1925); Turumbamba (1926); Ilha de Amores (1926); Quem Manda é o Coronel (1926); Olha à Direita, entre outras. Seu grande sucesso foi Luar de Paquetá (1924), de Freire Jr., onde lançou a famosa marcha-rancho de mesmo título.

Aos 30 anos, já era uma das mais requisitadas atrizes de nosso teatro (musical e declamado). Trabalhou com Procópio Ferreira em Deus lhe Pague, de Joracy Camargo, com a Companhia de Vicente Celestino, e fez várias revistas com Aracy Côrtes e outros famosos.

Na década de 1940, depois de fazer revistas com Beatriz Costa e Mesquitinha, fez sucesso como atriz no teatro declamado. Incursionou, inclusive, pelo rádio. A partir de 1951, voltou a Portugal como empresária de companhias brasileiras. Levou Alda Garrido para Lisboa, viajou por diversos países, atuando, administrando, comandando. Administrou as companhias de Aimée e Joana D´Arc.

Organizou, em 1957, uma excursão da Cia. Brasileira de Revistas pela Europa e países de língua portuguesa na África. O sucesso foi absoluto. Pepa Ruiz liderava o elenco composto por Antônio Spina, Berta Loran, Gracinda Freire, Almeidinha e outros. Durante todo o ano de 1957 fizeram temporada africana.

Em 1958, estrearam em Portugal, com a revista Fogo no Pandeiro, de Max Nunes, J. Maia e seu filho Roberto Ruiz. Os autores escreveram ainda mais três peças especialmente para a companhia. Ao fim da excursão pela África e Portugal, fez nova ida à Europa indo à Espanha, França e Alemanha, contratando artistas brasileiros e os promovendo nesses países.

Pepa Ruiz, além de estrela da revista, foi uma mulher comprometida com o teatro brasileiro. Pelo seu incessante trabalho como atriz e empresária era muito querida no meio artístico.

Em 1959, ao completar 40 anos de carreira, foi homenageada no Teatro Carlos Gomes. Na ocasião, estiveram presentes mais de cem atores e personalidades teatrais, num desfile artístico até então inédito: Oscarito, Aracy Côrtes, Aimée, Pascoal Carlos Magno, Dercy Gonçalves, Jayme Costa, Manoel Pera, Mário Lago, Procópio Ferreira, Rodolfo Mayer, Vicente Celestino e tantos outros.

Nos anos seguintes, consolidou a carreira de administradora. Encarregou-se das companhias de Eva Todor e também de Dercy Gonçalves.

Em 1977 foi nomeada administradora do Teatro Dulcina, que o SNT recém adquirira. Ela ocupou esse cargo até sua morte, em 26 de dezembro de 1990.

Fonte: As Grandes Vedetes do Brasil - de Neyde Veneziano.

A arma do crime

Foi em São Paulo. Aqui o jornal diz que Isaura Specca Pinto registrou a queixa na Polícia, depois de ter recebido socorro médico. Fora atacada pelo seu amásio (em notícia de fato policial o distinto é sempre amásio e nunca amante. É um truque lá dos coleguinhas). O amásio é o vigia de obra Herculano de Sousa Martins.

Para que vocês não fiquem imaginando que a gente inventa essas coisas, vão aqui outros dados importantes. O casal vivia (vai no passado porque a reconciliação vai ser difícil) na Rua "L", número 4-B, em Vila Medeiros, jurisdição da 19.a Delegacia.

Agora o caso. Foi assim: Herculano tinha lá suas razões para ofender Isaura com palavras de baixo calão (xingamento de nome de mãe, provavelmente) e Isaura achava que não ficava bem o amásio estar espinafrando assim seus antepassados.

Vai daí — palavrão vai, palavrão vem — pegou a arma que estava escondida debaixo da cama e agrediu Herculano. Este, mais robusto pouquinha coisa, desarmou-a e passou a usar a arma contra ela, e com tal apetite que Isaura foi parar no Hospital e Herculano deu no pé.

Mas, nas suas declarações em Distrito, onde foi aberto inquérito já relatado e enviado ao Fórum, Isaura foi mais explícita. Aqui está como saiu no jornal: "Isaura acusa o seu amásio Herculano de tê-la agredido a golpes de urinol, no interior de sua residência.

Esclareceu que quem empunhava o vaso noturno (bonito nome para uma valsa: vaso noturno), a princípio, era ela. Mas Herculano, mais forte, desarmou-a (diria melhor se dissesse 'desurinolizou-a') e passou a desferir seguidos golpes, ferindo-a bastante."

Vejam vocês que coisa prosaica. E ainda há quem diga que amantes vivem melhor que cônjuges. A senhora aí, madame, já imaginou se isto acontece com a senhora? Já imaginou depois, no Fórum, o interrogatório, com o Juiz empunhando a arma do crime? Que coisa prosaica, não é, dona?

 Como disse? Com a senhora não haveria perigo? Por quê? Debaixo da cama não"tem vaso noturno? Ah tem?

Já compreendemos, madame. Em cima da cama é que não costuma ter ninguém. Antes assim, dona. Melhor sozinha com o vaso noturno do que mal acompanhada.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

Somos bons de banho

Se fosse reportagem dessas revistas que ficam por aí batalhando pela exaltação do medíocre, ainda não levaríamos a sério. Mas trata-se de mensário norte-americano, dos mais metidos a besta. Nele é que está a reportagem sobre os costumes da higiene entre os povos, reportagem que chega a surpreendentes (lá pra eles, americanos) conclusões.

Segundo o que juntaram as estatísticas, entre os povos ditos civilizados, apenas os sulamericanos — e assim mesmo não é em todos os países desta América — possuem um balanço de mais de 50 por cento da população que se dá ao hábito do banho diário.

Vejam vocês que bonitinho: o Brasil figura na coisa. A gente, isto é, metade da gente se dá ao luxo do banho diário, num país onde as cidades principais sofrem de permanente falta dágua. Não é lindo? Você aí, toma banho todo dia? Sentiu bem! A senhora lá, também se dá ao ensaboado de 24 em 24? Perfeito, madame. Aliás, basta olhar para ver que a senhora tá limpinha.

Mas há os que se fazem de "estrangeiros", isto é, falcatruam o banho diário, prejudicando a estatística a favor do Brasil. O mensário não diz se a gente também é campeão mundial de banho, mas faz referências muito elogiosas ao povo brasileiro. Logo se não tivesse essa turma aí que faz que esqueceu de tomar banho, ou certas pessoas preguiçosas, que tomam o chamado de assento, que — diga-se a bem da verdade — não é banho dos mais pródigos em remover impurezas; se não existisse essa turma — repetimos — e mais outros que escondem sob o olor forte das essências a verdade odorífica do suor, o Brasil bem que poderia guardar mais este honroso título universal: Campeão Mundial de Banho.

E isto, é preciso que se frise mais uma vez, é estatística séria, feita pelos norte-americanos, que, depois de chiclete e dólares, têm adoração pelas estatísticas.

Agora, uma outra coisa é preciso fazer sentir: não nos iludamos a respeito de tão decantada higiene. Afinal, higiene é como mulher... quanto mais, melhor. E tem muita gente pela aí que não faz jus ao título.

Nosso querido Primo Altamirando, por exemplo, arranjou uma namorada que só vai ao banheiro para outros afazeres. Banho com ela é em suaves prestações mensais. Mas o nefando parente é sutil. Noutro dia chegou lá na casa dela com um embrulhinho e disse: — "Trouxe um presente para você usar no pescoço. Adivinhe o que é."

E quando a coitada, na voz de ser para usar no pescoço, disse que devia ser um colar, Mirinho deu uma gargalhada e falou: "Errou, sua boba. É um sabonete.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.